Todos já usámos as palavras "malmequer" e "margarida" e, quando éramos crianças, provavelmente arrancámos as pétalas de uma flor enquanto jogávamos ao "Bem me quer... mal me quer". Mas será que sabemos a diferença entre as duas flores? Existirão diferenças? Serão flores?
Tanto o malmequer como a margarida pertencem à ordem Asterales e à família Asteraceae, que são chamadas de plantas compostas: a flor típica que sempre desenhámos, com um disco central e pétalas na periferia. Ora, na verdade, a "flor" não é uma flor mas uma inflorescência: o "centro" é formado por inúmeras flores tubulosas e as "pétalas" não são verdadeiras pétalas, mas sim flores com um prolongamento de um dos lados (a que se chama lígula). Este tipo de inflorescência (flores agrupadas sobre um receptáculo) tem o nome de capítulo.
Antes de avançar para a distinção entre as duas "flores" convém ter presente que os nomes comuns não têm significado "biológico". Pensemos na última orquídea aqui apresentada, a Cephalanthera longifolia, que não tem nome comum em português, e na espécie Tropaeolum majus, que é conhecida por chaga, capuchinha, cinco-chagas, nastúrcio, agrião-do-méxico, flor-de-sangue e mastruço. Sendo certo que ambas existem, o que as identifica em qualquer parte do mundo é o nome científico (que, para isso, é escrito numa língua morta). Ou então pensemos no jogo referido anteriormente e que em Portugal chama-se "Bem me quer... mal me quer", mas cuja versão original — a francesa — dá pelo nome de "Effeuiller la marguerite", que é como quem diz, "Desfolhar a margarida".
Então, qual a diferença entre as duas asteráceas? A resposta mais simples que muitos peritos darão é que, em geral, as margaridas são brancas e os malmequeres são amarelos. Não sei até que ponto a diferença de nomes estará relacionada com o uso de flores em efemérides. (Como os "malmequeres" (Chrysanthemum sp.), ou crisântemos, foram sendo associados ao Dia de Finados, as "margaridas" terão ficado para outras datas mais alegres).
Mas a distinção pela cor talvez tenha que ver com a própria palavra Chrysanthemum, que significa "flor-sol" ou "cor de ouro". Estas flores já eram cultivadas na China no século XV a.C. O selo imperial do Japão, adoptado em 1183, é um crisântemo amarelo.
A associação entre o género Chrysanthemum e o nome comum malmequer parece promissora. De facto, quando pesquisamos "malmequer" no diccionário online da Porto Editora, aparece a espécie Chrysanthemum coronarium. Mas há dois problemas. O primeiro é que a definição refere: 1 — "designação comum, extensiva a diferentes plantas da família das Compostas, que se destacam pelas flores delicadas, geralmente de centro amarelo e corola branca, que inclui espécies também conhecidas por bem-me-quer, margarida, etc." 2 — "... Chrysanthemum coronarium (...) com flores amarelas ou com base amarela e lígulas brancas." E a verdade é que o C. coronarium tanto pode ter lígulas brancas como amarelas.
No mesmo diccionário, "margarida" é: 1 — "designação comum, extensiva a diferentes plantas da família das Compostas, que se destacam pelas inflorescências, geralmente com recetáculo amarelo e pétalas brancas ou coloridas, sendo também conhecidas por bem-me-quer, bonina, malmequer, etc.; margarita." 2 — "(Bellis perennis) planta herbácea, da família das Compostas, espontânea em Portugal, tem folhas de margens serreadas e capítulos de flores liguladas, brancas, vermelhas ou variegadas."
Bellis perennis é a espécie tipo do género Bellis, que em Portugal tem quatro espécies. E se pesquisarmos "margarida" no site Flora On (da Sociedade Portuguesa de Botânica), aparecem as quatro espécies. O nome comum inglês da Bellis perennis é Daisy (vem de "day's eye"), que traduzido para português é margarida.
Apesar de alguns percalços, como a dualidade cromática do C. coronarium, podemos dizer que os malmequeres são amarelos e pertencem ao género Chrysanthemum, e que as margaridas são brancas e pertencem ao género Bellis.
O problema é que se pesquisarmos "malmequer" no Flora On aparecem 33 espécies de 16 géneros diferentes: umas brancas, outras amarelas; umas raras, outras comuns; umas nativas, outras exóticas; umas com flores liguladas, outras sem; umas conhecidas por malmequer, outras por margarida.