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Arca de Darwin

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

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Arca de Darwin

24
Set23

«Fome» — memorial em Dublin

Arca de Darwin

É impossível ficar indiferente a este conjunto de sete estátuas de bronze (seis figuras humanas e um cão). Elas causam uma impressão profunda. Assombram-nos. O sofrimento e o desespero que transmitem abrem uma janela para o período mais dramático da história irlandesa, 1845–1849, que ficou conhecido como a Grande Fome.

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Durante este período, mais de um milhão de irlandeses morreram de fome e cerca de dois milhões emigraram. Em 1844, a população irlandesa contabilizava 8,4 milhões habitantes e em 1851 apenas 6,6 milhões. Em 1921, quando a Irlanda se tornou independente, a Irlanda tinha cerca de metade da população do início da década de 1840.

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Este memorial, intitulado «Famine» («Fome») e inaugurado em 1997, pretende homenagear as pessoas que tiveram de emigrar devido à fome. É da autoria do escultor irlandês Rowan Gillespie. O local onde se encontra — junto ao Custom House Quay (Cais da Alfândega), no rio Liffey, com a réplica do navio Jeanie Johnston, que funciona como museu da fome, em pano de fundo — está carregado de significado.

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Foi dali que no dia de São Patrício (17 de março) de 1846 partiu o primeiro navio, o Perseverance, com emigrantes para Nova Iorque. As docas de Dublin foram o destino de muitas mais pessoas. Como explica uma placa junto às estátuas:

«No final de maio de 1847, no auge da Grande Fome, 1490 rendeiros da propriedade Mahon iniciaram uma caminhada extenuante de 165 quilómetros de Strokestown até às docas de Dublin.

Eles faziam parte de um esquema de emigração assistida organizada pelo seu senhorio, o major Denis Mahon. Um número incontável de emigrantes não sobreviveu para ver o seu destino final, o Canadá. Mais de metade dos que viajaram a bordo dos «navios-caixão», Naomi e Virginus, morreram no mar. Muitos dos que sobreviveram à dura viagem sucumbiram à febre pouco depois de chegarem à Ilha Grosse, no Quebeque. Dos 1940 que saíram de Strokestown, mais de um terço nunca chegou à sua almejada nova vida no Novo Mundo.

O National Famine Way (Caminho Nacional da Fome) é um trilho de caminhada de 165 quilómetros marcado digital e fisicamente. Este trajeto comemorativo liga o Museu Nacional da Fome no Parque Strokestown com as estátuas «Famine» de Rowan Gillespie e a réplica do navio Jeanie Johnston no Cais da Alfândega em Dublin. Ele encoraja os caminhantes a seguirem os passos dos 1490 rendeiros, percorrendo o mesmo trajeto que eles palmilharam no «Negro 47» de Strokestown até Clondra e ao longo das margens do Canal Real até às docas de Dublin. A sua história e o trajeto do National Famine Way podem ser encontrados em www.nationalfamineway.ie».

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Antes da “Grande Fome», os irlandeses mais pobres — quase metade da população —dependiam quase exclusivamente da batata para a sua alimentação. Os rendeiros, que praticavam uma agricultura de subsistência devido às diminutas dimensões dos seus lotes e à falta de qualidade do solo em algumas regiões. A batata era resistente, nutritiva, calórica e fácil de cultivar no solo irlandês. Para sobreviverem, os rendeiros apenas cultivavam uma ou duas variedades de batata: as que proporcionavam um maior rendimento. A falta de variabilidade genética deixou as colheitas expostas ao perigo de doenças.

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Em 1845, o míldio da batateira, o fungo Phytophthora infestans, que terá chegado acidentalmente da América do Norte, começou a surgir nas plantações de batatas um pouco por todo o país, destruindo as folhas e os tubérculos (as batatas) da planta. Se no primeiro ano a perda foi apenas parcial, entre 1846 e 1849 as colheitas foram quase totalmente destruídas.

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A falta de ajuda por parte de Inglaterra levou ao número de mortos e à emigração já mencionados. O facto de o governo inglês não ter proibido a exportação de alimentos produzidos na Irlanda neste período foi uma enorme fonte de descontentamento, contribuindo para agravar o sentimento antibritânico e para alimentar o desejo de independência.

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Quando visitei a Kilmainham Gaol (a prisão Kilmainham), agora um museu — vale bem a pena, e convém marcar com alguma antecedência —, o guia contou que, durante a Grande Fome, muitas pessoas cometiam pequenos crimes que as levassem para a prisão, pois era dos poucos sítios onde se podia ter acesso a uma batata e, talvez, a um pouco de leite.

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Diz-se que as ondas de choque da Grande Fome fazem-se sentir ainda hoje. Na visita à prisão percorremos alguns episódios da história da independência, à qual a Grande Fome estará sempre ligada, nomeadamente o episódio da Revolta da Páscoa de 1916, visitando a capela onde um dos revoltosos, Joseph Plunkett, casou com Grace Gifford (que também estava presa ali — a sua cela está identificada e pode-se espreitar pelo visor e ver os desenhos que ela ali fez; mais tarde, em 1930, ela ilustraria o livro  The Words upon the Window Pane de W. B Yeats) horas antes de ser executado, as celas onde os revoltosos ficaram, o pátio onde, a 16 de maio, 14 deles foram fuzilados por ordem do governo britânico, mas não foi o governo britânico que puxou os gatilhos. «Irlandeses a matar irlandeses», diz o guia com uma profunda tristeza na vós. à medida que a visita avança pela história, pergunto-lhe como está a relação com os norte-irlandeses. «Há alguns avanços em resultado de alguns acordos.» E o que espera para o futuro? «Nós esperamos, e tencionamos, ter todo o nosso país de volta.»

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