Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Arca de Darwin

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

Arca de Darwin

16
Mar13

Darwinismo e Saúde Pública

Arca de Darwin
O aumento de bactérias resistentes a antibióticos é uma ameaça “apocalíptica” que pode espoletar uma “emergência nacional equivalente a um ataque terrorista, a uma pandemia, ou a grandes inundações”. A situação há muito que é preocupante, mas a contundência das palavras proferidas este mês por Sally Davies, directora-geral da Saúde do Reino Unido, não deixaram ninguém indiferente. Segundo ela, daqui a 20 anos os doentes que realizarem uma cirurgia de rotina correm sérios riscos de morrer de infecções.

Staphylococcus aureus, uma das bactérias multirresistentes. Foto: CDC / Don Stalons

No entanto, considera que ainda é possível impedir a catástrofe daqui a duas semanas apresentará a nova estratégia para combater o flagelo: “Temos de trabalhar com todos para nos assegurarmos de que o cenário apocalíptico de resistência antibiótica generalizada não se torna numa realidade".

O que tem isto a ver com a teoria de Darwin e como é que se chegou a este ponto? As bactérias estão em permanente evolução e reagem ao meio que as rodeia. Um das ameaças que enfrentam é a acção dos antibióticos, pelo que ocorre a selecção natural daquelas que resistem a estes medicamentos. Chegámos a este ponto devido ao uso abusivo e incorrecto dos antibióticos. Médicos e doentes partilham parte da responsabilidade pela situação actual: os primeiros, por exemplo, ao receitarem antibióticos para tratar gripes e constipações (que são causadas por vírus, os quais são imunes aos antibióticos); os segundos por interromperem o tratamento quando se sentem melhor, o que faz com que algumas bactérias – as mais resistentes – sobrevivam. Assim, doenças como a tuberculose e a gonorreia já apresentam formas multirresistentes.

Cartaz que alerta os médicos para não receitarem antibióticos no tratamento da gripe. Imagem:United States Centers for Desease Control and Prevention 

No caso dos médicos, a falta de conhecimento sobre mecanismos evolutivos é particularmente alarmante. “Há poucas universidades no mundo que tenham cursos estruturados de ‘medicina darwiniana’. O próprio termo foi cunhado recentemente, na década de 90, nos EUA”, disse Leonor Parreira, professora da Faculdade de Medicina de Lisboa e investigadora do Instituto de Medicina Molecular, numa entrevista à Gingko, em 2009. E acrescentou: “Na Faculdade de Medicina introduzimos seminários de evolução, no âmbito da cadeira de Biologia do Desenvolvimento, apresentados por biologistas da evolução que nos trazem nova forma de pensar e novas ferramentas de investigação. Mas talvez não seja suficiente. Idealmente, a perspectiva evolutiva deveria ser transversal a todas as disciplinas médicas”,É claro que há outros responsáveis por esta situação além dos médicos e dos pacientes. Por exemplo, o problema é ainda mais grave por não existirem novos antibióticos, o que também acontece por a indústria farmacêutica não apostar nessa área de investigação (é mais rentável produzir novos medicamentos para doenças crónicas).Por tudo isto é crucial ensinar e divulgar a teoria de Darwin. No entanto, a tarefa não é fácil, pois ainda há muito quem não acredite que a nossa espécie evoluiu a parir de outros animais – até parece que Darwin não publicou A Origem das Espécies em 1859, que Mendel não descobriu as leis da hereditariedade em 1900, e que Watson e Crick não desvendaram a estrutura da dupla-hélice do ADN não em 1953. 

 Charles Darwin

Os Estados Unidos são uma das faces desta ignorância. Ao longo do século XX, o ensino da Evolução foi banido de várias escolas norte-americanas. Ora, um estudante que chegue à Universidade sem conhecer a teoria da selecção natural terá um raciocínio coxo, que lhe atrasará a compreensão em diversas áreas do conhecimento: biologia, ecologia, geologia, medicina, química, etc.. Segundo os resultados de uma sondagem realizada em 2007, 43% dos norte-americanos acredita que Deus criou a espécie Homo sapiens há 10.000 anos (em 1993 este valor era de 47%).

Perspectiva sobre a Evolução em diferentes países. Imagem: John D. Croft

Muitos lutam contra esta ignorância. Em Janeiro, James Holt, um dos poucos doutorados do Congresso norte-americano, propôs a criação do Dia de Darwin. “Na História da humanidade raramente surgiu alguém que encontrou uma nova forma fundamental de pensar o mundo – uma perspectiva tão revolucionária que possibilitou outros raciocínios criativos e explicativos. Sem Charles Darwin, o entendimento actual da biologia, ecologia, genética e medicina seria absolutamente impossível, e a compreensão do mundo que nos rodeia seria bastante menor”, salientou Holt em comunicado, através da American Humanist Association. Provavelmente o Congresso rejeitará a proposta.Para se perceber o nível de oposição ao Evolucionismo naquela casa recupero um episódio ocorrido em 1999, quando o massacre de Columbine provocou uma onda de consternação, principalmente nos Estados Unidos. Evitar a repetição de tal tragédia passava, inevitavelmente, por explicá-la. O congressista texano Tom DeLay justificou o massacre relacionando-o com o “declínio moral” provocado pelo “ensino da Evolução”, pois, segundo ele, “ensinamos às nossas crianças que elas não são senão macacos que evoluíram de uma espécie de sopa de lama primordial”. No mesmo ano, o Texas retirou o ensino da Evolução dos currículos escolares.Uma última nota: acreditar em Deus não implica rejeitar a Evolução. (Espreite este gráfico). No caso do catolicismo, em 1950 o Papa Pio XII considerou o evolucionismo uma “hipótese séria”, desde que se distinga, no caso humano, a evolução do corpo da evolução da alma, e em 1996 o Papa João Paulo II classificou a Evolução como uma verdade científica.
27
Set12

Tributo ao outro pai da Evolução

Arca de Darwin
A partir de hoje está online, num só site (wallace-online.org), toda a extensa obra do britânico Alfred Russel Wallace (1823-1913). Quem foi este homem? Tão só o pai da Teoria da Evolução por selecção natural. E Darwin? Também. A verdade é que ambos chegaram à mesma conclusão, ao mesmo tempo, e em separado.

Depois, alguns textos menos “felizes” de Wallace e o facto de ele próprio cunhar o termo “Darwinismo” – título do livro que publica em 1889 e onde defende as ideias de Darwin – consagram Darwin como o genial pai da Teoria da Evolução – e, de facto, é – e remetem Wallace para um lugar secundário na História da Ciência.Os dois “conhecem-se” quando Wallace está na Malásia, em 1858 (Darwin publica A Origem das Espécies em 1859). Wallace, naturalista, envia uma carta a Darwin acompanhada de um manuscrito. Pede-lhe que leia e, caso ache “interessante”, o remeta ao geólogo Charles Lyell. Darwin achou-o mais do que interessante! Ao lê-lo constata que ambos chegaram às mesmas conclusões. É um Darwin perturbado que reencaminha o manuscrito a Lyell. Na carta que o acompanha escreve: “Os seus próprios termos são títulos dos meus capítulos. (...)Toda a minha originalidade será esmagada”. Nesse ano, Lyell sugere  apresentar as teses de ambos na Sociedade Lineana - o que acontece. Darwin e Wallace tornaram-se amigos, e o primeiro sempre tratou o segundo como “co-descobridor” da Teoria de Evolução.Em termos de pensamento, os dois discordaram sobre o alcance do darwinismo: Wallace considera que a selecção natural não explica atributos humanos como a moral e a inteligência. Quanto ao resto da sua obra, os aspectos mais infelizes relacionam-se com incursões no mundo sobrenatural, mas tal não deve apagar o imenso mérito noutras áreas. Wallace foi dos primeiros a alertar para a necessidade de conservar espécies ameaçadas e é também o Pai da Biogeografia. Para este outro “filho” muito contribui o trabalho em que descreve uma “linha” (actualmente conhecida como “Linha de Wallace”), na Ásia, que separa duas comunidades faunísticas diferentes: uma associada à Ásia e outra à Austrália. De facto, a linha resulta do movimento das placas tectónicas, estruturas que, na altura, o mundo desconhecia.

Imagem: Pablo Alberto Salguero

 

Mais sobre mim

foto do autor

Siga-nos no Facebook

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D