Letreiros de néon (e não só)
Quando o químico russo Dmitri Mendeleev criou a primeira versão da Tabela Periódica, em 1869, ela continha apenas 62 dos 118 elementos agora conhecidos. A Tabela tinha lugares vazios, correspondentes a diferentes números atómicos (número de protões) que os cientistas tentavam preencher através da descoberta de novos elementos.
Em 1898, o químico escocês Sir William Ramsay — que já descobrira vários gases nobres como o árgon, o hélio e o crípton — procurava o elemento que preencheria o espaço vazio entre o hélio e o árgon. Em parceria com o químico inglês Morris Travers, trabalhavam com um pedaço de árgon sólido que envolveram em ar líquido. O árgon evaporou-se e eles recolheram o primeiro gás que se formou. Quando o aqueceram, emitiu um brilho inesperado. «O clarão de luz carmesim que irradiava do tubo contava a sua própria história e era uma visão cativante e inolvidável», escreveu Travers.
O filho de Ramsay, de 13 anos, sugeriu que baptizassem o novo elemento de «novum». Ramsay optou pela formação grega da palavra em detrimento da latina e chamou-lhe néon.
Anos mais tarde, o químico e inventor francês Georges Claude inventou a iluminação néon ao usar uma descarga eléctrica num tubo fechado que continha este gás. As lâmpadas de néon fizeram a sua primeira aparição em 1910 numa exposição em Paris. Em 1912, Claude instalou o primeiro letreiro publicitário de néon numa barbearia da Boulevard Montmartre, em Paris. Em 1923, Claude levou os seus letreiros para os EUA, e o sucesso foi quase imediato.
Ora, como Travers relatou, a luz produzida pelo néon é vermelha-alaranjada. Como os primeiros letreiros continham néon, foi este gás que baptizou este tipo de iluminação. Mas depois surgiram letreiros de todas as cores (e isto sem falar da actual explosão dos LED). Como é isso possível? Além de usar vidros coloridos, de duas maneiras principais. A primeira é que diferentes gases produzem diferentes cores. «O hélio ou o sódio, por exemplo, produzem uma luz alaranjada, o árgon uma luz cor de alfazema, o crípton um branco azulado ou um verde amarelado, e para o azul pode usar-se xénon ou vapor de mercúrio», lê-se no livro Elementar: A Tabela Periódica Explicada, de James Russell (Vogais, 2020).
A segunda é revestir os tubos com pós fluorescentes, que podem produzir dezenas de cores.
Na semana passada, ao percorrer o Bairro Alto, encontrei vários bares e restaurantes que continuam a usar os néons como publicidade ou decoração. Estes letreiros já não têm a importância de outros tempos, mas de certa forma voltaram a ser um sinal de modernidade. Se quiser matar saudades desses outros tempos, saiba que a exposição Luzes da Cidade — que reúne letreiros que enfeitavam as lojas de Lisboa, mas também algumas de Almada, Porto e Coimbra —regressará à Stolen Books de 13 de Agosto a 6 de Setembro de 2020.
«(...) When my eyes were stabbed by the flash of a neon light
That split the night
And touched the sound of silence
(...)
And the people bowed and prayed
To the neon god they made
And the sign flashed out its warning
In the words that it was forming
And the sign said
The words of the prophets are written on the subway walls
And tenement halls
And whispered in the sound of silence»
The Sounds of Silence, Simon & Garfunkel (1965)