Danças africanas, ontem ao final do dia, na Praça do Comércio, em Lisboa.
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Domingo o céu estava nublado. O Tejo, visto de cima, alternava entre tons esbranquiçados, cinzentos e azuis pálidos. A meio da Ponte 25 de Abril era fácil perder os barcos numa imensidão de água ou emoldurá-los entre as barreiras da ponte. Aos poucos, Lisboa lá foi entrando no enquadramento. "Cidade prateada semeada de Tejo", como lhe chama Adília Lopes.
Nathanael G. Herreshof
"Laranja, peso, potência. Que se finca, se apoia, delicadeza, fria abundância. A matéria pensa. As madeiras incham, dão luz"Herberto Hélder
"You must not know too much or be too precise or scientific about birds and trees and flowers and watercraft; a certain free-margin, or even vagueness ― ignorance, credulity ― helps your enjoyment of these things."
Walt Whitman, em Specimen Days
O Ano Novo chinês começou no dia 5 de Fevereiro, sob o signo do Porco. Em Lisboa as comemorações foram muito variadas e incluíram o já habitual desfile no sábado, que começa na Av. Almirante Reis e termina na Alameda.
Muita cor, música (tanto chinesa como portuguesa "tocada" em chinês), arte, boa disposição, e simpatia, bem patente nos acenares e sorrisos permanentes dirigidos a quem assistia.
Na linguagem, primeiro surgem as palavras para designar o preto e o branco, depois o vermelho e finalmente o amarelo e o verde. A palavra "azul" vem depois. E até que haja uma distinção entre "azul" e "verde" não surgirão termos para designar o violeta, o castanho, o cor-de-rosa, o cor-de-laranja e o cinzento. Isto aconteceu com as línguas que nos são mais familiares, mas ainda acontece com algumas menos familiares. Por exemplo, em japonês, tailandês e coreano a mesma palavra designa a cor verde e a cor azul. Em vietnamita, a palavra xanh é igualmente usada para descrever a cor das folhas e a cor do céu. Já os russos têm palavras distintas para "azul claro" e "azul escuro", mas não para "azul".
No romance A Sociedade dos Sonhadores Involuntários, José Eduardo Agualusa descreve o resultado da ausência de "azul" na pintura e na literatura: "Os antigos gregos, como os chineses ou os hebreus, não tinham uma palavra destinada a designar a cor azul. Para todos eles o mar era verde, acastanhado ou cor de vinho. Eventualmente, negro. Na pintura ocidental o mar só começou a ser representado a azul no século XV. Também o céu não era azul. Poetas descreviam-no como rosado, ao amanhecer; incendiado, ao lusco-fusco; leitoso, nas melancólicas manhãs de inverno."
Todo este conhecimento chegou até nós graças à obsessão de William Gladstone (1809-1898), primeiro-ministro britânico, pelo poeta grego Homero (séc. IX a.C. – séc. XVIII a.C.), autor de Íliada e de Odisseia. Em 1858, Gladstone começou por notar as estranhas descrições de Homero na Odisseia: o mar era cor de vinho, o mel era verde, as ovelhas eram violeta!
Gladstone mergulhou no poema e encontrou quase 200 referências ao preto, cerca de 100 ao branco, menos de 15 ao vermelho e ainda menos ao amarelo e ao verde. Azul? Nada. Tal como não aprecia em outros textos da Grécia Antiga.
O filósofo alemão Lazarus Geiger (1829-1870) prosseguiu o trabalho de Gladstone e concluiu que a palavra "azul" também não existia em textos de outras culturas antigas, como nas sagas islandêsas ou contos chineses.
O surgimento tardio na linguagem da palavra para designar a cor azul está relacionado com a escassez de "azul" na Natureza. "Escassez" de pigmentos, claro, porque entre o céu e o mar há uma imensidão de azul.
É importante relembrar a resposta à famosa pergunta: Porque é que o céu é azul? A luz "branca" do Sol é a soma de várias cores. Quando entra na atmosfera, a luz vermelha, que tem o maior comprimento de onda (620 a 750 nanómetros) visível, passa incólume entre os átomos de oxigénio e azoto. Os comprimentos de onda menores – azul (450–495 nm) e violeta (380–450 nm) – chocam com os átomos de oxigénio e de azoto e espalham-se pela atmosfera, originando a cor azul do céu. A este fenómeno chama-se Dispersão de Rayleigh. E porque é que o céu não é violeta? Por causa dos cones que temos nos olhos, que são mais sensíveis ao azul do que ao violeta.
Ora, entre os animais, a cor azul resulta de engenharia, e não de pigmentos, e também é explicada pela Dispersão de Rayleigh, tal como a cor azul dos olhos dos humanos. (Este vídeo explica as diferentes arquitecturas que permitem a cor azul, e refere o único animal capaz de produzir um pigmento azul: a borboleta Nessaea obrinus.) Já as plantas, para obter a rara cor azul, usam um pigmento vermelho e executam umas habilidades que envolvem alterações de pH.
Assim, com tão pouco azul para admirar na Natureza e aparentemente sem fontes de pigmentos, não é de estranhar que a palavra "azul" tarde em aparecer na linguagem. Na verdade, parece que a palavra "azul" só surge quando uma sociedade é capaz de produzir o pigmento equivalente. Daí que a única cultura antiga onde é mencionada a palavra "azul" seja a Egípcia, que em 2500 a.C. produziu o primeiro pigmento sintético da História: o Azul Egípcio, também conhecido por silicato de cobre e cálcio.
O lápis-lazúli, que no século XIV a.C. foi usado para adornar a máscara fúnebre de Tutancámon, há muito que era minerado no Afeganistão. Esta rocha semi-preciosa foi muito utilizada para fazer vários tipos de adornos e, moída, originava um pigmento que serve para produzir tintas. Já agora, a nossa palavra "azul" vem do "lazúli".
Na Europa, as primeiras tintas azuis de origem vegetal foram fabricadas com a planta conhecida por pastel (Isatis tinctoria), cujas flores são amarelas. Na Ásia usaram a Indigofera tinctoria, cujas flores são cor-de-rosa ou violeta, que resultava na cor indigo (anil, 420–440 nm).
Os Romanos tinham várias palavras para diferentes tons de azul. Entre elas, caeruleus e cyaneus, que podemos encontrar nos nomes científicos de algumas das nossas aves, como o chapim-azul (Parus caeruleus), o peneireiro-cinzento (Elanus caeruleus) a pega-azul (Cyanopica cyana) e o tartaranhão-azulado (Cyrcus cyaneus). Outras duas palavras tornaram-se mais comuns: azureus, que originou o nosso conhecido azure; e blavus, que originou o blue e o bleu.
À parte: Associado a este tema há vários textos na Internet onde é sugerido que não conseguiríamos ver a cor azul (ou outra qualquer cor) se não tivéssemos uma palavra para a definir. Estou convencido de que conseguiríamos. Tais textos aludem a uma suposta experiência com a tribo Himba, da Namíbia. Num conjunto de 11 quadrados verdes e um azul, teriam muita dificuldade em identificar o quadrado diferente. Num conjunto com 11 quadrados verdes e um de outro tom de verde (quase imperceptível para nós), seriam lestos a apontar o quadrado diferente. Ao contrário do que é dito, os himbas não têm muitos mais termos para definir tons de verde. Na verdade, têm apenas cinco termos para definir cores, e, sim, parecem usar a mesma palavra para verde, azul e violeta. Não encontro qualquer referência à publicação de um estudo que inclua o teste dos quadrados.
Flores nas armas, como símbolos de paz, e de liberdade. Assim foi o 25 de Abril de 1974, assim é o mural "Peace Guard" que Shepard Fairey (autor do famoso poster "Hope", de Barack Obama) pintou no ano passado na Graça, em Lisboa.
No livro de Lewis Carroll, Alice cai numa toca de coelho e entra no País das Maravilhas. Agora Alice está num túnel, junto à estação de metro de Odivelas, mas continua acompanhada de muitos personagens da estória, como o Coelho Branco, a Lagarta e o Gato de Cheshire. Esta peça carregada de pormenores é do artista Styler (aka, João Cavalheiro) e vale bem uma visita.
Quadros quinhentistas com sumptuosas molduras douradas, não é exactamente o que esperamos encontrar nas paredes de uma qualquer rua do centro de Lisboa. Mas de há três dias para cá, e durante os próximos três meses, é o que acontece em paredes do Chiado, Bairro Alto e Príncipe Real.
A iniciativa é do Museu Nacional de Arte Antiga e dá pelo nome de "Coming Out. E se o museu saísse à rua?".
As 31 obras expostas são reproduções, mas parece que já roubaram uma ou duas. O que vale é que também há quem vá espalhando outras pela cidade...
Pelo que vi, a iniciativa já é um sucesso, com inúmeros transeuntes a pararem para contemplar as pinturas.
Uma das minhas preferidas é uma pintura de 1657, de Filipe Lobo, que retrata o Mosteiro dos Jerónimos, a praia de Belém, o Palácio da Praia (onde hoje está o CCB) e alguns "tipos sociais" da Lisboa dessa época. Este quadro está no topo da Calçada da Glória.
No mesmo local, mas no lado oposto da Calçada, uma outra pintura, mas desta vez do início do século XIX e da autoria de Nicolas Delerive, mostra-nos a Praça da Alegria e a "velhinha" Feira da Ladra.
Aqui encontra um mapa com a localização das várias obras.
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