Memorial de Oscar Wilde (Dublin)
O memorial do escritor Oscar Wilde (1854–1900) no Merrion Square Park, em Dublin, na Irlanda, destila irreverência e originalidade — na pose, nas cores, nos materiais —, refletindo bem o espírito do homem que disse de si mesmo: «Eu sou daqueles que são feitos para ser a exceção, não para seguir a lei».
O Merrion Square Park foi o local escolhido para receber o memorial porque mesmo ali ao lado, no n.º 1 da Merrion Square, fica a casa de infância de Wilde.
Da autoria do escultor inglês Danny Osborne, o memorial é composto por três esculturas. A de maior relevo representa o próprio Wilde. Quanto às de menor dimensão, uma representa a mulher de Wilde, Constance Lloyd, grávida, e a outra o deus do vinho e do teatro, Dionísio (ou Baco). Estas duas últimas assentam sobre pilares onde estão inscritas frases de poemas de Wilde, mas a caligrafia não é a dele: são cópias de caligrafias de figuras de vulto da sociedade irlandesa, como o poeta Seamus Heaney e o atual presidente da Irlanda — e poeta e sociólogo — Michael Higgins.
Algumas das frases que ali se encontram são:
«Parece-me que todos olhamos demais para a natureza e vivemos muito pouco com ela.»
«Toda a arte é completamente inútil.»
«Estamos todos na sarjeta, mas alguns de nós estamos a olhar para as estrelas.»
As duas estátuas sobre os pilares são feitas de bronze e granito. Já a estátua de Wilde, que assenta num bloco de quartzo das vizinhas Montanhas Wicklow, é uma autêntica sociedade das nações: o torso é feito de jade verde do Canadá e rosalina cor-de-rosa da Noruega; as pernas são feitas de granito azul da Noruega e os sapatos de charnoquito preto da Índia com atacadores de bronze. A gravata do Trinity College — que também fica mesmo ali ao lado — é feita de porcelana. A cabeça original, feita de porcelana, não resistiu ao teste do tempo e começou a ficar rachada, pelo que, em 2010, foi substituída por uma outra de jadeíte.
O Trinity College:
O memorial em homenagem ao autor do romance O retrato de Dorian Gray e da peça A importância de ser Earnest, entre outras peças e ensaios, foi inaugurado em 1997. Surpreendentemente, quase cem anos depois da sua morte, este memorial foi o primeiro do género na Irlanda a celebrar a vida do escritor, poeta e dramaturgo que foi julgado e condenado a dois anos de prisão com trabalhos forçados (de 1895 a 1897) por «indecência grosseira» devido a ter relações sexuais com homens jovens. Sobre esta «demora», em 1998, a historiadora da arte Paula Murphy escreveu: «Foram precisos quase cem anos para que uma entidade irlandesa, pública ou privada, se arriscasse a sugerir que talvez pudéssemos considerar Oscar Wilde merecedor de uma tal comemoração. Mas, afinal de contas, foi necessário o mesmo período de tempo para que a Irlanda acordasse, relutantemente, para a existência da sexualidade e a realidade da maneira como ela dita um estilo de vida».
Os habitantes de Dublin têm o hábito de carinhosamente atribuir às estátuas de que gostam alcunhas mais ou menos atrevidas, mas sempre em rima. A estátua de Wilde não fugiu à regra: «The Queer with the Leer» alude à homossexualidade do escritor e ao olhar de soslaio.
Por curiosidade, enquanto observo a estátua, um esquilo passa com uma castanha na boca junto a mim e aos outros turistas que ali estão e desaparece por trás da estátua de Wilde (o esquilo das fotos deve ser outro, pois estava na outra ponta do parque). O escritor terá passado muito tempo durante a sua infância neste mesmo local, e os esquilos aparecem várias vezes nos seus textos, nomeadamente nos destinados ao público juvenil, como acontece em O Fantasma de Canterville: «Os esquilos espreitavam entre os ramos das árvores e os coelhos fugiam apressados através do matagal, com a cauda branca em riste».
O homem que disse que «Pensar é o que há de menos saudável, e morre-se disso como de qualquer outra doença» morreu em Paris, de meningite, aos 46 anos.