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Arca de Darwin

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

Arca de Darwin

22
Mai13

Dia Internacional da Biodiversidade

Arca de Darwin
“Mas por muitas que sejam as maneiras de estar vivo, há certamente muito mais maneiras de estar morto, ou melhor, de não estar vivo”.

Richard Dawkins, em O Relojoeiro cego (1986).

As espécies que hoje existem são o resultado de milhões de anos de evolução. Os seus antepassados sobreviveram a alterações ambientais, como as provocadas pela queda de meteoritos ou pelas glaciações, e também por isso merecem a nossa admiração. Pelo caminho ficaram inúmeras espécies que não conseguiram adaptar-se e deixar descendência.

Garça-real, Silves

Desde que a vida se formou na Terra, a Natureza experimentou ao acaso incontáveis combinações de genes, mas só algumas resultaram em organismos viáveis. Mais do que uma melhor ou pior herança genética, os principais desafios que a biodiversidade actual enfrenta são-lhe colocados pelo Homo sapiens: a destruição de habitat; a caça; a introdução de espécies exóticas.

Este ano o Dia Internacional da Biodiversidade alerta para a importância da relação entre a água e a biodiversidade, lembrando a importância da primeira para a sobrevivência da humanidade, e o papel da segunda na regulação dos ecossistemas.
08
Abr13

Mês do chapim-azul na Gulbenkian

Arca de Darwin
“As cidades são óptimo ponto de partida para conhecer a biodiversidade nacional. Jardins, ribeiras e ruas arborizadas albergam fauna e flora muito mais ricas do que se imagina. Basta olhar com um pouco mais de atenção”, lê-se na apresentação da Arca de Darwin. Uma das formas de promover e facilitar a observação da Natureza é a afixação de cartazes que informem sobre as espécies e biótopos de um determinado local, como acontece, por exemplo, na Duna da Cresmina ou na Rota do Almonda.

Chapim-azul (Parus caeruleus), R. Prof. Mark Athias, Telheiras (Lisboa)

Por isso, é com agrado que registo a iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian que, com o apoio científico da Fundação Luis de Molina e da Universidade de Évora, colocou nos seus jardins placas que convidam os visitantes a descobrir o chapim-azul (Parus caeruleus), pássaro residente e comum nas cidades.

Cartaz no jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

Pelo subtítulo “Um mês... uma ave / Abril” depreendo que em cada mês apresentarão uma ave diferente, substituindo as placas anteriores (não encontrei placas referentes a outras aves). O que é pena. A ideia de alternadamente destacar uma espécie é interessante, até porque a composição da avifauna do jardim varia ao longo do ano, por exemplo, com a chegada e partida das aves invernantes. Mas falta um cartaz que mostre as espécies mais comuns e/ou abundantes, de maneira a garantir uma experiência positiva ao visitante que procure, e não encontre, a ave do mês nas copas das árvores e nos arbustos (se tal cartaz existir, retiro desde já o reparo à iniciativa).

Chapim-azul, em Telheiras

Por exemplo, só vi estas placas na sexta-feira, dia em que não encontrei o chapim-azul (ao contrário de outras ocasiões), mas em que vi os incontornáveis melros e patos-reais, mas também carriças e piscos-de-peito-ruivo.

13
Mar13

Cidades: mais barulho, menos diversidade

Arca de Darwin
O barulho provocado pelas actividades humanas nas cidades leva ao desaparecimento de espécies de aves canoras, mesmo que estas disponham de um habitat com qualidade. Esta é a principal conclusão de um estudo publicado este mês na revista Global Change Biology. Os cientistas, que compararam o ruído com a abundância de sete espécies de aves em 113 locais da cidade de Edmonton, no Canadá, também concluíram que as espécies com cantos de baixa frequência são as mais afectadas, pois a mensagem dos machos é abafada pelo ruído do trânsito (que também é de baixa frequência).

Pardal-de-garganta-branca (Zonotrichia albicollis), uma das espécies afectadas pelo ruído  na cidade de Edmonton. Foto: Steve Listengart (Fonte: Wikipédia)

Investigações anteriores mostraram que animais de diferentes grupos (aves, insectos, anfíbios e cetáceos) adaptam-se ao ruído humano aumentando o volume das respectivas canções. No caso das aves, como revela o estudo canadiano, esta estratégia não é suficiente para evitar o declínio de certas espécies.

22
Mai12

“ANTROPOCENO” e RIO +20 (parte II de II)

Arca de Darwin

(continuação) O vídeo sobre o Antropoceno foi o assunto com maior destaque mediático de todos os apresentados na conferência Planet Under Pressure, em Londres. Uma nova época geológica resultante da actividade humana é um facto que obriga a reflectir sobre a forma como exploramos os recursos do planeta. E se a Comissão Internacional sobre Estratigrafia reconhecer o Antropoceno, teremos mais uma importante ferramenta de sensibilização ambiental, desta feita disseminada nos currículos escolares.

Além da proposta de actualização da época geológica, a conferência de Londres produziu um documento onde apelou: à criação de um Conselho para o Desenvolvimento Sustentável nas Nações Unidas (UN); ao maior financiamento à investigação e à educação, principalmente nos países em desenvolvimento; à reestruturação de instituições nacionais e internacionais de maneira a possibilitar uma efectiva gestão do planeta; ao reconhecimento do valor monetário e não-monetário de bens públicos, como saúde, educação, recursos globais e serviços prestados pela natureza; etc.. O caminho preconizado pelo último apelo parece ser o correcto, principalmente devido à incapacidade decisores políticos e económicos de perceberem o funcionamento dos sistemas naturais. E será um dos únicos capaz de produzir efeitos a curto prazo. Mas não é novidade.

No final de 2010 os representantes dos 193 países reuniram-se para a COP em Nagoya, Japão, pressionados por acontecimentos recentes, como o insucesso da Cimeira do Ambiente realizada em Copenhaga em Janeiro de 2010, o incumprimento das metas traçadas em 2002 na COP-6, e o derrame de petróleo no Golfo do México, com as conhecidas consequências ecológicas, económicas e sociais para todos os envolvidos.

No final da conferência definiu-se uma estratégia assente no valor económico da natureza, o que implicaria cobrar os serviços prestados pelos ecossistemas e envolver as empresas na conservação. O acordo de Nagoya incluiu num plano de acção com 20 itens com vista a preservar a biodiversidade. O plano contempla o aumento dos actuais 12% de área protegida terrestre para 17%, até 2020. Em igual período a superfície das áreas protegidas marinhas deverá crescer de 1% para 10%. As partes também decidiram financiar a protecção da biodiversidade em países em desenvolvimento. Outra novidade foi a garantia de compensação financeira aos países cujos recursos genéticos são explorados por terceiros. Esta reivindicação de um acordo de Acesso e Repartição de Benefícios (ABS) data de 1992 e tem sido inviabilizada por grandes lóbis, como, por exemplo, o da indústria farmacêutica.

À primeira vista a cimeira de Nagoya foi um êxito. No entanto, nenhum dos objectivos que constam do plano de acção é vinculativo. Se olharmos para os resultados da conservação da natureza pré-Nagoya compreendemos que as expectativas para a Rio +20 sejam baixas. Recorde-se que o Ano Internacional da Biodiversidade (2010) começou mal. “As notícias não são boas. Continuamos a perder biodiversidade a um ritmo nunca visto antes na História. As taxas de extinção podem estar até mil vezes acima da taxa histórica”, informou Ahmed Djoglaf, secretário-executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD). A declaração de Djoglaf consta do relatório “Perspectiva Mundial sobre a Biodiversidade”, apresentado em Maio de 2010. Este documento avaliou o compromisso de reduzir significativamente as perdas de biodiversidade até 2010, assumido em 2002 pelos 193 estados-membros das UN na sexta Conferência das Partes. “As consequências deste falhanço colectivo, se ele não for rapidamente corrigido, serão severas para todos nós”, avisou Ban Ki-Moon, secretário-geral da UN.

Nada disto é novidade, como foi amplamente noticiado na COP de 1992. O problema é que “muitas economias permanecem cegas quanto ao enorme valor da diversidade de animais, plantas e outras formas de vida e o seu papel na manutenção da saúde e do funcionamento dos ecossistemas”, lamentou Achim Steiner, director-executivo do Programa Ambiental das Nações Unidas. Solução? “É preciso acabar com a invisibilidade do valor económico da natureza”, reiterou o economista Pavan Sukhdev, no seminário “Biodiversidade – um valor com futuro”, organizado pelo grupo Portucel Soporcel, em Lisboa.

Em 2008 Sukhdev recebeu licença sabática do Deutsche Bank para liderar um estudo sobre Economia dos Ecossistemas e Biodiversidade, encomendado pelos países pertencentes ao G8+5. O resultado foi o projecto TEEB (The Economics of Ecosystems and Biodiversity), composto por seis relatórios destinados a decisores políticos, empresas e cidadãos, e divulgados de forma faseada entre 2008 e 2010.

O TEEB apela aos Estados para que cumpram a sua obrigação de proteger a biodiversidade enquanto bem comum, e aos cidadãos para que, através das suas escolhas, pressionem governantes e empresas a agirem de forma sustentável. O relatório considera ainda que, regra geral, as empresas agem unicamente em função do lucro, sem se aperceberem de que a sua actividade depende e tem impactos directos e indirectos na biodiversidade, e que as alterações ocorridas nos ecossistemas representam risco, mas também oportunidades para os negócios. Em 2009 um inquérito realizado para o TEEB pela consultora PricewaterhouseCoopers revelou que menos de um em cada cinco directores de empresas considera que a biodiversidade é um factor importante do seu negócio, e que apenas duas das 100 maiores empresas a gerem como risco estratégico. Num artigo publicado no site da BBC, em Outubro de 2010, o jornalista de economia Richard Anderson avisou que as empresas “não só terão de pagar para substituir e proteger os serviços que até aqui a natureza prestava de graça, como também terão custos provenientes de instrumentos legais, como impostos sobre poluição, e do aumento dos prémios de seguros”.

O último dos seis relatórios TEEB, que é uma síntese da iniciativa, foi apresentado no início da COP em Nagoya. A metodologia proposta pelo TEEB inclui três etapas: reconhecer, demonstrar e capturar o valor da biodiversidade. Em Lisboa, Pavan Sukhdev explicou que o reconhecimento do valor faz-se através dos planos regionais e da legislação e que a demonstração do valor passa pela certificação de produtos ecológicos e pela avaliação das áreas protegidas. Neste último caso o TEEB dá um exemplo ocorrido no Uganda, em 1999, quando uma empresa quis drenar o pântano Nakivubo, que liga a capital, Kampala, ao Lago Vitória, e construir um empreendimento imobiliário. As autoridades avaliaram os serviços prestados (purificação das águas residuais provenientes da cidade e fixação de nutrientes) por esta zona húmida entre 0,8 milhões e 1,3 milhões de euros por ano. A drenagem do pântano implicaria um investimento de 1,5 milhões de euros anuais num sistema de tratamento de esgotos. Feitas as contas, o pântano Nakivubo ficou inalterado e foi incluído na Cintura Ecológica da capital.

Para capturar o valor da biodiversidade Pavan Sukhdev considerou dois mecanismos fundamentais – o mercado e pagamento por serviços dos ecossistemas (PES – payment for ecosystem services). Em Lisboa, Sukhedv deu um exemplo de união entre um PES e a certificação, que ocorreu na cidade japonesa de Toyooka, entre 2003 e 2007. As autoridades estavam preocupadas com a degradação da paisagem típica conhecida por “satoyama” (terrenos aráveis junto a sopés de montanhas), que serve de habitat à cegonha-branca. Para inverter a situação decidiram pagar aos agricultores 40.000 ienes (362 euros) por cada 1.000 m2 de área cultivada sem pesticidas e de maneira tradicional. Alguns produtos locais, como o “arroz cegonha-branca”, foram certificados. Resultado? Por ser cultivado sem pesticidas, o arroz alcançou um valor de mercado 23% superior ao que tinha; a cegonha-branca, que ali não se reproduzia desde 1971 e ocupava uma área de apenas 0,7 hectares em 2003, regista agora mais de 40 casais reprodutores e ocupa uma área de 212,3 hectares; o turismo na região aumentou e o rendimento do município subiu 1,4%. Actualmente o aumento dos rendimentos dos agricultores permitiu reduzir o pagamento por parte do município para 63,42 euros por cada 1.000 m2 de área cultivada.

O TEEB apresentou mais de 70 casos de sucesso na valorização e protecção da biodiversidade ao nível do poder local, mas o estado do planeta requer uma estratégia global, e vinculativa, algo que dificilmente resultará da Rio +20.