Cool it!
Bjorn Lomborg. Foto: Roland Mathiasson
Considera-se capaz de salvar o mundo?Não. Posso ajudar ligeiramente a que o mundo seja um lugar melhor. O mundo não precisa de ser salvo. Precisa de ser um local infinitamente melhor, e em muitos aspectos. Um quinto da população vive numa pobreza abjecta, com condições medievais. Precisamos claramente de ajudar. Mas também temos muitos outros problemas ambientais - desde a poluição (interior, exterior, das águas), ao aquecimento global - que temos de solucionar. Espero que se consiga relativizar os vários problemas, que as pessoas compreendam que há soluções simples e baratas, que a luta contra as alterações climáticas é cara, que se faça mais gastando menos, mas tendo mais hipóteses de sucesso em criar um mundo melhor para os nossos filhos e netos.Há organizações internacionais - OMS, Cruz Vermelha, etc. - dedicadas a alguns desses problemas, má nutrição, sida, doenças tropicais, falta de comércio justo, etc. Porque é que não há soluções efectivas? Estarão essas organizações ultrapassadas? Será falta de vontade política? Ou de boa vontade?Não se trata de falta de boa vontade, nem de vontade política. O que há é falta de vontade em priorizar. No seio de organização como a OMS há muitas especialidades diferentes, como a imunização, doenças cardíacas ou saneamento básico. A maneira mais fácil de lidar com essa situação é destinar parte do orçamento para cada uma delas, de maneira a que ninguém se sinta lesado. Definir prioridades significaria que apenas uma, ou algumas, destas áreas receberiam fundos. Mas isso permitiria encontrar as melhores soluções, que são as que ajudariam o maior número de pessoas, o mais rápido possível, e da forma mais barata. E é nelas que deveríamos focar a nossa atenção e aplicar o dinheiro. O problema é que as pessoas não querem fazer essa escolha. Não querem dizer, por exemplo, que a água potável é neste momento mais importante do que as doenças cardíacas. Assim intervimos um pouco em todo o lado, mas não o suficiente nos locais onde realmente faríamos a diferença. Quanto à vontade política, o problema é que, num mundo mediatizado, infelizmente as pessoas que gritam mais alto, ou defendem os animais mais engraçados, ou contam as histórias mais assustadoras, são as que recebem mais atenção. Os problemas simples, e por isso mais aborrecidos, não recebem a atenção de que necessitam. Sida, má nutrição e imunização são assuntos aborrecidos comparados com o aquecimento global e os furacões, que são mais excitantes e interessantes para os media. Assim, preocupamo-nos muito mais com os problemas pelos quais, na verdade, pouco podemos fazer, e fazemos pouco com aqueles em que poderíamos fazer bastante.
Pachauri e Lomborg. Foto: Christian Fleming
Como reagiu quando ouviu as suas ideias serem comparadas com as de Hitler, tanto mais que a acusação foi feita por um prémio Nobel da Paz? Como é que mantém a calma?Ao fim e ao cabo, a maioria dessas pessoas tem boa vontade. Compreendo que fiquem agitadas. Provavelmente reagiria da mesma maneira quando era idealista e não olhava para os dados. É uma inclinação natural querer agir correctamente, e a preocupação e o combate ao aquecimento global fazem parte disso. Mas também é necessário saber quão eficazes somos a lidar com o aquecimento global. Pachauri comparou-me a Hitler quando se deparou com as minhas opiniões, mas, na realidade, ambos partilhámos um painel sobre o aquecimento global, há uns meses, na reunião Lindau [encontro anual de prémios Nobel e talentos internacionais, que fomenta a transferência de conhecimentos], na Alemanha, e ele acabou por respeitar as minhas opiniões e perceber que tenho boas intenções. Trocámos e-mails e ele até me convidou para ir à Índia. É claro que ainda discordamos em vários assuntos. Mas isto mostra que apenas é necessário tempo para que se perceba que não sou má pessoa e que é importante olhar para as minhas ideias porque possivelmente há assuntos que estamos a negligenciar, e é importante sermos inteligentes em relação às soluções que adoptamos.Defende que a solução para as alterações climáticas é o investimento em Investigação e Desenvolvimento (I&D). Porquê?As promessas e as políticas de redução de emissões de carbono não estão a resultar. Consegui-lo, e como não há tecnologia barata, custará muito dinheiro ao eleitorado. E isso significa perder eleições. A maioria dos políticos falará sobre o assunto mas não fará reduções significativas nas emissões de carbono. É um tema propício a bons discursos, mas isso não ajudará o clima. Se vamos cortar nas emissões a longo prazo, temos primeiro que encontrar fontes de energia limpa muito mais baratas, o que poderá alcançar com I&D, em 20 ou 30 anos. Nessa altura toda a gente, incluindo os chineses e os indianos, mudará para fontes de energia que não emitem carbono.Já criticou o plano norte-americano que destina 150 mil milhões de dólares às energias renováveis. A produção em massa de tecnologias verdes não é boa notícia?Sabemos que a produção em massa reduz custos. Mas se não reduzir os custos abaixo dos combustíveis fósseis não alcançaremos grande coisa. Significa, por exemplo, que as baterias dos carros eléctricos passam de incrivelmente caras para muito caras. Gastar dinheiro em produtos ineficientes não os torna eficientes. Preferia que estes 150 mil milhões fossem gastos no desenvolvimento de baterias mais eficientes, de modo a que daqui a 15 ou 20 anos a produção em massa as tornasse mais baratas que os combustíveis fósseis.