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Arca de Darwin

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

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Arca de Darwin

05
Nov18

Serra de Sintra – Depois do fogo

Arca de Darwin

Quase um mês depois do incêndio na Serra de Sintra, as ervas que crescem na terra preta devolvem alguma cor à área a oeste da Peninha. As copas e os troncos ardidos, agora expostos à chuva e ao vento, criam manchas incaracterísticas na paisagem, como se de um quadro se tratasse. Mas o cheiro a queimado que ainda se entranha na roupa e a neblina típica de Sintra, que evoca uma fase de rescaldo, lembram-nos o inferno das chamas que devoraram a encosta.

02
Nov18

Nos tempos em que não existia a palavra AZUL

Arca de Darwin

Na linguagem, primeiro surgem as palavras para designar o preto e o branco, depois o vermelho e finalmente o amarelo e o verde. A palavra "azul" vem depois. E até que haja uma distinção entre "azul" e "verde" não surgirão termos para designar o violeta, o castanho, o cor-de-rosa, o cor-de-laranja e o cinzento. Isto aconteceu com as línguas que nos são mais familiares, mas ainda acontece com algumas menos familiares. Por exemplo, em japonês, tailandês e coreano a mesma palavra designa a cor verde e a cor azul. Em vietnamita, a palavra xanh é igualmente usada para descrever a cor das folhas e a cor do céu. Já os russos têm palavras distintas para "azul claro" e "azul escuro", mas não para "azul".

No romance A Sociedade dos Sonhadores Involuntários, José Eduardo Agualusa descreve o resultado da ausência de "azul" na pintura e na literatura: "Os antigos gregos, como os chineses ou os hebreus, não tinham uma palavra destinada a designar a cor azul. Para todos eles o mar era verde, acastanhado ou cor de vinho. Eventualmente, negro. Na pintura ocidental o mar só começou a ser representado a azul no século XV. Também o céu não era azul. Poetas descreviam-no como rosado, ao amanhecer; incendiado, ao lusco-fusco; leitoso, nas melancólicas manhãs de inverno."

Todo este conhecimento chegou até nós graças à obsessão de William Gladstone (1809-1898), primeiro-ministro britânico, pelo poeta grego Homero (séc. IX a.C. – séc. XVIII a.C.), autor de Íliada e de Odisseia. Em 1858, Gladstone começou por notar as estranhas descrições de Homero na Odisseia: o mar era cor de vinho, o mel era verde, as ovelhas eram violeta!

Gladstone mergulhou no poema e encontrou quase 200 referências ao preto, cerca de 100 ao branco, menos de 15 ao vermelho e ainda menos ao amarelo e ao verde. Azul? Nada. Tal como não aprecia em outros textos da Grécia Antiga.

O filósofo alemão Lazarus Geiger (1829-1870) prosseguiu o trabalho de Gladstone e concluiu que a palavra "azul" também não existia em textos de outras culturas antigas, como nas sagas islandêsas ou contos chineses.

O surgimento tardio na linguagem da palavra para designar a cor azul está relacionado com a escassez de "azul" na Natureza. "Escassez" de pigmentos, claro, porque entre o céu e o mar há uma imensidão de azul.

É importante relembrar a resposta à famosa pergunta: Porque é que o céu é azul? A luz "branca" do Sol é a soma de várias cores. Quando entra na atmosfera, a luz vermelha, que tem o maior comprimento de onda (620 a 750 nanómetros) visível, passa incólume entre os átomos de oxigénio e azoto. Os comprimentos de onda menores – azul (450–495 nm) e violeta (380–450 nm) – chocam com os átomos de oxigénio e de azoto e espalham-se pela atmosfera, originando a cor azul do céu. A este fenómeno chama-se Dispersão de Rayleigh. E porque é que o céu não é violeta? Por causa dos cones que temos nos olhos, que são mais sensíveis ao azul do que ao violeta.

Ora, entre os animais, a cor azul resulta de engenharia, e não de pigmentos, e também é explicada pela Dispersão de Rayleigh, tal como a cor azul dos olhos dos humanos. (Este vídeo explica as diferentes arquitecturas que permitem a cor azul, e refere o único animal capaz de produzir um pigmento azul: a borboleta Nessaea obrinus.) Já as plantas, para obter a rara cor azul, usam um pigmento vermelho e executam umas habilidades que envolvem alterações de pH.

Assim, com tão pouco azul para admirar na Natureza e aparentemente sem fontes de pigmentos, não é de estranhar que a palavra "azul" tarde em aparecer na linguagem. Na verdade, parece que a palavra "azul" só surge quando uma sociedade é capaz de produzir o pigmento equivalente. Daí que a única cultura antiga onde é mencionada a palavra "azul" seja a Egípcia, que em 2500 a.C. produziu o primeiro pigmento sintético da História: o Azul Egípcio, também conhecido por silicato de cobre e cálcio.

O lápis-lazúli, que no século XIV a.C. foi usado para adornar a máscara fúnebre de Tutancámon, há muito que era minerado no Afeganistão. Esta rocha semi-preciosa foi muito utilizada para fazer vários tipos de adornos e, moída, originava um pigmento que serve para produzir tintas. Já agora, a nossa palavra "azul" vem do "lazúli".

Na Europa, as primeiras tintas azuis de origem vegetal foram fabricadas com a planta conhecida por pastel (Isatis tinctoria), cujas flores são amarelas. Na Ásia usaram a Indigofera tinctoria, cujas flores são cor-de-rosa ou violeta, que resultava na cor indigo (anil, 420–440 nm).

Os Romanos tinham várias palavras para diferentes tons de azul. Entre elas, caeruleus e cyaneus, que podemos encontrar nos nomes científicos de algumas das nossas aves, como o chapim-azul (Parus caeruleus), o peneireiro-cinzento (Elanus caeruleus) a pega-azul (Cyanopica cyana) e o tartaranhão-azulado (Cyrcus cyaneus). Outras duas palavras tornaram-se mais comuns: azureus, que originou o nosso conhecido azure; e blavus, que originou o blue e o bleu.

À parte: Associado a este tema há vários textos na Internet onde é sugerido que não conseguiríamos ver a cor azul (ou outra qualquer cor) se não tivéssemos uma palavra para a definir. Estou convencido de que conseguiríamos. Tais textos aludem a uma suposta experiência com a tribo Himba, da Namíbia. Num conjunto de 11 quadrados verdes e um azul, teriam muita dificuldade em identificar o quadrado diferente. Num conjunto com 11 quadrados verdes e um de outro tom de verde (quase imperceptível para nós), seriam lestos a apontar o quadrado diferente. Ao contrário do que é dito, os himbas não têm muitos mais termos para definir tons de verde. Na verdade, têm apenas cinco termos para definir cores, e, sim, parecem usar a mesma palavra para verde, azul e violeta. Não encontro qualquer referência à publicação de um estudo que inclua o teste dos quadrados.

01
Nov18

Fritilária-comum ("Melitaea deione")

Arca de Darwin

A fritilária-comum (Melitaea deione) tem nome de planta liliácea, mas é uma borboleta da família Nymphalidae. Por esta altura está a fazer as últimas aparições, já que habitualmente voa entre Março e Outubro.

Fritilária-comum, São Pedro do Sul

Em Portugal existe de norte a sul. A espécie também está presente em Marrocos, Espanha, França e nos Alpes (Suíça e Itália). Tem duas gerações por ano, excepto nos Alpes, onde só tem uma. Gosta de campos floridos e zonas com arbustos na orla de bosques. Mede 3,2 a 4,4 centímetros de envergadura.

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