Os garranos não se medem aos palmos
No final das actividades do Bioblitz aproveitei para fotografar os garranos que vivem na Tapada da Ajuda, em Lisboa. O garrano é uma das quatro raças portuguesas de cavalos (Equus caballus) — as outras são o lusitano, o sorraia e, desde 27 de Janeiro de 2014, o pónei da Terceira, nos Açores.
«Garrano» significa «cavalo pequeno de trabalho» e esta raça descende de um pónei celta primitivo.
No passado, o garrano era um animal usado no trabalho agrícola e que transportava pessoas e mercadorias. A sua robustez é evidente: o pescoço é curto e bem musculado, a garupa é forte e larga e os membros são curtos e fortes.
A raça tem ainda outras características identificativas: estatura pequena (altura no garrote inferior a 1,35 metros), perfil recto ou côncavo, cabeça fina e grande (principalmente nos machos), narinas largas, pelagem castanho-escura, crina e cauda pretas.
O habitat dos garranos são as serras do Minho e de Trás-os-Montes, onde são criados em semi-liberdade em grupos que em média têm 20 éguas e 1 garanhão. No Parque Nacional da Peneda-Gerês há um grupo de cavalos que vive de facto em total liberdade. Este resulta de uma manada de 21 animais que foram ali libertados em 1943 com o intuito de criar uma população de garranos selvagens.
Um censo realizado em 1938 contabilizou cerca de 40.000 exemplares em todo o país. Quase 60 anos mais tarde, em 1994, a União Europeia atribuiu à raça o estatuto de ameaçada porque existiam menos de 3.000 fêmeas reprodutores. Segundo a Associação de Criadores de Equinos da Raça Garrana (ACERG), actualmente existem «1563 fêmeas, 208 machos e 617». (Dados de 2020 da Sociedade de Recursos Genéticos Animais revelam valores mais baixos: «1474 fêmeas de linha pura, 162 machos, 435 criadores).
A maioria destas explorações situam-se no Norte, mas é possível encontrar garranos um pouco por todo o país — por exemplo, a sul de Lisboa há 31 criadores.
Há duas décadas, o efectivo populacional da espécie era semelhante ao actual. Na altura, a ACERG informava de que apenas 15% dos poldros por eles identificados «sobrevivem à venda para consumo de carne e à predação pelo lobo». De facto, uma vez por ano, os criadores reúnem as manadas selvagens e recolhem os poldros, cuja carne é muito apreciada. Por outro lado, em 2008, um representante da ACERG referiu que mais de 50% dos poldros são predados por lobos, apesar da bravura com que as manadas defendem as suas crias — quando os lobos atacam os adultos formam um circo com os mais jovens no interior e tentam afastar com os lobos com coices.
Nestas circunstâncias, qual será o futuro do garrano? Para a ACERG, o futuro passa por adaptar as aptidões dos garranos enquanto cavalos de sela e de tiro ligeiro aos tempos modernos, nomeadamente em actividades como hipismo, turismo, educação ambiental e terapia assistida por cavalos.