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Arca de Darwin

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

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Arca de Darwin

22
Jul18

A cor do flamingo

Arca de Darwin

Há 6 espécies de flamingos. A que existe em Portugal é a maior e dá pelo nome de flamingo-comum (Phoenicopterus roseus). A espécie deste post (que fotografei este mês no Jardim Zoológico de Lisboa) é a que tem a cor mais intensa e é conhecida por flamingo-rubro (Phoenicopterus ruber).

Na verdade, todos os flamingos são acinzentados. A cor, que pode variar entre o cinzento e o vermelho, passando pelo famoso cor-de-rosa, resulta de pigmentos (conhecidos por carotenóides) que existem nos seres que eles consomem, como algas e crustáceos.

A dieta dos flamingos em cativeiro pode incluir uma "ração" suplementada com um pigmento (a cantaxantina) para manter vivas as cores, já que o sol esbate o tom destes pigmentos.

Este "truque" também serve para aumentar o sucesso reprodutor dos animais em cativeiro, pois as penas coloridas são factor de atracção.

E os flamingos sabem-no. Aqui ao lado, em Doñana, cientistas descobriram que os flamingos-comuns "maquilham-se" com pigmentos segregados por uma glândula localizada junto à cauda.

19
Jul18

A intrigante cauda do pavão

Arca de Darwin

Um ano depois de publicar A Origem das Espécies, a cauda do pavão continuava a preocupar Charles Darwin:"The sight of a feather in a peacock’s tail, whenever I gaze at it, makes me sick!"

Charles Darwin, 1860, numa carta dirigida ao botânico norte-americano Asa Gray

Como é que a cauda do pavão-indiano (Pavo cristatus), um empecilho à sobrevivência, foi seleccionada ao longo do tempo? Em A Origem das Espécies, Darwin defende que ela foi objecto de selecção sexual:"Quem já observou atenciosamente aves em cativeiro sabe bem que por vezes manifestam preferências e aversões pessoais; Sir Robert Heron notou que entre as suas aves havia um pavão multicolor que atraía todas as pavoas. (...) tendo em conta o seu ideal de beleza, não vejo por que razão havemos de duvidar que as aves fêmeas podem também conseguir resultados bem marcados nos seus descendentes, seleccionando, ao longo de milhares de gerações, os machos que consideram mais belos ou mais melodiosos."No início do século XX o biólogo inglês Ronald Fisher explicava que as fêmeas preferem machos com "ornamentações exageradas", neste caso, caudas enormes e vistosas (e, no início da evolução da espécie, as caudas maiores até poderiam ser vantajosas durante o voo). Mais tarde, em 1975, o biólogo israelita Amotz Zahavi interpretou a preferência das fêmeas através daquilo a que chamou de Princípio da Desvantagem, ou seja, se um determinado macho consegue sobreviver com tal empecilho, então terá bons genes.Em 1991, a bióloga Marion Petrie estudou pavões que viviam em liberdade em Inglaterra, e concluiu que quantos mais "olhos" (ocelos) tivesse o leque de um pavão, maior seria o seu sucesso reprodutor. Em 2013, Roslyn Dakin e Robert Montgomerie concluíram que, mais do que o número de ocelos, o importante são as cores e o ângulo em que são exibidos às fêmeas.De facto, quando estão a pavonear-se, os machos abanam o leque de um lado para o outro. A verdade é que as cores das penas deve-se mais à arquitectura do que aos pigmentos, o que também acontece com penas e asas de outros animais (nomeadamente em borboletas e quando se trata da cor azul ‒ este vídeo é muito interessante).Para terminar, convém dizer que a escolha das fêmeas também é influenciada pelas vocalizações dos machos (algumas indetectáveis pelos ouvidos humanos). Há vocalizações para atrair as fêmeas e há outras realizadas durante a cópula. Curiosamente, Dakin e Montgomerie descobriram que os machos costumam "fingir" as segundas, para que as fêmeas que estão longe pensem que eles são sexualmente muito activos.

18
Jul18

Ganso-do-egipto: cada vez mais abundante

Arca de Darwin

O ganso-do-egipto (Alopochen aegyptiacus) já teve direito a vários posts na Arca (descrição da espécie: aqui; reprodução e crias: aqui e aqui; posts convidados: aqui e aqui). Este mês voltei a encontrá-lo. Em Lisboa já os vi na Quinta das Conchas, Gulbenkian, Jardim Zoológico e Jardim Botânico Tropical

Ganso-do-egipto, Lisboa, Julho de 2018

É possível que alguns exemplares sejam visitantes ocasionais, mas o mais provável é que a maioria dos que entretanto estabeleceram-se (e reproduziram-se) de norte a sul do país tenham tido origem em aves que fugiram do cativeiro.

Distribuição do ganso-do-egipto na Península Ibérica. Dados referentes aos últimos 10 anos. Imagem retirada do site e-bird.