Bolhas de Sabão
Há cerca de uma semana, um homem animava o Terreiro do Paço, em Lisboa, com as suas bolhas de sabão. Estas efémeras bolas voadoras são igualmente fascinantes para crianças e adultos. A diferença é que os segundos, geralmente, não desatam a correr atrás delas.
Dois vultos enormes da cultura mundial também sucumbiram ao encanto das bolhas de sabão. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche e Alberto Caeiro, um dos heterónimos de Fernando Pessoa. Caeiro é o poeta da natureza e das sensações. É simples, objectivo e ingénuo.
E eu, que estou bem com a vida, creio que aqueles que mais entendem de felicidade são as borboletas e as bolhas de sabão, e o que se lhes assemelhe entre os homens. Ver girar essas pequenas almas leves, loucas, graciosas e que se movem é o que, de mim, arranca lágrimas e canções.
Friedrich Nietzsche (1883‒1885), em Assim Falou Zaratustra
As bolas de sabão que esta criança
Se entretém a largar de uma palhinha
São translucidamente uma filosofia toda.
Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,
Amigas dos olhos como as coisas,
São aquilo que são
Com uma precisão redondinha e aérea,
E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,
Pretende que elas são mais do que parecem ser.
Algumas mal se vêem no ar lúcido.
São como a brisa que passa e mal toca nas flores
E que só sabemos que passa
Porque qualquer coisa se aligeira em nós
E aceita tudo mais nitidamente.
Alberto Caeiro (1914), em O Guardador de Rebanhos — Poema XXV