«O outono é uma segunda primavera onde cada folha é uma flor.»
Peça «O Mal-entendido» (1944), de Albert Camus
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
«O outono é uma segunda primavera onde cada folha é uma flor.»
Peça «O Mal-entendido» (1944), de Albert Camus
Algumas fotos do último passeio outonal pelo Parque do Cabeço de Montachique, em Loures.
Hoje é o último dia (completo) de Outono. O Inverno começa amanhã (mas claramente não recebeu o memorando e chegou um dia adiantado), dia 21 de Dezembro, às 15h59, altura em que ocorre o Solstício de Inverno, ou seja, quando o Sol se encontra mais a sul. Esse será o dia mais curto do ano e, consequentemente, a noite mais longa.
Para já, despedimo-nos do Outono:
Ao final do dia, os últimos raios de Sol ainda transmitem uma sensação de calor quando incidem nas folhas que, entretanto, vão perdendo os tons amarelados e ganhando tons avermelhados e acastanhados.
O Outono chegou em força à Quintas das Conchas (Lumiar, Lisboa). Esta altura é particularmente interessante porque grande parte das folhas ainda se mantém presas às árvores, em diferentes fases do seu amadurecimento. O resultado é que aqui e ali encontramos mosaicos vibrantes de manchas de cores/pigmentos diferentes.
Algures no Parque Florestal de Monsanto (Lisboa), confundindo as folhas com as árvores e com a floresta.
A variedade de cores das folhas no Outono deve-se a diferentes pigmentos. Isto é particularmente evidente nos liquidâmbares (Liquidambar styraciflua) — árvore originária da América do Norte e América Central — cujas folhas, por esta altura, explodem numa profusão de cores intensas que vão desde o verde que traziam do Verão e da Primavera, ao roxo que assinala a última etapa da vida destas estruturas.
Em algumas folhas são bens visíveis as diferentes cores e os tons intermédios.
As folhas verdes devem a sua cor à clorofila, o pigmento responsável pela fotossíntese. Nos meses de Primavera e de Verão, a clorofila transforma a luz solar e o dióxido de carbono em oxigénio e hidratos de carbono (açúcar), que servem de alimento à planta durante a fase de crescimento e de frutificação.
Como a clorofila é instável, tem de ser constantemente produzida pela planta, o que se torna inviável à medida que os dias ficam mais pequenos e a temperatura desce. É nesta fase que se começa a bloquear o acesso de água e nutrientes à folha.
Assim, chegado o Outono, a árvore entra num período de dormência e passa a viver da energia que armazenou nos meses anteriores. Na ausência da clorofila, outros dois tipos de pigmentos que já existiam nas folhas — e que são mais estáveis do que a clorofila — tornam-se visíveis: as xantófilas (amarelas, presentes, por exemplo, nas bananas) e os carotenos (cor de laranja, presentes, por exemplo, nas cenouras).
Quando o fim da linha se aproxima outra cor desponta, o vermelho e o roxo, mas neste caso o pigmento responsável — a antocianina, que também dá a cor vermelha às maçãs, morangos e arandos — não estava presente nos meses mais quentes, mas é agora sintetizado por via da acumulação de açúcares.
Finalmente surge o castanho, quando já só restam os taninos e a folha está quase morta.
O Outono na Quinta das Conchas (Lisboa) nunca desilude!
I hear leaves drinking rain;
I hear rich leaves on top
Giving the poor beneath
Drop after drop; (...)
The Rain, de William Henry Davies
78 seguidores