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Arca de Darwin

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

Arca de Darwin

22
Jun12

E se não houvesse pardais?

Arca de Darwin
O pardal (Passer domesticus) dispensa apresentações. Damos como garantida a sua presença nas nossas cidades. Mas o que aconteceria se ele desaparecesse? O cenário parece pouco plausível. No entanto, foi exactamente o que aconteceu em Londres, Inglaterra.

Foto: Luís Miguel Fernandes

Se nas áreas rurais o efectivo da espécie diminui para metade desde os anos 70, nas cidades sofreu uma queda de 60%. Um estudo de 2002 realizado pela Royal Society for the Protection of Birds (RSPB) - maior organização de conservação da natureza da Europa com 1 milhão de membros e 20 000 voluntários - concluiu que a ave estava praticamente extinta no centro da capital inglesa, onde anos antes era abundante. Na altura 10 000 londrinos participaram na iniciativa “Para onde foram todos os pardais?”. Agora, de 18 de Junho a 12 de Julho, os habitantes da cidade e várias ONGA (organização não governamental ambiental) voltam a unir esforços numa tentativa de mapear eventuais avistamentos da espécie, na esperança de que ainda seja possível recuperá-la.

Foto: Luís Miguel Fernandes

Para tal, precisarão de descobrir as causas da extinção, as quais ainda estão por apurar. Em 2002 o jornal The Independent até ofereceu uma recompensa de 5 000 libras a quem encontrasse uma explicação científica para o desaparecimento dos pardais. “Houve quem sugerisse que deveu-se ao aumento de predadores, como pegas, gaviões e gatos. Outros culparam a falta de insectos que fazem parte da dieta dos pardais, como afídeos, ou até doenças e a radiação dos telemóveis”, recorda o The Independent.Esperemos que desta vez se descubra a razão e que se consiga recuperar a população deste pássaro.

Foto: Luís Miguel Fernandes

Três notas sobre as fantásticas fotos que ilustram este post:1)     O autor é Luís Fernandes, e foram tiradas num parque em Paris. Obrigado Luís!2)     Elas mostram que é possível tirar fotos fantásticas com espécies comuns, e nas cidades;3)     Os machos têm um babete preto, capacete acinzentado e têmporas castanhas com tons de vermelho. As fêmeas têm cor mais uniforme, castanha-acinzentada. Consegue distinguir os dois sexos?
17
Abr12

Os amigos da osga

Arca de Darwin

Mais duas notas sobre as osgas. A primeira é que quando cresce uma cauda nova, esta apresenta um padrão uniforme e não listado (como se vê na imagem).

A segunda é que, apesar de inofensivas e de se alimentarem de insectos incómodos para nós, como moscas e mosquitos, as osgas são muito perseguidas.

É pois de louvar o projecto de voluntariado científico Salvem as Osgas, iniciado em 2009 pelo Conselho de Estudantes de Biologia de Évora (CEBE), que tem o propósito de estudar, monitorizar e conservar as populações eborenses de osga-turca e osga-comum. De então para cá já publicaram um trabalho científico na revista Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, realizaram um filme e editaram o livro A minha amiga osguita. Este livro é peça fundamental nas acções de sensibilização que fazem junto das crianças, nas escolas da região.

14
Abr12

A propósito do caso Portucale

Arca de Darwin

Esta semana ficou marcada por mais um crime ambiental – abate de mais de 2000 sobreiros – que escapou impune. Num país onde estes actos são frequentes é importante lembrar o trabalho meritório de quem luta em defesa da natureza, como é o caso da Associação Árvores de Portugal, criada em 2009 com o intuito de divulgar, dignificar e proteger o património arbóreo de Portugal.

Certas árvores têm estatuto de protecção semelhante ao do património edificado. São as árvores de interesse público, que se distinguem pelo porte, desenho, idade, raridade, importância cultural ou histórica. Este estatuto confere à planta uma área de protecção num raio de 25 metros e obriga a que qualquer intervenção na árvore ou no solo careça de autorização da Autoridade Florestal Nacional (AFN). É a esta entidade pública que se deve dirigir as candidaturas, por escrito, acompanhadas de uma foto e da descrição pormenorizada do local onde a árvore se encontra.

Entre outras iniciativas, a Associação Árvores de Portugal, e contabilizando apenas o primeiro ano de actividade, solicitou à AFN a classificação de 15 árvores, das quais quatro foram aceites e apenas uma rejeitada.

Caso conheça uma árvore que preencha um dos requisitos anteriores pode propô-la a interesse público. Se tiver dúvidas em relação ao pedido de classificação, ou sobre os méritos da árvore que admira, contacte a Associação Árvores de Portugal, que conduzirá o processo por si.

No Porto, até Dezembro de 2004, havia apenas 4 árvores classificadas de interesse público. Em 2005, e por sugestão das associações ambientais Campo Aberto e Núcleo de Defesa do Meio Ambiente de Lordelo do Douro, o número subiu para 240. No início desta década existiam 367 árvores classificadas na Invicta.

Quanto à árvore nas imagem, trata-se de uma melaleuca (Melaleuca armillaris) que vive no jardim Eng. Luís Fonseca, em Setúbal. A rara beleza desta escultura viva deve-se à acção dos ventos marinhos que, há 150 anos, lhe moldam os troncos de forma tortuosa. O interesse público do seu valor estético foi reconhecido em 2009. A espécie é originária da Austrália, onde é incompreensivelmente conhecida por árvore-do-chá. Satisfazer o hábito preferido dos ingleses não consta dos seus predicados, mas as propriedades terapêuticas do seu óleo são muito apreciadas.

 

11
Abr12

O novo Zoo

Arca de Darwin

O Jardim Zoológico de Lisboa está muito diferente. A mudança de estratégia começou em meados dos anos 90 do século passado. Por essa altura o Zoo não só iniciou um trabalho de melhoria das instalações e condições de vida dos animais, mas também aderiu ao Programa Europeu de Espécies Ameaçadas (EEP). Hoje todos os indivíduos de espécies ameaçadas que vivem na instituição estão de alguma forma incluídos num projecto de conservação

Objectivo? Evitar a consanguinidade e atingir um número de indivíduos suficiente para funcionar como reserva a que se possa recorrer no caso de a espécie se extinguir na natureza.

Uma dessas espécies é o saguim-imperador (Saguinus imperator). Na árvore da vida, o saguim-imperador (na foto) está no mesmo ramo que o Homem – o dos primatas –, mas seis galhos ao lado. É uma bola de pêlo com 25 centímetros (mais os 35 da cauda), pesa cerca de 500 gramas, e tem bigodes curvos, maiores do que a cara, semelhantes aos do imperador alemão Guilherme II, facto que está na origem do seu nome.

Ao actual ritmo de destruição do seu habitat e de captura para fazerem dele animal de estimação, o saguim-imperador estará brevemente em perigo, como já acontece com o seu primo saguim-bicolor (Saguinus bicolor). A boa notícia é que o pequeno primata adaptou-se muito bem ao clima luso e, desde a sua chegada em 2005, reproduz-se  quase todos os anos.

Como vive em grupos que geralmente não ultrapassam oito indivíduos, a maioria das crias terá de abandonar o zoo. Mas antes terão de assistir ao nascimento de outra ninhada, para aprenderem cuidados parentais. Isto é muito importante para as fêmeas, e também para os machos, já que ambos terão de carregar os filhotes. Porquê? “As crias nascem com cerca de 60 gramas, o que é muito peso para transportar por um só progenitor. É como se os nossos bebés nascessem com 12 kg”, explicou-me José Dias, curador do Zoo.

Apesar do nome, os EEP também contemplam espécies que não estão seriamente ameaçadas. É o caso do golfinho-comum (Tursiops truncatus), também conhecido por roaz-corvineiro, com estatuto de conservação Pouco Preocupante, e que tem papel fundamental no zoo como embaixador dos oceanos.

Entre outras iniciativas, o zoo já cedeu animais para reintroduções na natureza.

 

11
Abr12

Atracção por zoos

Arca de Darwin

Gosto de visitar jardim zoológicos. Sim, preferia que os animais não estivessem enjaulados e detesto vê-los a andar para trás e para a frente, em claro sofrimento, o que ainda acontece com algumas espécies no zoo de Lisboa.

Há várias razões para nós, humanos, gostarmos de visitar zoos. Por exemplo, os cientistas japoneses Taketo Sakagami e Mitsuaki Ohta concluiram que visitar um zoo diminui significativamente a pressão arterial e o stresse. O estudo de 2009 baseou-se numa amostra de 133 pessoas. Soube deste estudo através do artigo Por que é que gostamos de zoos (vale a pena ler), da poeta, ensaísta e naturalista Diane Ackerman, publicado em Fevereiro no The New York Times. Ackerman é autora de The Zookeeper’s Wife, livro onde conta a história real de um casal de tratadores do zoo de Varsóvia, Polónia, que salvou centenas de judeus durante a Segunda Guerra Mundial escondendo-os nas jaulas. Outra razão, apontada por Ackerman, é “derramar parte do fardo de sermos humanos”.

Um outro estudo, realizado nos Estados Unidos (2007), avaliou o impacto do papel dos zoos e grandes aquários na promoção da conservação junto dos visitantes. Eis alguns resultados:

  •      Os visitantes reconsideram o papel que podem desempenhar em questões ambientais e referentes à conservação, e passam a ver-se como parte da solução;
  •     Os visitantes acreditam que os zoos e aquários desempenham papel importante na conservação;
  •    Os visitantes sentem-se mais ligados à natureza;
  •    Os visitantes adquirem mais conhecimentos sobre conceitos ecológicos do que o que estavam à espera.
Então, qual é o papel dos zoos na conservação? Veja o post seguinte.

03
Abr12

Recuperação extraordinária

Arca de Darwin

O caimão (Porphyrio porphyrio) é uma das aves mais bonitas, imponentes e ameaçadas da nossa fauna. A primeira vez que ouvi falar deste bicho foi durante o curso de biologia, no início dos anos noventa. Numa visita de estudo à Ria Formosa, no Algarve, o professor informou-nos que se tratava de uma das espécies mais raras do país, e que apenas existiam cerca de vinte indivíduos. “Vamos ali ao campo de golfe ver se encontramos algum”, disse-nos. Por mais estranho que pareça, a verdade é que ao fim de dois ou três minutos lá encontrámos um, a passear descontraidamente pelo green, por certo confiando na perícia dos golfistas.

Décadas antes o caimão habitava uma vasta área da costa portuguesa, do Algarve até ao Baixo Mondego. A caça e a transformação das zonas húmidas que habitava em terrenos agrícolas quase dizimaram a sua população. O declínio da agricultura a partir dos anos 80 devolveu-lhe o habitat e, aos poucos, com a chegada de indivíduos vindos do estrangeiro, a população algarvia recuperou. Na Reserva Natural do Paúl de Arzila, iniciou-se em 1998 um projecto de conservação que incluiu reprodução em cativeiro, reintrodução e melhoria do habitat. Actualmente a espécie já reocupou a área histórica de distribuição.