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Arca de Darwin

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

Arca de Darwin

31
Jul12

Cool it!

Arca de Darwin
O canal TVCine2 passa hoje às 21:30h o filme Cool it! (2010), do dinamarquês Bjorn Lomborg. Ele é autor do livro com o mesmo nome, traduzido para português com o título Calma! (2007), e é um dos indivíduos mais polémicos da actualidade.

A revista Time considerou-o uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, e o jornal britânico The Guardian uma das 50 personalidades que podem salvar o planeta. É licenciado e doutorado em Ciência Política e fundou o Conselho de Copenhaga – projecto que reúne economistas de renome com o objectivo de encontrar as melhores soluções para os problemas da humanidade. Mas o que o tornou famoso foi a publicação dos livros O Ambientalista Céptico (2001) e Calma!. Em Calma! defende que o Protocolo de Quioto é incapaz de travar o aquecimento global, e que o dinheiro gasto na redução de emissões de CO2 é melhor empregue em medidas que realmente salvem vidas, como o combate à má nutrição e a prevenção da sida e da malária.Em 2009 deu uma conferência no Green Festival, Estoril. Entrevistei-o nessa altura para a revista Gingko. Eis alguns excertos da conversa:Que objectivos tinha ao escrever O Ambientalista Céptico e Calma!?No essencial procurei incluir um sentido de proporção no debate climático, e no debate ambiental em geral. Não devemos pensar que tudo o que rodeia o aquecimento global é negativo e catastrófico. Na verdade, é um problema global, mas não é a catástrofe que muitos querem fazer crer. Ao termos sentido de proporção estaremos mais habilitados a definir prioridades correctamente.Qual foi o impacto dos seus livros?Certamente que fizeram com que muita gente ficasse ciente do problema. Claro que muitos outros ficaram agitados e disseram que não era verdade. Mas fiz todos os possíveis por demonstrar que não se trata de ideias malucas que tenha inventado, e que são dados resultantes da melhor investigação da actualidade. Os livros fizeram com que sejamos um pouco mais cuidadosos na tomada de decisões, e analisemos correctamente os factos, custos e benefícios. Mas não acabaram com o pânico: estamos apenas ligeiramente menos assustados.

Bjorn Lomborg. Foto: Roland Mathiasson

Considera-se capaz de salvar o mundo?Não. Posso ajudar ligeiramente a que o mundo seja um lugar melhor. O mundo não precisa de ser salvo. Precisa de ser um local infinitamente melhor, e em muitos aspectos. Um quinto da população vive numa pobreza abjecta, com condições medievais. Precisamos claramente de ajudar. Mas também temos muitos outros problemas ambientais - desde a poluição (interior, exterior, das águas), ao aquecimento global - que temos de solucionar. Espero que se consiga relativizar os vários problemas, que as pessoas compreendam que há soluções simples e baratas, que a luta contra as alterações climáticas é cara, que se faça mais gastando menos, mas tendo mais hipóteses de sucesso em criar um mundo melhor para os nossos filhos e netos.Há organizações internacionais - OMS, Cruz Vermelha, etc. - dedicadas a alguns desses problemas, má nutrição, sida, doenças tropicais, falta de comércio justo, etc. Porque é que não há soluções efectivas? Estarão essas organizações ultrapassadas? Será falta de vontade política? Ou de boa vontade?Não se trata de falta de boa vontade, nem de vontade política. O que há é falta de vontade em priorizar. No seio de organização como a OMS há muitas especialidades diferentes, como a imunização, doenças cardíacas ou saneamento básico. A maneira mais fácil de lidar com essa situação é destinar parte do orçamento para cada uma delas, de maneira a que ninguém se sinta lesado. Definir prioridades significaria que apenas uma, ou algumas, destas áreas receberiam fundos. Mas isso permitiria encontrar as melhores soluções, que são as que ajudariam o maior número de pessoas, o mais rápido possível, e da forma mais barata. E é nelas que deveríamos focar a nossa atenção e aplicar o dinheiro. O problema é que as pessoas não querem fazer essa escolha. Não querem dizer, por exemplo, que a água potável é neste momento mais importante do que as doenças cardíacas. Assim intervimos um pouco em todo o lado, mas não o suficiente nos locais onde realmente faríamos a diferença. Quanto à vontade política, o problema é que, num mundo mediatizado, infelizmente as pessoas que gritam mais alto, ou defendem os animais mais engraçados, ou contam as histórias mais assustadoras, são as que recebem mais atenção. Os problemas simples, e por isso mais aborrecidos, não recebem a atenção de que necessitam. Sida, má nutrição e imunização são assuntos aborrecidos comparados com o aquecimento global e os furacões, que são mais excitantes e interessantes para os media. Assim, preocupamo-nos muito mais com os problemas pelos quais, na verdade, pouco podemos fazer, e fazemos pouco com aqueles em que poderíamos fazer bastante.

Pachauri e Lomborg. Foto: Christian Fleming

Como reagiu quando ouviu as suas ideias serem comparadas com as de Hitler, tanto mais que a acusação foi feita por um prémio Nobel da Paz? Como é que mantém a calma?Ao fim e ao cabo, a maioria dessas pessoas tem boa vontade. Compreendo que fiquem agitadas. Provavelmente reagiria da mesma maneira quando era idealista e não olhava para os dados. É uma inclinação natural querer agir correctamente, e a preocupação e o combate ao aquecimento global fazem parte disso. Mas também é necessário saber quão eficazes somos a lidar com o aquecimento global. Pachauri comparou-me a Hitler quando se deparou com as minhas opiniões, mas, na realidade, ambos partilhámos um painel sobre o aquecimento global, há uns meses, na reunião Lindau [encontro anual de prémios Nobel e talentos internacionais, que fomenta a transferência de conhecimentos], na Alemanha, e ele acabou por respeitar as minhas opiniões e perceber que tenho boas intenções. Trocámos e-mails e ele até me convidou para ir à Índia. É claro que ainda discordamos em vários assuntos. Mas isto mostra que apenas é necessário tempo para que se perceba que não sou má pessoa e que é importante olhar para as minhas ideias porque possivelmente há assuntos que estamos a negligenciar, e é importante sermos inteligentes em relação às soluções que adoptamos.Defende que a solução para as alterações climáticas é o investimento em Investigação e Desenvolvimento (I&D). Porquê?As promessas e as políticas de redução de emissões de carbono não estão a resultar. Consegui-lo, e como não há tecnologia barata, custará muito dinheiro ao eleitorado. E isso significa perder eleições. A maioria dos políticos falará sobre o assunto mas não fará reduções significativas nas emissões de carbono. É um tema propício a bons discursos, mas isso não ajudará o clima. Se vamos cortar nas emissões a longo prazo, temos primeiro que encontrar fontes de energia limpa muito mais baratas, o que poderá alcançar com I&D, em 20 ou 30 anos. Nessa altura toda a gente, incluindo os chineses e os indianos, mudará para fontes de energia que não emitem carbono.Já criticou o plano norte-americano que destina 150 mil milhões de dólares às energias renováveis. A produção em massa de tecnologias verdes não é boa notícia?Sabemos que a produção em massa reduz custos. Mas se não reduzir os custos abaixo dos combustíveis fósseis não alcançaremos grande coisa. Significa, por exemplo, que as baterias dos carros eléctricos passam de incrivelmente caras para muito caras. Gastar dinheiro em produtos ineficientes não os torna eficientes. Preferia que estes 150 mil milhões fossem gastos no desenvolvimento de baterias mais eficientes, de modo a que daqui a 15 ou 20 anos a produção em massa as tornasse mais baratas que os combustíveis fósseis.
29
Jul12

Naturfunding: ajudar o Lobo e a Iniciativa Construção Sustentável

Arca de Darwin

A plataforma norte-americana de crowdfunding Indiegogo juntou-se ao portal português Naturlink (website ambiental com mais tráfego na Europa) e criou o Naturfunding. O objectivo é promover e financiar causas, iniciativas empresariais e/ou projectos criativos que contribuam para a conservação da natureza e para o uso sensato dos recursos naturais.

Os dois primeiros projectos em destaque são portugueses, e são ambos meritórios: Grupo Lobo e Iniciativa Construção Sustentável.

A campanha a favor da associação não governamental Grupo Lobo destina-se a adquirir os terrenos do Centro de Recuperação do Lobo-ibérico (CRLI), em Mafra, onde recentemente nasceram três crias desta espécie ameaçada. O CRLI corre risco de fechar. O Grupo Lobo trabalha há 25 anos para conservar o lobo-ibérico.

http://vimeo.com/46097650

Menos conhecido é o trabalho da Iniciativa Construção Sustentável, lançada em 2007. A campanha destina-se à produção de uma ferramenta online de boas práticas e a traduzir para inglês o livro Construção Sustentável.

http://vimeo.com/46295531

A arquitecta Livia Tirone é a coordenadora desta iniciativa. Entrevistei-a em 2010 para um artigo sobre o tema, publicado na revista Gingko. Eis algumas passagens desse texto que ajudam a perceber a importância deste tema:

Algo vai ter de mudar. “A qualidade da construção em Portugal, e em toda a região mediterrânica, é das piores da Europa”, acusa Livia Tirone, arquitecta especialista em construção sustentável, e presidente da equipa que, em 2000, no âmbito do Conselho de Arquitectos da Europa, definiu as políticas e directrizes da legislação europeia.

Entre os vários componentes que determinam a sustentabilidade de uma área urbana há três que, além de essenciais, permitem uma avaliação quantitativa: densidade, redes de distribuição e construção.

“A cidade sustentável é compacta e muito funcional. Ocupa bem o território – com alguma densidade populacional – e tem bons sistemas de transporte colectivos (transporte de águade energia,e de pessoas), diz Livia Tirone. A eficácia dos sistemas de transporte depende em parte da densidade. As cidades de baixa densidade, típicas nos EUA, impossibilitam a existência de bons transportes colectivos. Ou seja, numa cidade onde predominem vivendas ou prédios de três pisos as pessoas terão de deslocar-se em carros particulares e as redes de distribuição (água, electricidade, gás, esgotos) terão de ter maior extensão. No entanto, a densidade alta pode ser um entrave à qualidade de vida – basta que um apartamento nunca receba directamente a luz do Sol.

O último dos três componentes é a própria construção. Livia Tirone, autora da Torre Verde no Parque das Nações – edifício que mantém a temperatura interior entre os 20 e os 26 graus sem recurso ao aquecimento central – aponta as falhas mais comuns nas casas portuguesas: “Falta conforto acústico e térmico. Em muitos locais existem patologias de humidades e condensações que causam doenças. Isto é uma realidade que empobrece o país, e que tem de mudar”. A Certificação Energética dos Edifícios é um passo importante para melhorar a qualidade da construção.

Se os conhecimentos técnicos existem, por que é que não se constrói de forma sustentável? A resposta está na variedade de protagonistas do sector e nas responsabilidades de cada um deles. A lista é longa. As instituições europeias estabelecem directivas que os estados membros transpõem, ou não, e enquadram-nas nos seus regulamentos de edificação urbana. Também as autarquias possuem regulamentos próprios e poder de decisão sobre o que se pode construir. Na conferência “A escala do Homem no planeamento urbano”, que decorreu em Abril, em Lisboa, o arquitecto Klas Tham referiu que na Suécia “comprovou-se que dos políticos que dirigem o urbanismo apenas 30% compreendem as decisões que tomam”.

Para que uma cidade ou empreendimento funcione necessita de sistemas de abastecimento (água, electricidade, gás) que estão nas mãos das concessionárias. E o preço destes bens influencia o seu consumo. Para que um empreendimento veja a luz do dia precisa de financiamento das instituições bancárias. “Há vinte anos os bancos recusavam financiamento para empreendimentos sustentáveis. Consideravam um risco. Hoje as coisas não estão muito diferentes, mas a legislação sobre eficiência energética condiciona o que podem financiar ao nível da construção nova”, comenta Livia Tirone, que em 2004 foi nomeada administradora da Agência Municipal de Energia e Ambiente de Lisboa.

A fase da construção propriamente dita começa com os promotores imobiliários. “Têm papel muito importante porque podem pedir à equipa de projecto que conceba um empreendimento ou edifício classe A+”, esclarece Livia Tirone.

Mas Klas Tham não deposita grande esperança na maioria dos promotores imobiliários que, segundo ele, “não têm qualificações para transformar e planear o espaço em que vamos viver”. Tham também reconhece que os arquitectos “não estão a responder tão bem como deviam às necessidades das pessoas”. Livia Tirone explica porquê: “Alguns estiveram todos estes anos com a cabeça na areia à espera de que a moda da sustentabilidade passasse, para que não tivessem de se esforçar e aprender novas tecnologias. E continuamos a ter as prima-donnas deste país a trabalharem sozinhas nos projectos que, no final, enviam para os engenheiros, que então tratam do conforto e da acústica. Isto não funciona. Uma construção sustentável tem de ser desenvolvida em parceria”.

A engrenagem da construção depende ainda do empreiteiro, dos fornecedores de soluções construtivas (estores, caixilharias, etc.) e, por último, do consumidor, que decide que casa quer comprar.

 

28
Jul12

Os anos da borboleta

Arca de Darwin
É presença regular nos jardins urbanos, ainda que não seja abundante. Dá pelo nome Borboleta Maravilha (Colias cruceus) e é inconfundível: a parte inferior das asas é amarela esverdeada e possui na asa posterior uma pinta branca, que parece feita por uma gotinha de lixívia, e uma pinta preta na asa anterior. Assim que poisa fecha as asas, escondendo o tom alaranjado da face superior das asas. No entanto, 10% dos indivíduos apresenta a forma hélice, caracterizada por coloração mais pálida nas asas.

É uma espécie migradora que, em certos anos, atinge populações numerosas. Na Grã-Bretanha, onde a Borboleta Maravilha chama-se Clouded Yellow, referem-se a estes anos por Clouded Yellow Years,

Mede cerca de 45 milímetros de envergadura e prefere áreas abertas.
27
Jul12

Plumas

Arca de Darwin

 “O que é uma erva daninha? Uma planta cujas virtudes ainda não foram descobertas”, escreveu Ralph Waldo Emerson. Ora, o Jardin Plume, em França, já descobriu. No Plume – eleito Jardim do Ano de 2008 pela revista britânica Gardens Illustrated – as gramíneas são o motivo principal e cada talhão é um quadro único e irrepetível. Vale a pena espreitar as galerias das diferentes estações do ano no site  www.lejardinplume.com.

(Tirei a foto em baixo no jardim da Fundação Gulbenkian).

 
25
Jul12

A essência do Lobo - post convidado

Arca de Darwin

Texto e foto: Joaquim Pedro Ferreira, biólogo

Quando fotografas um animal como o lobo, o mais difícil é captar a sua essência, a personalidade no olhar. Nesta imagem a cria, apesar de ter o comportamento de animal jovem, tem já atitude de adulto.

A foto foi tirada em Espanha, na Serra da Culebra, num cercado de um enorme centro de recuperação e sensibilização ambiental. Os lobos reproduziram-se e as crias, ocasionalmente, já saíam da toca. Os animais estavam já algo habituados à presença humana e por isso a distância não foi um problema: fotografei a cerca de 60 metros. No entanto, estavam numa plantação recente de pinhal o que, além de obstruir a visão, criava alguma sombra. A cria da foto foi a única que não se escondeu ao sentir a nossa presença, e até avançou um pouco na nossa direcção, curiosa, com andar confiante. No futuro poderá ser um animal dominante. Esta foto também é importante porque combate uma certa imagem de terror que, por vezes, e erradamente, se associa aos lobos.

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