Há espécies monogâmicas e há outras poligâmicas, ou seja, há espécies em que durante a época de reprodução cada indivíduo mantém apenas um parceiro sexual – as monogâmicas – e outras em que um indivíduo tem vários parceiros. A forma mais habitual de poligamia é a poligínia, situação em que um macho tem duas ou mais fêmeas. O oposto, a poliândria, é mais rara, mas também acontece, como prova a atribulada vida amorosa do maçarico-das-rochas (
Actitis hypoleucos).
Maçarico-das-rochas (Actitis hypoleucos), Seixal
Esta ave mede cerca de 20 centímetros e tem plumagem castanha no dorso e no babete, e branca no resto do corpo. A maneira mais fácil de a distinguir é através da reentrância branca entre o ombro e o babete. O maçarico-das-rochas é um pilrito (família Scolopacidae), ou seja, é uma daquelas pequenas, frenéticas e estridentes limícolas que percorrem a zona entre marés de rios e praias.
De volta à poliândria, há
evidências de que este sistema de acasalamento ocorre em populações de maçarico-das-rochas, embora esteja mais bem documentado com o seu primo maçarico-maculado (
Actitis macularia).
Maçarico-das-rochas (Actitis hypoleucos), Corroios
A razão para a existência deste tipo de sociedade na natureza não é clara. As duas hipóteses mais aceites para esta inversão do habitual papel de machos e fêmeas são que a poliândria surge quando ocorrem flutuações dramáticas na disponibilidade de alimento, ou que ocorre em populações sujeitas a forte pressão de predadores.
No primeiro caso, a fêmea poderá estar demasiado debilitada para se ocupar dos cuidados parentais, pelo que o macho terá de os assegurar. “Se a disponibilidade de alimentos aumentar, a fêmea poderá realizar uma nova postura, noutro ninho e com outro macho”, lê-se em
Perspectives on Animal Behavior. No segundo caso, os machos terão de proteger o ninho para assegurar a sobrevivência da descendência. Se as fêmeas encontrarem outro parceiro também elas aumentam a probabilidade de se reproduzirem com sucesso.É esta segunda hipótese que explica a poliândria do maçarico-maculado numa pequena ilha no Minnesota, Estados Unidos, onde os roedores consumiam cerca de 40% dos ovos e, num dado ano, um único vison-americano destruiu todas as posturas das fêmeas. “A predação intensa sobre o maçarico-maculado leva à aglomeração de indivíduos em áreas mais protegidas e aumenta os benefícios associados a várias posturas”, concluem os autores de
Perspectives on Animal Behavior, referindo-se aos resultados dos estudos no Minnesota.
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Já a primeira hipótese justificará a poliândria na espécie humana: “Parece desenvolver-se sob condições de extrema pobreza, em que vários homens precisam reunir os seus recursos para comprar ou sustentar uma esposa, ou em que o infanticídio feminino é praticado como meio de controlar o crescimento da população. Este último costume não tarda a produzir um excesso de indivíduos masculinos”, referiu o antropólogo Edward Burns, em
História da Civilização Ocidental.A poliândria ocorre(u) em populações da Índia, Nepal, Tibete, Butão...