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Arca de Darwin

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

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Arca de Darwin

29
Nov20

Bufa-de-velha ("Lycoperdon perlatum")

Arca de Darwin

O cogumelo Lycoperdon perlatum tem vários nomes comuns bem divertidos: bufa-de-velha, bexiga-de-lobo, peido-de-lobo, fungo-de-sapo ou ventosidades-do-demónio.

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A razão para isto é a nuvem de esporos que é libertada através de uma abertura na parte superior quando são atingidos por uma gota de chuva (ou por um piparote). Cada cogumelo pode libertar mais de 1 milhão de esporos.

 

Quando as bufas-de-velha são jovens, o aspecto exterior começa por ser branco e com espinhos, e depois escurece, adquirindo um tom castanho-acinzentado, e perde os espinhos, ficando a superfície pontuada por "cicatrizes" redondas.

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Quando ainda são jovens (e, portanto, brancos) estes cogumelos são comestíveis, mas parece que o sabor não é grande coisa.

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É uma espécie muito frequente em azinhais, sobreirais e pinhais.

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O chapéu mede entre 2 e 4 centímetros.

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28
Nov20

Dióspiro ("Diospyrus kaki")

Arca de Darwin

Entre Outubro e Dezembro os diospireiros (Diospyrus kaki) despedem-se das folhas e dão as boas-vindas aos frutos arredondados. Os ramos praticamente despidos salientam ainda mais a beleza da cor intensa dos dióspiros, que varia entre o amarelo-alaranjado e o vermelho.

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Há várias variedades. As menos adstringentes (por exemplo: Fuyo, Fau-fau e Sharon) podem ser ingeridas após a colheita, mas convém deixar amadurecer as mais adstringentes (Coroa-de-rei, Kaki e Roxo-brilhante).

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Além de bonito e saboroso, o dióspiro também faz bem à saúde. Segundo o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, da DGS, a riqueza em taninos do dióspiro "confere-lhe um elevado potencial antioxidante, e diversos estudos relacionam a sua presença com a diminuição do risco de doença cardiovascular e de alguns tipos de cancro". Já as fibras "favorecem a regulação do funcionamento intestinal e das glicemias, promovem a saciedade e diminuem os níveis de colesterol total e de colesterol LDL".

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25
Nov20

Cabo da Roca a preto-e-branco

Arca de Darwin

Sabemos de cor que o Cabo da Roca, em Sintra, é o ponto mais ocidental da Europa continental. Mas sabe qual é o ponto mais oriental? (Resposta no fim do post.)

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Se contarmos com as ilhas, o ponto mais ocidental da Europa continua ser português e fica nos Açores: ou é o Ilhéu de Monchique, a oeste da Ilha das Flores (mas que fica na placa tectónica norte-americana), ou é o vulcão dos Capelinhos, no Faial. Já o ponto mais oriental é o Cabo Flissingsky, na Rússia.

Se não contarmos com as ilhas, mas apenas com o continente, é natural que nunca tenha ouvido falar do ponto mais oriental, pois fica no meio de nenhures, na Montanha Ngodyayakha, República Komi (uma das repúblicas pertencentes à federação russa). No entanto, em Agosto de 2019, o Centro Russo para o Árctico determinou a localização exacta e colocou um marco no local para assinalar o extremo leste do continente europeu. Pode ver aqui uma fotografia do acontecimento.

24
Nov20

O cogumelo que matou o imperador Cláudio

Arca de Darwin

Os cogumelos das duas fotos em baixo pertencem ao mesmo género, Amanita, mas a duas espécies que não podiam ter propriedades "culinárias" mais diferentes. A primeira espécie, Amanita caesarea, conhecida por amanita-dos-césares, cogumelo-dos-césares, amanita-real ou laranjinha, é um verdadeiro petisco que até pode ser comido cru (comi um — colhido por um especialista, pois eu não me atrevo a tentar distinguir as espécies comestíveis das que o não são — com um pouco de sal, azeite e tomilho) e que além-fronteiras chega a custar entre algumas dezenas e algumas centenas de euros por quilo. A segunda, Amanita phalloides, conhecida por cicuta-verde ou chapéu-da-morte, é o cogumelo mais tóxico existente em Portugal: a dose letal é de cerca de 0,1 mg/kg de peso corporal.

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Os sintomas começam 6 a 24 horas após a ingestão e incluem náuseas, vómitos, diarreia, febre, taquicardia, hipoglicemia, hipotensão. Estes sintomas diminuem passadas 24 horas, mas regressam ao fim de 72 horas. A fase mais aguda ocorre 4 a 5 dias após a ingestão, altura em que poderá ser necessário um transplante de fígado. Sem ele, a morte poderá ocorrer 7 a 10 dias após a ingestão. Nas últimas décadas, com os avanços médicos, a taxa de mortalidade baixou para entre 25 e 50 por cento.

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A amanita-dos-césares tem um chapéu convexo a plano, cor de laranja e tem pé e lamelas amarelos. A cicuta-verde também tem chapéu convexo a plano, mas verde-acinzentado, e tem lamelas brancas. Ambas são originárias da Europa (embora a A. caesarea esteja mais restrita à Europa do Sul e exista no Norte de África). Ambas desenvolvem-se a partir de uma volva branca. E ambas foram figura central de um dos episódios mais famosos (e com consequências mais dramáticas) da Roma Antiga.

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Tibério Cláudio César Augusto Germânico — interpretado por Derek Jacobi na série televisiva de 1976 Eu, Cláudio, adaptada do romance de Robert Graves com o mesmo nome — nasceu em 10 a.C., na Gália. Ele foi o terceiro filho de Nero Cláudio Drusus (não o Nero pirómano que cantava enquanto Roma ardia, mas o irmão do imperador Tibério) e de Antónia Minor (filha de Marco António e Octávia) e estava longe de personificar o ideal de beleza romana — tinha o rosto desfigurado, babava-se, o nariz escorria, era um pouco surdo, gago e coxo (de maneira terrivelmente premonitória o nome Cláudio deriva do verbo claudicar, que significa coxear). A mãe achava-o um monstro, a família troçava dele, desconsiderava-o e mantinha-o afastado da esfera pública. Mas mantinha-o, o que, só por si e naquele ambiente, era já uma enorme sorte.

Na adolescência, Cláudio foi revelando interesse e jeito pela História. Os sintomas suavizaram-se e a família percebeu que ele não era totalmente idiota, e em 7 d.C. contratou o historiador Lívio para seu tutor.

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Busto do imperador Cláudio. © Marie-Lan Nguyen / Wikimedia Commons

Cláudio destacou-se enquanto historiador, mas a sua visão dos factos nem sempre agradava à sua família. Ainda assim, e sob o manto protector da sua inferioridade física, ele foi escapando às purgas políticas, primeiro de Tibério de depois de Calígula. E pelo meio foi coleccionando esposas.

Calígula, sobrinho de Cláudio, foi assassinado em Janeiro de 41, em consequência de uma conspiração entre a Guarda Pretoriana e alguns senadores. Seguiu-se o caos e mais alguns assassínios, e avançou-se a hipótese de restaurar a República — o que retiraria poder à Guarda Pretoriana. Cláudio, o último homem adulto da sua família, fugiu para o Palácio. A Guarda Pretoriana encontrou-o escondido atrás de um cortinado e… nomeou-o imperador (e assim começa a tradição de "os quebrados" vencerem a guerra pelo trono).

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Proclamação de Cláudio como Imperador (1867), pintura de Lawrence Alma-Tadema.

Cláudio deixou obra feita. Pôs as contas em dia, expandiu o império (a conquista da Bretanha, algo que nem Júlio César conseguira, foi um marco importante e ele esteve presente na etapa final), permitiu que não italianos fizessem parte do Senado e tornou ilegal matar escravos sem justificação. Durante o seu governo — talvez por continuar a ser visto como fraco — teve de eliminar mais de 400 conspiradores que o queriam derrubar. Entre eles contavam-se Messalina — a sua terceira mulher e mãe do seu filho Britânico e da sua filha Cláudia Octávia — e o seu último amante. "Último" porque a infidelidade de Messalina era lendária. Plínio, o Velho, no Livro X da sua História Natural, relata uma competição entre Messalina e uma prostituta para ver qual se deitava com mais homens num período de 24 horas. Messalina venceu com um total de 25.

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A quarta esposa de Cláudio, Agripina, era sua sobrinha e tinha um filho, Nero (sim, esse Nero), de um casamento anterior. O sonho de Agripina era que o seu filho se tornasse imperador, e esse sonho ficou mais perto de se realizar quando conseguiu que Cláudio adoptasse o futuro incendiário, que era mais velho do que Britânico e que entretanto casou com… Cláudia Octávia! Só faltava remover Cláudio da equação.

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Cláudio, tal como outros imperadores, era grande fã do cogumelo Amanita caesarea — diz-se que quando encontrava um ainda dentro da volva, deixava um membro da Guarda Pretoriana junto dele a guardá-lo até que estivesse pronto a comer. Na verdade, ele era grande fã de comer. Como escreve Suetónio em As Vidas dos Doze Césares: “Em qualquer altura ou lugar, estava sempre pronto para comer e beber (…). Abandonava quase sempre as refeições inchado de comida e bebida e depois deitava-se de costas, de boca aberta, enquanto lhe colocavam uma pena na garganta para lhe aliviar o estômago”.

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Reza a história que Agripina terá pedido cogumelos venenosos — os A. phalloides que, quando cozinhados, têm cor suficiente para passar por A. caesarea — à famosa envenenadora Locusta, e que terá convencido o eunuco provador de Cássio, Halotus, a colocá-los no prato ao lado dos A. caesarea. Cláudio ingeriu os cogumelos no dia 12 de Outubro de 54. No dia seguinte surgiram os sintomas: dor de barriga extrema, vómitos, salivar excessivo, dificuldade em respirar, hipotensão e diarreia. Cláudio terá então chamado o seu médico, Xenofonte, que também estava em conluio com Agripina. Para acabar o "serviço", e segundo o historiador Tácito, Xenofonte terá administrado mais um veneno a Cláudio, embebido numa pena que usou para o fazer regurgitar (outros relatos apontam para um veneno amargo que, para não levantar suspeitas, terá sido administrado através de um enema). Cláudio morreu nesse mesmo dia: 13 de Outubro de 54. Tinha 64 anos.

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No ano seguinte, Britânico iria completar 14 anos a 13 de Fevereiro, atingindo a maioridade. Na véspera, por via das dúvidas, Nero envenenou-o. Em 59, Nero enviou um oficial para matar Agripina, a sua mãe. Diz-se que ela terá pedido ao oficial para lhe trespassar o útero com a espada, pois fora dali que Nero nascera. E Cláudia Octávia? Sim, Nero também a mandou matar.

Para terminar, saiba que um artigo publicado em 2002 no Journal of the Royal Society of Medicine, sugere uma outra interpretação para o relato de Tácito: a pena foi usada porque Cláudio não estava a vomitar. Os sintomas do imperador eram, ao invés, condizentes com doença cerebrovascular, e terá sido essa a causa da morte.

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16
Nov20

As cores das folhas no Outono

Arca de Darwin

A variedade de cores das folhas no Outono deve-se a diferentes pigmentos. Isto é particularmente evidente nos liquidâmbares (Liquidambar styraciflua) — árvore originária da América do Norte e América Central — cujas folhas, por esta altura, explodem numa profusão de cores intensas que vão desde o verde que traziam do Verão e da Primavera, ao roxo que assinala a última etapa da vida destas estruturas.

liquidambar 1.jpgEm algumas folhas são bens visíveis as diferentes cores e os tons intermédios.

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As folhas verdes devem a sua cor à clorofila, o pigmento responsável pela fotossíntese. Nos meses de Primavera e de Verão, a clorofila transforma a luz solar e o dióxido de carbono em oxigénio e hidratos de carbono (açúcar), que servem de alimento à planta durante a fase de crescimento e de frutificação.

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Como a clorofila é instável, tem de ser constantemente produzida pela planta, o que se torna inviável à medida que os dias ficam mais pequenos e a temperatura desce. É nesta fase que se começa a bloquear o acesso de água e nutrientes à folha.

Assim, chegado o Outono, a árvore entra num período de dormência e passa a viver da energia que armazenou nos meses anteriores. Na ausência da clorofila, outros dois tipos de pigmentos que já existiam nas folhas — e que são mais estáveis do que a clorofila — tornam-se visíveis: as xantófilas (amarelas, presentes, por exemplo, nas bananas) e os carotenos (cor de laranja, presentes, por exemplo, nas cenouras).

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Quando o fim da linha se aproxima outra cor desponta, o vermelho e o roxo, mas neste caso o pigmento responsável — a antocianina, que também dá a cor vermelha às maçãs, morangos e arandos — não estava presente nos meses mais quentes, mas é agora sintetizado por via da acumulação de açúcares.

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Finalmente surge o castanho, quando já só restam os taninos e a folha está quase morta.

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15
Nov20

Gaiola-de-bruxa e outros cogumelos da Quinta das Conchas

Arca de Darwin

Os cogumelos são extremamente fotogénicos. É como se fossem mini-árvores numa mini-floresta dentro da própria floresta, um mundo escondido à vista de todos.

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As duas fotos seguintes mostram um cogumelo que, infelizmente, já estava parcialmente destruído quando o encontrei. Mas optei por incluí-lo neste post porque é raro encontrar esta espécie, que dá pelo nome de Clathrus ruber e que é conhecida por clatro-vermelho, gaiola-de-bruxa ou lanterna-das-bruxas — o fungo tem a forma de esfera rendilhada. Outra característica deste cogumelo — e que rapidamente se torna evidente — é que exala um cheiro nauseabundo! Este odor provém da gleba, a parte interna, negra, que produz os esporos.

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Seguem-se mais alguns exemplos da diversidade de fungos na Quinta das Conchas, em Lisboa.

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