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Arca de Darwin

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

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Arca de Darwin

02
Nov14

Águia-pesqueira - no Alqueva e em Perth

Arca de Darwin

A águia-pesqueira (Pandion haliaetus) é uma verdadeira cidadã do mudo: existe nos 5 continentes. É uma ave imponente, com 60 centímetros de comprimento e 1,65 metros de envergadura, que se alimenta exclusivamente de peixe.

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Em Perth, Austrália, é comum ao longo das margens do rio Swan onde facilmente se avistam os ninhos no topo dos gigantes pinheiros de Norfolk.

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A situação em Portugal é bem diferente. Em 1997 o desaparecimento do último casal reprodutor foi amplamente noticiado nos media. Recentemente, em 2012, iniciou-se um projecto de reintrodução da espécie na região do Alqueva. Segue-se um artigo que na altura escrevi sobre o assunto.

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À ESPERA DA ÁGUIA-PESQUEIRA

TERMINOU A PRIMEIRA FASE DO PROJECTO DE REINTRODUÇÃO DA ÁGUIA-PESQUEIRA EM PORTUGAL. DAS DEZ AVES LIBERTADAS, SETE RUMARAM AO NORTE DE ÁFRICA. OUTRAS 40 SERÃO LIBERTADAS NOS PRÓXIMOS QUATRO ANOS. SE TUDO CORRER BEM ESTAS AVES PROVENIENTES DA SUÉCIA E DA FINLÂNDIA VOLTARÃO AO NOSSO PAÍS PARA SE REPRODUZIREM, O QUE HÁ MUITO NÃO ACONTECE.

A imagem de uma águia-pesqueira (Pandion haliaetus) a caçar é inesquecível. Primeiro paira elegantemente sobre o espelho de água, batendo aqui e ali as enormes asas. Localizada a presa, acelera na sua direcção, de cabeça para baixo e com o corpo em forma de ‘W’. No instante antes de contactar com a presa coloca as poderosas garras à frente, e logo a seguir crava-as no corpo do desafortunado peixe. Por vezes mal toca na água, parecendo que a presa como que por magia se lhe cola às patas. Noutras, quebra a superfície líquida como quem mergulha de chapão na piscina, mas logo emerge, voando até um poiso onde desfruta da refeição.

Estuários do Tejo e Sado, Lagoa de Santo André e Ria Formosa são alguns dos locais onde os amantes da natureza podem observar este espectáculo, principalmente nos meses de Abril, Março e Setembro, durante as migrações. No entanto, há muito que a espécie não se reproduz no nosso país. Em 1997, na costa alentejana, morreu a fêmea do último casal nidificante.

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Em Julho passado, técnicos do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto iniciaram o Projecto de Reintrodução da Águia-pesqueira em Portugal, que tem a duração de cinco anos. A iniciativa tem financiamento da EDP, no valor de 640 mil euros, e apoio da Sociedade Alentejana de Investimentos e Participações, da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva, da TAP Portugal e do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade.

 

No final do projecto, se tudo correr como esperado, haverá dois casais reprodutores em terras lusas. “Parece pouco face ao número de aves libertadas, mas trata-se de reprodutores pioneiros”, justifica a bióloga Andreia Dias, coordenadora executiva da iniciativa. E explica: “A fundação de um núcleo reprodutor é um processo lento e complexo, que será mais rápido a partir do momento em que os primeiros casais funcionarem como pólo de atracção para outras aves que ainda não constituíram casais e territórios estáveis”.

As experiências de reintrodução realizadas noutros países europeus registaram valores iniciais semelhantes. A primeira ocorreu no Reino Unido, entre 1996 e 2001, período em que foram libertadas 64 crias na Reserva Natural de Rutland Water. Em 2001 existia um casal reprodutor, e em 2010 já eram cinco. Até ao ano passado nasceram dez crias. Em Espanha, na Andalúzia, um projecto iniciado em 2003 libertou 108 juvenis até 2010. Em 2005 formou-se o primeiro casal, que se instalou na barragem de Guadalcacín, a 20 quilómetros do local onde foram libertados. “Em 2009 nasceram as primeiras três crias de um casal proveniente do projecto de reintrodução, nas Marismas del Odiel. Na Andaluzia existem actualmente três casais nidificantes e vários indivíduos em instalação”, refere Andreia Dias.

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TERRA ADOPTIVA

A ideia é simples: recolher crias de águia-pesqueira em populações europeias estáveis; trazê-las para Portugal; deixar que durante algumas semanas se habituem ao novo habitat; esperar que o identifiquem como local de “nascimento” (técnica conhecida como hacking); e que a ele regressem depois de migrarem para passar o Inverno em climas mais quentes. Se o fizerem cumprir-se-ão os principais objectivos deste projecto de reintrodução: “O restabelecimento de uma população reprodutora de águia-pesqueira em Portugal continental, o qual favorecerá a expansão da espécie no sul da Europa, contribuindo para quebrar o isolamento geográfico e, assim, reduzir o risco de extinção das pequenas populações residuais da região mediterrânica”, explica Andreia Dias. “Em última análise, pretende-se que contribua para a recuperação da espécie ao longo da costa rochosa portuguesa, onde existe evidência histórica da sua nidificação, em particular no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina”.

O projecto está pensado para cinco anos, durante os quais serão libertadas 50 aves. Em Julho chegaram à Herdade do Roncão, em Reguengos de Monsaraz e paredes meias com a barragem do Alqueva, as dez primeiras águias. Tinham cerca de quatro semanas. Cinco vieram da Suécia (uma fêmea e quatro machos) e cinco da Finlândia (três fêmeas e dois machos). Passaram algumas semanas em gaiolas colocadas numa torre com vista para a planície. Durante este período desenvolveram as penas necessárias ao voo. Na manhã de 30 de Julho, após alguns exercícios de aquecimento, as jovens aves suecas voaram pela primeira vez. A 8 de Agosto libertaram-se as águias finlandesas.

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Para a equipa e para os especialistas europeus que compõem o painel consultivo do projecto o balanço deste primeiro ano é positivo. “No entanto, teremos de melhorar alguns aspectos técnicos no próximo ano. Durante o período de permanência na torre de hacking, o único problema clínico que ocorreu foi uma lesão articular numa pata de um dos indivíduos, inicialmente de pouca gravidade mas que evoluiu negativamente, possivelmente devido a uma pré-disposição física desse indivíduo”, conta Andreia Dias. A ave foi assistida no Hospital Universitário de Évora, mas como a situação se agravou foi transferida para um centro de reabilitação em Madrid, onde existe uma equipa especializada no tratamento e fisioterapia de animais selvagens. Mas esta não foi a única baixa do projecto. “Duas aves foram predadas por raposas após a libertação. Encontrámos e recolhemos os respectivos emissores e anilhas, além de penas com sinais óbvios de terem sido. Na imediação do local de libertação existe um território de reprodução de raposas, com dois juvenis, pelo que já agendámos a desmatação dessa zona, de modo a tornar o sítio pouco atractivo para as raposas”, informa a coordenadora.

CONSERVAÇÃO POLÉMICA

O projecto de reintrodução da águia-pesqueira em Portugal foi alvo de várias críticas, principalmente em sites e blogues de ambiente. Uns argumentam que se trata de uma inutilidade, porque a espécie continua presente no país como migradora, outros que há espécies cuja conservação é mais premente, e até mais barata; outros ainda que não faz sentido reintroduzir numa albufeira interior uma espécie que vivia no litoral rochoso, e que a escolha do Alqueva se prende com o patrocínio e interesses da EDP.

Para a equipa responsável pelo projecto há factores que atestam a sua relevância conservacionista. “Um é de carácter nacional. A águia-pesqueira era relativamente comum ao longo do litoral e foi uma das poucas espécies de vertebrados a extinguir-se recentemente como reprodutora no país. Ao contrário de outras espécies que estiveram em situação idêntica, como a águia-imperial e o abutre-negro, a probabilidade de recuperação natural a partir do exterior é praticamente nula, dados o isolamento geográfico, a debilidade populacional dos núcleos residuais do Mediterrâneo e da Macaronésia e a acentuada filopatria (tendência para animais migradores regressarem ao local onde nasceram)”, argumenta Andreia Dias. Mais. “O guincho (nome por que a espécie também é conhecida) é um elemento importante da memória colectiva das populações costeiras, que deixou inúmeros registos toponímicos ao longo do litoral continental (como a praia do Guincho) e do arquipélago da Madeira. O termo ainda hoje é utilizado para denominar a espécie nas Canárias e em Cabo Verde”, diz a bióloga. Finalmente, “a reconstituição de populações extintas no Sul da Europa é uma medida estratégica fundamental para reconstituir o continuum populacional com a Europa central e setentrional, e assim garantir a conservação a longo prazo das populações remanescentes da região mediterrânica, tal como foi recomendado pelos especialistas reunidos em Urbino, Itália, no European and Mediterranean Osprey Symposium, em 1996”.

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Sendo relevante, a conservação da águia-pesqueira em Portugal será prioritária? “Obviamente que existirão outras espécies com problemas de conservação bem mais graves e difíceis de resolver. No entanto, os projectos não são levados a cabo apenas em função da sua urgência e prioridade, mas também na sequência de oportunidades cujas lógicas não são de teor biológico”, contrapõe Andreia Dias. “A oportunidade surgiu agora, mas este projecto deveria ter ocorrido muito antes do desaparecimento dos últimos reprodutores. A conservação depende cada vez mais do financiamento não estatal, e embora seja desejável canalizar esses financiamentos para as prioridades de topo, tal não é passível de ser imposto. A alternativa é a imobilidade”, conclui.

 

O biólogo Pedro Beja, investigador do CIBIO e um dos mentores do projecto, admite que a conservação desta espécie “não é prioritária”, mas defende que ela é “catalisadora de sensibilização ambiental, para criar um estado mental diferente, em que nos damos conta de ser possível fazer coisas”. O projecto de reintrodução contempla um programa de informação baseado em acções de divulgação em escolas, associações, colectividades locais e autarquias. “A águia-pesqueira é uma espécie conspícua, à qual não estão associadas situações conflituosas. A sua reintrodução constitui uma oportunidade para mostrar que é possível e desejável corrigir atentados graves cometidos sobre a biodiversidade e o património natural do país”, diz Andreia Dias.

Porquê a escolha da barragem do Alqueva? “Especialistas europeus consideram a reintrodução em estuários e albufeiras artificiais como a melhor estratégia para a reconstituição de uma população nidificante e para a posterior recolonização da costa rochosa marítima”, lembra Andreia Dias. E explica: “Há maior acessibilidade das presas nestes habitats de águas calmas, em contraste com as condições de turbulência marítima. Por outro lado, os problemas de ordenamento que ainda afectam a costa rochosa não garantem o sucesso da reintrodução”. A bióloga nota ainda que a barragem do Alqueva tem uma extensa orla de baixa profundidade, ideal para o tipo de caça da águia-pesqueira, e que a turbidez só aumenta no final do verão, já depois do período reprodutor da espécie.

UMA OUTRA PRIMAVERA

Nos próximos anos a equipa do projecto libertará animais noutras regiões para promover a dispersão da espécie. “A reintrodução deverá desenvolver-se em seguida também numa outra área, nomeadamente um grande estuário (Tejo ou Sado)”, revela Andreia Dias, acrescentando que também estão previstas “medidas de ordenamento na costa rochosa que potenciem a médio prazo a sua recolonização”. E termina: “Após os primeiros cinco anos do projecto, o sucesso dependerá de reforços populacionais”.

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Estima-se que no final deste período se verificarão tentativas de nidificação por parte de dois casais. Com o tempo talvez os portugueses reconheçam e tratem uma águia-pesqueira pelo nome, e anseiem pelo seu regresso, como acontece há 21 anos em Dunkeld, na Escócia, onde a chegada de Lady é sempre notícia. Em Março passado, para gáudio de muitos seguidores, Lady completou mais uma viagem de 4.800 quilómetros desde a Gâmbia, na África Ocidental, onde passara o Inverno. Na verdade, um caso semelhante ao de Lady é pouco provável. Habitualmente as águias-pesqueiras vivem oito anos e produzem cerca de 20 crias. Lady tem pelo menos 21 anos e já pôs 56 ovos. Mas para os amantes da natureza já será bom desfrutar de um regresso que também anuncia a chegada de uma nova estação, tal como o fazem as andorinhas.

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12
Set13

Conservação do lagarto-ágil na Grã-Bretanha

Arca de Darwin
Há (pelo menos) duas boas razões para contar esta história: É um caso de sucesso de uma estratégia de conservação; revela o empenho e o trabalho em equipa de várias instituições e cidadãos.A espécie em causa é o lagarto-ágil (Lacerta agilis) – em inglês, sand lizard, o que significa lagarto-da-areia –, que quase desapareceu durante o século XX no Reino Unido devido à destruição dos seus dois habitats de eleição: as dunas e as charnecas. O declínio foi assustador: extinção em 10 áreas de ocorrência; redução de 97%, 95% e 90% do efectivo populacional em Merseyside, Surrey e Dorset, respectivamente.

Lagarto-ágil (Lacerta agilis) criado no Zoo de Chester. Foto: Chester Zoo

A espécie não existe na Península Ibérica, mas está presente em grande parte da Europa onde tem estatuto de conservação Pouco Preocupante. No Reino Unido, face aos números anteriores, recebeu estatuto de protecção elevado e a sua conservação passou a prioritária.

Lagarto-ágil (Lacerta agilis) criado no Zoo de Chester. Foto: Chester Zoo

Assim, há 18 anos iniciou-se um trabalho de recuperação e preservação do habitat, de monitorização e de reprodução em cativeiro com posterior libertação na natureza. No início desta semana especialistas libertaram 70 juvenis na costa de Flintshire. Os animais nasceram em 10 instituições diferentes. Uma delas é o Zoo de Chester. “É fantástico participar na libertação destes animais na natureza. É muito compensador ver a espécie recuperar de uma situação crítica devida à perda de habitat”, diz Isolde McGeorge, tratadora do Zoo de Chester.

Libertação de lagartos-ágeis na natureza. Foto: Chester Zoo

Até ao final da semana, 400 animais repovoarão outras quatro regiões. Os bichos terão um mês para habituarem-se à nova casa, antes de hibernarem em Outubro.

Lagarto-ágil (Lacerta agilis) criado no Zoo de Chester. Foto: Chester Zoo

No total, e desde o início deste programa de conservação coordenado pelo Fundo de Conservação de Répteis e Anfíbios (Amphibian and Reptile Conservation Trust - ARC Trust), em 1994, cerca de 9.000 juvenis foram criados em cativeiro e libertados no habitat natural. A taxa de sucesso destas operações ronda os 80% (por exemplo, por vezes o habitat escolhido para a libertação não é o ideal), ainda que apenas 25% a 30% dos juvenis sobreviva.

Lagarto-ágil adulto. Fonte: Wikipédia

No projecto de conservação daquele que é o maior lagarto das ilhas britânicas (cerca de 20 cm) também participam outras entidades (Natural Resources Wales, Natural England, Marwell Wildlife, New Forest Reptile Center, Avon Heath Country Park, etc.) e vários voluntários, individuais ou de associações de defesa de répteis e anfíbios, que asseguram a monitorização dos animais libertados.
21
Jun13

“Caminhada Conservação e Biodiversidade” – a Arca no Festival do Solstício

Arca de Darwin
Amanhã, das 09:30 às 11:30, estarei em Santa Clara-a-Velha a orientar uma visita em parceria com Helena Ribeiro do Grupo MiraClara, engenheira sivicultora responsável pelo “projecto de controlo do acacial e valorização da vegetação ribeirinha”. O projecto é muito interessante, de difícil concretização, mas os resultados já estão à vista e terão repercussões tanto na saúde do rio e da biodiversidade, como no bem-estar das populações e economia local.

Mais tarde abordarei aqui a iniciativa com mais detalhes, mas para já fica o convite para que venha ao passeio. Espero por si – para facilitar o encontro aqui fica o meu auto-retrato :)

04
Jun13

Lince-ibérico em Vila Nova de Milfontes

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No dia 8 de Maio um lince-ibérico (Lynx pardinus) foi fotografado por uma câmara activada por movimento numa zona de caça associativa, em Vila Nova de Milfontes. Trata-se de um macho chamado Hongo, nascido em Doñana em 2011. Contas feitas, Hongo palmilhou mais de 250 quilómetros.

Lince-ibérico (Lynx pardinus). Foto: Programa de Conservación Ex-situ del Lince Ibérico www.lynxexsitu.es

Esta visita de um lince é, como muitos salientaram, uma boa notícia. Desde logo porque o animal conseguiu sair de Doñana sem ser atropelado. Depois, como refere Lurdes de Carvalho (do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas – ICNF) à agência Lusa, “confirma a conectividade dos nossos territórios, ou seja, que os nossos territórios podem ser corredores que o lince atravessa e se estabelece”. E acrescenta: “Há muita capacidade para suportar algumas populações de lince, somando todo o sul do país”.

No entanto, o estabelece ainda está por provar e a capacidade de suporte, ainda que a população de coelhos (principal alimento do lince) esteja a aumentar, não é muito diferente da que existia quando a espécie se extinguiu no nosso país. Já nessa altura, e pelo menos na região do vale do Sado, os melhores habitats para o lince coincidiam com zonas de caça do regime cinegético especial. Era graças à boa gestão ambiental por parte dos caçadores (e à preocupação com a conservação da Natureza de muitos deles) que o lince encontrava alimento e refúgio. Actualmente, Hongo percorreu mais de 200 quilómetros sem encontrar um um local com capacidade de suporte para que se estabelecer. Para já parou numa zona de caça associativa.
11
Mai13

Dia Mundial das Aves Migradoras (11-12 Maio)

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Criado em 2006, o Dia Mundial das Aves Migradoras celebra-se no segundo fim-de-semana de Maio com o intuito de sensibilizar para a importância de proteger estas espécies e os seus habitats. Assim, várias actividades realizam-se um pouco por todo o mundo – para conhecer as propostas em Portugal visite o site do World Migratory Bird Day. 

O tema deste ano centra-se na importância do trabalho em rede, pois estas aves não conhecem fronteiras.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=bTvqXVFQLIsUm dos desafios que a conservação destas espécies enfrenta é a mudança climática, com muitas aves a procurarem locais de paragem mais a norte. Por exemplo, nas últimas três décadas a população de três espécies de patos (olho-de-ouro, zarro-negrinha e merganso-grande) aumentou na Finlândia e na Suécia em 130.000 indivíduos a meio do Inverno, informa hoje o jornal britânico The Independent. No sentido inverso, registaram-se menos 120.000 indivíduos destas três espécies na França, Irlanda e Suíça.
11
Fev13

Gato doméstico: o exterminador

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Nos Estados Unidos os gatos domésticos (Felis silvestris catus) matam (ainda) mais animais selvagens do que se pensava, conclui um estudo publicado no final de Janeiro. Os números são alarmantes: estima-se que os bichanos eliminem todos os anos entre 1,4 mil milhões e 3,7 mil milhões de aves e entre 6,9 mil milhões e 20,7 mil milhões de mamíferos. Os gatos sem dono causam a maioria destas mortes.

Outro estudo, no Reino Unido, estimou que num período de 5 meses os gatos com dono matam entre 85 milhões e 90 milhões de presas (52-63 milhões de mamíferos; 25-29 milhões de aves; 4-6 milhões de répteis e anfíbios). A previsão resultou de um inquérito sobre os animais que os gatos trazem para casa.

Um aparente contributo para solucionar o problema são as campanhas de captura, esterilização e recolocação de gatos vadios (Programas CER) – que também existem em Portugal –, mas os autores do estudo norte-americano temem que estas apenas agravem a situação, pois não retiram os animais dos ecossistemas e “encorajam” os donos de animais indesejados a abandoná-los na rua. Daí que haja quem defenda a captura e eliminação dos gatos vadios. Por cá, os gatos domésticos também são fonte de preocupação por “contaminarem” os genes do gato-bravo. Na sua tese de doutoramento sobre a conservação do gato-bravo no sul da Península Ibérica, Joaquim Pedro Ferreira propõe que nas áreas rurais se limite o acesso dos gatos a comida e ao interior de edifícios que servem de refúgio. E acrescenta: “O controlo de ratos nos celeiros pode ser feito por corujas-das-torres (Tyto alba), para isso basta que exista uma janela num sítio inacessível aos gatos”.

O impacto destes felinos domésticos na fauna selvagem é particularmente notório em ilhas. Por exemplo, na Nova Zelândia os gatos contribuíram para a extinção de 6 espécies de aves endémicas e de mais de 70 subespécies. Já na Ilha Marion, África do Sul, cinco gatos foram introduzidos em 1949 com o objectivo de controlar uma infestação de ratos. Em 1977 já existiam 3.400, os quais mostraram um apetite especial por pardelas, levando algumas espécies destas aves marinhas à extinção.

Esta predação de gatos sobre pardelas foi notícia em Portugal em Agosto de 2011 quando uma cria de pardela – seguida via internet através de uma câmara colocada num ninho – foi morta. A captação das imagens inseria-se no projecto “Ilhas Santuário para Aves Marinhas”, coordenado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). Este projecto tinha como objectivo a protecção das aves marinhas na ilha do Corvo, Açores, através da erradicação de plantas invasoras e de predadores introduzidos (gatos, ratos e murganhos). Da iniciativa resultou a criação da Reserva Comunitária do Corvo, uma área vedada, protegida de predadores, destinada à nidificação de aves marinhas.

Em França, na ilha Le Levant, estima-se que os gatos matem anualmente 800 a 3.200 pardelas-mediterrânicas, números que, segundo um artigo publicado o mês passado na The international Journal of Avian Science, levarão à extinção da espécie. Os autores salientam que a situação da Le levant é comum a grande parte das ilhas do Mediterrâneo. Solução? Numa ilha próxima de Le Levant a solução foi “capturar os gatos, levá-los ao veterinário e dá-los para adopção no continente. Os resultados foram óptimos”, conta uma das autoras à revista SINC. Também é fundamental sensibilizar as populações para a necessidade de reduzir a quantidade de gatos errantes, o que se consegue através da esterilização e do não abandono dos animais.
17
Jan13

Conservação do priolo em risco

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O priolo (Pyrrhula murina) é a ave canora mais ameaçada da Europa e existe apenas na Serra da Trunqueira, na ilha de S. Miguel, Açores. No início do século XX era abundante, mas a perseguição movida pelos agricultores, descontentes com o apetite do pássaro por flores de laranjeira, e a perda de habitat provocaram fortes danos na população. Assim, à entrada do século XXI, existiam menos de 140 priolos e a espécie tinha estatuto de Criticamente em Perigo de extinção. Na última década, e por acção da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea), os números do priolo subiram para cerca de 1.000 indivíduos. Como?

Foto: Spea

A Spea recuperou 250 hectares (área de cerca de 250 campos de futebol) da floresta laurissilva onde a pequena ave – mede cerca de 15 centímetros – habita, o que implicou a remoção de plantas exóticas e a plantação de mais de 150.000 espécies endémicas ou nativas. Este trabalho hercúleo gerou 20 postos de trabalho directos, contribuindo assim para a economia local, a qual também beneficiou com a inclusão das Terras do priolo na Carta Europeia de Turismo Sustentável e com a criação do Centro Ambiental do Priolo, visitado anualmente por 1.500 estudantes e por 3.000 turistas.Actualmente o priolo goza de um estatuto de conservação mais favorável – Em Perigo –, mas ainda preocupante. O pior é que a conservação da espécie está em causa porque a principal fonte de financiamento – o programa LIFE – está a terminar.

Ilustração: Joseph Wolf (1820-1899)

Assim, a Spea lançou uma campanha de crowdfunding com o objectivo de angariar 21.600 euros até ao final de Fevereiro, valor que possibilitará a continuidade do projecto. A iniciativa “Vamos preservar o priolo” (“Let's preserve the Azores Bullfinch”) decorre online, na plataforma norte-americana de crowdfunding Indiegogo, e conta com o apoio da Aidnature, que produziu o vídeo promocional, e com o portal Naturlink, que assegura a divulgação.Para saber mais sobre a espécie veja este pequeno filme.
07
Dez12

Jornalismo irresponsável

Arca de Darwin

Em Portugal, jornalismo e Natureza têm relação difícil. É certo que já lá vai o tempo em que os meios de comunicação, sobre este tema, pouco mais noticiavam do que efemérides (extinção e descoberta de espécies) e efeitos das forças naturais, mas a maioria das reportagens sobre o património natural assenta em faits divers (nascimento de uma cria; animal que “saiu” do seu habitat e invadiu o espaço humano; etc..). A falta de treino em abordar o tema não justifica que, ao fazê-lo de forma mais “séria”, ponham-se de lado princípios éticos do jornalismo, como aconteceu numa recente reportagem da SIC Notícias (27 de Outubro)  intitulada "Aldeia em S. Pedro do Sul "aterrorizada" com ataques de lobos".Diz o jornalista na peça: “Há cerca de seis anos foi feito um repovoamento dos lobos na serra de São Macário”. Não foi. Nem na serra de São Macário nem em qualquer outro local de Portugal, nem há seis anos, nem noutra data qualquer. Aliás, em toda a Europa a expansão do lobo acontece de forma natural, sem repovoamentos.

Além dos factos errados – evitáveis se o jornalista, como lhe compete, recolhesse informação de outras fontes, por exemplo, biólogos -, a reportagem cria temor e insegurança nas populações que partilham o espaço com os lobos. Sem a participação e colaboração destas pessoas não é possível conservar esta e outras espécies, principalmente quando se trata de grandes predadores. Daí que os biólogos invistam, e muito, na sensibilização ambiental das gentes do campo. Esse trabalho é posto em causa pelo jornalismo sensacionalista, como refere Sara Roque, numa outra reportagem sobre os lobos e os pastores de Covas do Monte, publicada no fim-de-semana passado na revista Notícias Magazine, intitulada "Na guerra aos lobos não há vencedores". Sara “trabalha com o Grupo Lobo e, durante mais de uma década, monitorizou a vida deste grupo de predadores”, escreve o autor. E acrescenta: “Não dá a cara, mas fala: «Eu hei de continuar a trabalhar com estes animais e hei de continuar a ir para o terreno. Se os pastores reconhecerem o meu rosto numa revista, vão ver-me à partida como um inimigo e isso vai condicionar o meu trabalho.»”.

A directora executiva da revista, Catarina Carvalho, alheia a esta declaração, apela à leitura da peça num artigo cujo despropositado título é “Uma guerra civilizacional”. Segundo ela, esta “guerra civilizacional” opõe “o Portugal moderno das leis de protecção animal que esbarra no Portugal decadente e pobre, das aldeias abandonadas do interior”. No artigo que promove, este “Portugal moderno” que protege os animais é assim retratado: “Um incêndio em 2010 destruiu a maior parte da serra, reduzindo ainda mais as escassas zonas de conforto do Canis lupus signatus, nome científico da vertente ibérica. Entre 2007 e 2009, cinco parques eólicos foram construídos nas cumeadas que o lobo costumava ocupar. Abriram-se novas estradas, limparam-se os matos, os trilhos que poucos se aventuravam a fazer a pé são agora acessíveis aos automóveis. E o lobo cada vez mais acossado, empurrado para um canto”.

A forma como os lobos e os prejuízos que os seus ataques a rebanhos provocam às gentes de Covas do Monte são tratados nestes dois meios de comunicação mostra como ainda há muito a fazer na relação entre investigadores e jornalistas. Os primeiros têm de interiorizar que comunicar é parte importante do seu trabalho. Os segundos têm, pelo menos, de respeitar as regras base do jornalismo.

20
Nov12

Rota do Almonda - "a Natureza a seus pés"

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Sabia que se as burras ficarem mais de um ou dois anos sem engravidar deixam de conseguir fazê-lo? E que a fértil terra avermelhada da Serra de Aire e Candeeiros resulta do calcário que não foi completamente dissolvido? E sabia que nesta serra há dois rebanhos de cabras que trabalham em prol da conservação da natureza?Estas foram algumas das curiosidades reveladas no passeio que encerrou o Festival do Almonda, que decorreu entre 15 e 18 de Novembro.

 A pé ou de burro, mais de 50 participantes de todo o país calcorrearam a serra à descoberta do vasto património natural da região, guiados pelo biólogo Paulo Pereira, do projecto Rota do Almonda, e por Alexandrina Pita, do projecto Habitats Conservation - Conservação de Habitats Naturais e Semi-naturais na Serra de Aire e Candeeiros, da Quercus.  O Festival foi organizado pela Associação para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Norte (ADIRN), no âmbito do projecto internacional AARC (Atlantic Aquatic Resource Conservation), em colaboração com a Quercus e com o Município de Torres Novas. Tanto o projecto da ADIRN como o da Quercus têm por objectivo a conservação e divulgação do património natural da Serra de Aire e Candeeiros, a par do desenvolvimento social e económico.

Na Primavera há mais, mas não precisa de esperar até lá: A Rota do Almonda conta já com seis painéis interpretativos que lhe indicam o que pode ver ao longo de um percurso de 30 km, entre o Paul do Boquilobo e a Serra de Aire e Candeeiros.

"90% da bacia hidrográfica do Almonda coincide com o município de Torres Novas, o que facilita a gestão e implementação de medidas de conservação", diz Paulo Pereira

Além da Rota, e entre outras acções, o AARC prevê a valorização ambiental do Paul do Boquilobo, aumentando a comunidade de avifauna, e a despoluição do rio Almonda que, a partir de Torres Novas, recebe efluentes domésticos, industriais e agrícolas acima da sua capacidade de suporte.

Além de fomentarem a economia serrana, as cabras, ao consumirem matos baixos, ajudam a prevenir incêndios e abrem clareiras, que são fundamentais para várias espécies protegidas de plantas

Para já, seguem-se alguns “retratos” do passeio de dia 18, que começou na Serra de Aire, e terminou com um opíparo magusto popular (castanhas, enchidos, queijos, frutos secos, pão, vinho novo, sumos e abafado) no Centro de Interpretação Subterrâneo das Grutas do Almonda. Na verdade, não terminou com o magusto. Houve ainda que “convencer” os cinco burros da Derrainhas e entrar para a carrinha...

Nas beiras dos caminhos encontram-se várias espécies de cogumelos, mas também espargos e enorme variedade de plantas aromáticas - orégãos, tomilho, rosmaninho...

As manas

Onde está o Wally? (Mantis religiosa)

Roselha (Cistus crispus)

Pastagem melhorada. No Verão escasseia alimento nutritivo para as cabras. Por isso a Quercus plantou luzerna, planta que rebentará durante 7 anos sem necessitar de nova sementeira.

Magusto

17
Set12

Mega projecto de conservação arranca hoje no Reino Unido

Arca de Darwin
A transformação de zonas húmidas em áreas agrícolas ao longo do século XX levou ao declínio de inúmeras espécies de aves e anfíbios. Hoje, no Reino Unido, inicia-se o processo oposto, e numa escala nunca vista na Europa. Assim, na Ilha de Wallasea, duas vezes do tamanho de Londres, os terrenos cultivados darão lugar a sapais, lagoas e pântanos, restaurando a paisagem que ali existia há 400 anos. Estes novos habitats serão santuário para dezenas de milhares de aves migratórias e de fauna marinha.

Foto: RSPB

O projecto resulta de uma parceria entre a Royal Society for the Protection of Birds (RSPB) – maior organização de conservação da natureza da Europa – e a Crossrail. Esta última é a empresa encarregue de construir as novas linhas de transporte subterrâneo em Londres. O material retirado dos túneis irá para a Ilha de Wallasea. No pico das obras chegarão à ilha 10.000 toneladas de terra por dia.

 A reserva “natural” incluirá cerca de 13 km de passadiços e ciclovias para que todos possam desfrutar das paisagens e biodiversidade deste novo ecossistema.

A obra, que estará pronta em 2020, destina-se também a combater a erosão costeira que ameaça a existência da própria ilha.

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