Um morto, 21 feridos e 46 desalojados é o pior balanço da tempestade do fim-de-semana, e ainda há populações ainda sem água e sem electricidade. (Hoje o mau tempo continuou junto ao mar, com previsão de ondas de 7 metros, e seis distritos estão em alerta vermelho: Aveiro, Braga, Coimbra, Leiria, Porto e Viana do Castelo).Tudo por causa da chuva e, principalmente, do vento, da deslocação do ar. Não foi uma normal deslocação de ar, é certo. Os meteorologistas chamam-lhe “ciclogénese explosiva”, caracterizada por pressões muito baixas, capazes de provocar vento superior a 130 km/h e subida do nível médio do mar.
O efeito nas árvores está à vista um pouco por todo o país. Em Sintra, cerca de 2.000 árvores – algumas com mais de 100 anos – foram arrancadas do solo, fazendo desta borrasca “
a maior catástrofe natural dos últimos 50 anos”.Ontem, em Benfica, sobre um manto de chuva intensa, o jardim Silva Porto era uma visão desoladora, quase fantasmagórica, . Por todo o lado árvores tombadas impediam a circulação nos caminhos atapetados por ramos e folhas.
Um imponente eucalipto destaca-se, solidamente vertical, na curva de um passeio. A imagem desta árvore amplifica o espanto de encontrar, alguns metros a baixo, uma criatura semelhante caída por terra.
Junto a ele, uma pequena criatura resistiu ao temporal, lembrando-nos de que nem sempre sobrevivem os mais fortes, mas os mais bem adaptados, ou os mais sortudos,
ou os que se agarram à vida com unhas e dentes.
Os ramos derrubados são infeliz oportunidade para aceder a coisas habitualmente longe da vista: o interior de um ninho laboriosamente edificado;
o debruado pormenor de um fungo arborícola.
O interior de muitos troncos também está exposto à curiosidade humana. A madeira está completamente estraçalhada. Aqui, os anéis de crescimento que conhecemos de cortes limpos parecem uma impossibilidade.
Incontáveis folhas, ramos e raminhos também estão fora do sítio, mas brilham ainda viçosos, polidos pela chuva persistente.
Estranhamente, há algo fascinante nestes gigantes caídos. Será porque traduzem a força improvável do vento, que numa noite derruba o que demorou dezenas ou centenas de anos a crescer? Será pela diferente perspectiva que deles temos? Ou também haverá beleza na destruição?