Darwin e os pombos
“Persuadido que vale sempre mais estudar um grupo específico, decidi-me, após madura reflexão, pelos pombos domésticos. Tenho tratado todas as raças que pude obter por compra ou por outra maneira (...). Em todas as línguas se têm publicado tratados sobre pombos; algumas destas obras são muito importantes, pois que ascendem à mais remota antiguidade. Associei-me a muitos criadores importantes e faço parte dos dois «Pigeons-clubs» de Londres. A diversidade das raças de pombos é verdadeiramente admirável”, exclama Darwin.
Os pombos, apesar da (merecida) má fama por destruírem pinturas de carros, roupas, estátuas e fachadas, tiveram grande importância na concepção da Teoria da Evolução, e Darwin dedica-lhes várias páginas em A origem das espécies: “Por considerável que seja a diferença que se observa entre as diversas raças de pombos, estou completamente da opinião comum dos naturalistas que os fazem descendentes do Pombo torcaz (Columbia livia), compreendendo debaixo deste termo muitas raças geográficas, ou subespécies, que só diferem umas das outras por pontos insignificantes”. Mais à frente lê-se: “(...) quando comecei a tratar dos pombos e a observar as diferentes espécies, eu estava também pouco disposto a admitir (sabendo com que fidelidade as diversas raças se reproduzem), que derivassem todas de uma única espécie mãe”. E, no final do capítulo dedicado aos pombos, lança o repto: “Os naturalistas que sabem bem menos que os tratadores sobre as leis da hereditariedade, que não sabem mais a respeito dos elos intermédios que ligam entre si longas séries genealógicas, e que, contudo, admitem que a maior parte das nossas raças domésticas derivam de um mesmo tipo, não poderiam tornar-se um pouco mais prudentes, e não zombarem da opinião de que uma espécie, no estado natural, pode ser a posteridade directa de outras espécies?”.