Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Arca de Darwin

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

Arca de Darwin

27
Set12

Farto/a de slogans com “eco”, “verde” e “natural”?

Arca de Darwin
À preocupação com a saúde do planeta as empresas respondem com cada vez mais produtos “verdes”. Os consumidores, confusos e desconfiados, não alteram hábitos. A verdade é que apesar dos milhões gastos em publicidade a mensagem ecológica teima em não passar, e os publicitários continuam cegos e apáticos a esta realidade. O que está mal e como corrigir?

No ano passado, por esta altura, a directora de planeamento estratégico da Ogilvy, Graceann Bennett, deu uma conferência no GreenFest (evento cuja 5ª edição começou ontem e prolonga-se até 30 de Setembro, no Estoril - veja a "Agenda") onde apresentou o estudo/livro Mainstream Green (download gratuito, aqui).A obra, da autoria de Bennett e de Freya Williams (também da Ogilvy), mostra que o marketing verde vai nú, explica porquê, e apresenta 12 regras para comunicar a mensagem ecológica com eficácia.Mas afinal, o que está mal? O problema não são os consumidores. Vários indicadores confirmam que eles preocupam-se com o ambiente. Este mês, o estudo MeaningfulBrands, conduzido pela Havas Media, concluiu que:- 75% dos consumidores preferem comprar produtos produzidos de modo ambiental e socialmente responsável;- 47% dos inquiridos admitem pagar mais 10% por um produto produzido de modo responsável.No entanto, uma sondagem realizada em 2010 pelas universidades de Yale e George Mason, que  analisou as acções dos norte-americanos para poupar energia, reduzir resíduos e refrear o aquecimento global,  constatou, por exemplo, que 53% dos inquiridos considera importante desligar aparelhos eléctricos da corrente, mas não o faz. Já os portugueses, segundo o Eurobarómetro, no final de 2009 estavam abaixo da média europeia em todas as acções individuais na luta contra as alterações climáticas – reciclar, diminuir o consumo de energia, comprar produtos locais, etc.. Voltando aos norte-americanos, Mainstream Green (2011) revela que 87% deseja actuar de forma sustentável, mas, destes, apenas 16% o faz.Qual a justificação para a existência deste fosso entre intenções e comportamentos reais?Mainstream Green encontra várias barreiras à adopção de hábitos sustentáveis nos Estados Unidos. Uma delas é a culpa que os consumidores mais informados sentem pelo impacto que causam no planeta. Outra é os “verdes” serem frequentemente alvo de preconceitos e segregação social. Há mais duas barreiras importantes. Quando perguntaram aos inquiridos se achavam que “o movimento verde era mais feminino ou masculino”, 82% responderam “mais feminino”. Esta percepção afasta os homens de atitudes sustentáveis, “como reutilizar sacos nas compras ou guiar um Toyota Prius”, notam as autoras. Causa ou consequência, a maioria dos responsáveis por departamentos de ambiente em empresas são do sexo feminino...A segunda barreira é a mais evocada pelos norte-americanos: o preço. “O custo mais elevado passa a mensagem ao consumidor médio de que estes produtos são para alguém sofisticado e rico, não para ele”, lê-se em Mainstream Green.À dificuldade financeira somam-se a desconfiança e a confusão dos consumidores. A desconfiança assenta, por exemplo, nos produtos que prometem e não cumprem – o chamado greenwashing. Para a confusão contribuem várias situações, como a proliferação de rótulos ambientais e conceitos difíceis de abarcar, como pegada ecológica. Resultado? A maioria dos cidadãos mantém-se à margem do “movimento verde”.Bennett defende que os marketers não podem resolver todos os problemas, mas podem passar a mensagem de forma mais eficiente. Segundo ela, as empresas lucraram com os consumidores de nicho, pelo que não fazia diferença se os marketers comunicavam, ou não, para toda a gente. O problema é que depois tentaram aplicar a mesma fórmula à generalidade da população.Soluções?Os produtos ecológicos devem responder à regra dos três “P”: pessoas, lucro (profit), planeta. Mas promovê-los com base nestes atributos é um erro. Bennett sugere outros três “P” (usados, por exemplo, nas campanhas contra o cancro): pessoal, plausível, positivo.

É certo que cada caso é um caso. Mainstream Green aconselha a que não se utilize a palavra “verde” na mensagem publicitária, mas admite que em certas campanhas tal aconteça. O importante é não utilizar sempre a mesma abordagem. Eis as 12 regras que, se adoptadas por profissionais de diferentes área, massificarão os comportamentos sustentáveis:1 – O normal é sustentável. A maioria das pessoas quer integrar-se, não quer ser diferente. Promover produtos e atitudes verdes apelando à diferenciação é um erro. As autoras explicam que se trata da mesma psicologia usada no estado de Montana, Estados Unidos, para diminuir a taxa de condução sob o efeito do álcool. Quando as autoridades mudaram o slogan de “Não deixe que Montana seja o seu último local” para “A maioria de nós não conduz depois de beber”, a taxa baixou 14%.2 – Personalizar. “Não perguntes o que pode o consumidor fazer pela sustentabilidade; pergunta o que a sustentabilidade pode fazer por ele – e depois mostra-lhe”, brincam as autoras. E concretizam: “As empresas que conseguirem associar os seus produtos a elevados benefícios pessoais têm mais hipóteses de serem bem sucedidas. É o caso dos alimentos orgânicos”. De facto, segundo a Associação de Comércio Orgânico norte-americana, este sector cresceu 8% em 2010, enquanto o resto da indústria alimentar cresceu apenas 1%. Os produtos orgânicos, naturais e ecológicos para bebés também registaram aumentos significativos nas vendas. Porquê? “Nada é mais pessoal do que a saúde de um recém-nascido”, justificam.3 – Criar melhores padrões. “A conveniência sempre vendeu, e tornar a sustentabilidade conveniente é um incentivo poderoso”, consideram as autoras do estudo. Por exemplo, a IKEA baniu os sacos de plástico em 2008, retirando ao consumidor o peso da escolha entre papel e plástico.4 – Baixar o preço dos produtos sustentáveis. Os consumidores não devem pagar mais por terem um comportamento virtuoso. Em Portugal, o portal Naturlink lançou este ano a o Consumo 3.0, forma de consumo patrocinado que diminui o custo dos produtos para quem compra.5 – Subornar descaradamente.  “Pago ao meu filho um dólar por cada livro que lê. Não me arrependo. Antes ele não lia e agora é um leitor compulsivo”, confessou Bennett no Greenfest. O site Recyclebank recompensa os seus mais de 2 milhões de utilizadores por reciclarem, atribuindo-lhes pontos que dão descontos na compra de outros produtos.6 – Castigar. “A vergonha, o estigma e a culpa são motivadores poderosos, desde que na medida certa”, avisam Bennett e Williams. A cadeia de ginásios norte-americana Gym-Pact cobra menos a quem vai mais vezes ao ginásio, e mais a quem vai menos.7 – Inovar e criar melhores produtos. Muitos encaram a sustentabilidade como um retrocesso. Solução? Continuar a inovar e desenvolver produtos sustentáveis com elevada performance, como é o caso “das calças Levi’s WaterLess, cujo fabrico envolve poupanças de água de 28% a 96%”, ou dos ténis Nike, “mais confortáveis e com melhor desempenho, e feitos de materiais sustentáveis”, refere o estudo Mainstream Green.

8 – Largar a “bengala”. A luxuosa loja Barneys, em Nova Iorque, promoveu os seus primeiros adereços sustentáveis de moda com a etiqueta “eco-friendly”. Os objectos não tiveram saída. Julie Gilhart, então directora de moda da empresa, decidiu retirar a menção à sustentabilidade. As vendas dispararam. Conclusão? O “verde” não deve ser o atributo principal do produto.9 – Apelar ao ego masculino. As autoras sugerem que se publicite os produtos “eco-friendly” de maneira “male ego-friendly”. A promoção inicial do carro eléctrico Nissan Leaf (que, de facto, é eco-friendly) foi um fiasco  - além do nome, os cartazes mostravam um urso polar, recifes de coral, etc.. A campanha seguinte foi mais “amiga do ego masculino”: o ciclista Lance Armstrong, que derrotou um cancro e venceu sete vezes o Tour, deu a cara pelo Leaf.

10 – Tornar a sustentabilidade tangível. “Temos de encontrar formas de ajudar o consumidor a ver o invisível e a calcular as equações complicadas”, dizem as autoras. Segundo elas, a maioria dos condutores norte-americanos não está ciente da quantidade de CO2 que os carros emitem, nem dos efeitos prejudiciais desse gás. Como mudar comportamentos e diminuir esta poluição? “O valor do seguro dos carros é independente do número de quilómetros percorridos. Mas o que é que aconteceria se o preço dependesse da quilometragem?”, questionam.11 - Simplificar. Nos Estados Unidos a Comissão Federal do Comércio eliminou 300 rótulos ambientais. Bennett considera que, no máximo, bastavam cinco.12 – Hedonismo à frente do altruísmo. “Os humanos respondem de forma positiva a apelos que invoquem prazer e diversão”, notam as autoras. Por exemplo, a Wolkswagen, numa das suas sedes, transformou o piso das escadas em teclas de piano, com o objectivo de aumentar a actividade física dos trabalhadores.Um dos slogans da Nike abarca muitas destas regras: “Vamos ser tão amigos do ambiente que terás vontade de vomitar”. 

Nota: este post compila dois artigos que escrevi para as revistas Gingko e Recicla.

Mais sobre mim

foto do autor

Siga-nos no Facebook

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D