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(continuação) Bellis e Baker, da Universidade de Manchester, concluíram que a quantidade de esperma retido na vagina depende do momento em que a mulher atinge o orgasmo. Se este ocorrer 1 minuto antes de o homem ejacular, ou até 45 minutos depois, a maioria do esperma fica retido. Ao invés, a quantidade retida é mínima se ocorrer mais de um minutos antes do homem, ou se, lamentavelmente, não ocorrer. A retenção também aumenta com o tempo de abstinência.Em seguida, os dois biólogos ingleses realizaram 4 mil entrevistas a mulheres e verificaram que 55% das que eram fiéis tinham orgasmos do tipo mais fértil. Este valor descia para 40% nas relações sexuais das mulheres infiéis com os maridos. Já com os amantes, 75% dos orgasmos eram de alta retenção. Muitos evolucionistas argumentam que o aumento da probabilidade de fecundação, provocado pelo orgasmo tardio durante o sexo, é a única explicação científica para a existência do prazer na mulher. Um
artigo publicado em 2011 na
New Scientist refere outras razões (como reforçar os laços entre o casal), apenas para citar um estudo que refuta uma delas – a que propõe que o orgasmo feminino anda à boleia do masculino, isto é, os genes que determinam este “produto” muito adaptativo para os homens também estão presentes nas mulheres.Outro resultado surpreendente obtido por Bellis e Baker foi que, ainda que não fosse premeditado, as mulheres faziam sexo com os amantes (em geral, mais “atraentes” ou com maior “estatuto social” do que o marido) na altura do mês em que eram mais férteis. Perante esta descoberta os dois biólogos encararam com naturalidade os resultados de testes genéticos a famílias de dois bairros ingleses: mais de 20% dos habitantes não eram filhos dos supostos pais. (Já repararam que, quando um casal tem um bebé, a família da mulher tende a dizer que ele é parecido com o marido?)
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Ora, como os dois sexos evoluíram em conjunto, é de esperar que os homens apresentem também algumas particularidades associadas ao sexo que respondam a estas características das mulheres. De facto, e tal como acontece com os ratos, a quantidade de esperma produzido é maior se, por exemplo, a mulher estiver a trabalhar fora durante o dia, do que se estiverem juntos. Além disso, há espermatozóides cuja função é destruir ou bloquear a passagem de outros.Todos estes dados sugerem uma base genética para a infidelidade. Em 2004, médicos ingleses encontraram uma tendência clara para gémeos idênticos – que partilham os mesmos genes – serem ambos fiéis ou ambos infiéis..No fundo, a espécie humana tem um sistema de acasalamento semelhante ao das aves coloniais, mas com capacidade de adaptar-se à disponibilidade de recursos, com níveis de “infidelidade” correspondentes aos esperados para primatas com testículos de tamanho médio (os gorilas têm testículos pequenos porque há um macho que domina um harém; os chimpanzés têm testículos grandes porque vivem em grupos e vários machos poderão partilhar uma mesma fêmea).É claro que a racionalidade distingue os humanos dos restantes animais, e a sociedade ocidental condena o adultério. Porém, também é verdade que esta condenação sempre foi mais drástica em relação às mulheres (um homem enganado investe recursos para criar genes que não são dele), e muitas adúlteras foram condenadas à morte.Por tudo isto, Matt Ridley diz que “o adultério e a sua desaprovação são ambos ‘naturais’”.