27
Mai14
Antropoceno (post convidado)
Arca de Darwin
TEXTO (e origami): SANDRA MONTEIRO*
*Directora do Le Monde Diplomatique - edição portuguesa
A criação de uma consciência mundial que dê prioridade à reestruturação da economia e das sociedades, de modo a que as actividades humanas possam harmonizar-se com a sustentabilidade ambiental, exige que os cidadãos deixem de ser essencialmente responsabilizados por comportamentos e decisões individuais, como consumidores, e adquiram uma renovada capacidade de influenciar as escolhas políticas que podem garantir essa harmonização.A actual confluência entre a crise económico-social e a crise ambiental mostra bem a necessidade de os cidadãos participarem na construção de um programa unificado que contrarie a espiral de recessão económica, regressão social e alterações climáticas desastrosas. Esse programa de keynesianismo ecológico, ou «New Deal Verde» (Robert Pollin), assenta em planos públicos de investimento capazes de dinamizar a procura interna e o crescimento económico. Planos que potenciam a máxima criação de emprego justamente por estarem associados a uma «economia limpa»: a que reestrutura os edifícios para lhes melhorar o comportamento térmico e a eficiência energética; a que aposta numa rede inteligente de transportes públicos; a que aposta nas fontes de energia renováveis (eólica, solar e biomassa) reduzindo as emissões de dióxido de carbono. As medidas que podem evitar a catástrofe ambiental são as mesmas que evitam a catástrofe social. Precisa o mundo de mais crise para tomar consciência disso?