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Arca de Darwin

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

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Arca de Darwin

31
Out18

O que realmente significa "partilhar" ADN com outras espécies?

Arca de Darwin

De que falamos quando falamos de ADN partilhado?

Quem já olhou directamente para os olhos de um chimpanzé (Pan troglodytes) poderá não ter dificuldade em aceitar que nós, Homo sapiens, partilhamos com ele 98.8% do nosso ADN. A nossa posição relativa na árvore da vida fica ainda mais clara quando metemos ao barulho os restantes grandes símios. Também partilhamos 98.8% de ADN com os bonobos (Pan paniscus), e estas três espécies diferem 3.1% dos orangotangos (Pongo sp.), ou seja, os chimpanzés são mais "parecidos" connosco do que com os orangotangos.

Até aqui, tudo bem. Mas já é mais difícil aceitar que partilhamos 60% de ADN com uma banana! OK, tivemos um antepassado comum há 1,6 mil milhões de anos, mas isso é muito tempo... Também é comum a informação de que os humanos partilham 99.99% do ADN com os outros humanos, mas sabemos dos tempos do secundário – e das várias séries do CSI – que o máximo que partilhamos é 50%, e que isso só acontece com os nossos pais e os nossos irmãos.

É, então, claro que há "medidas" diferentes. Há quem tenha determinado que a diferença entre nós e os chimpanzés é de "apenas" 75%.

Em geral, as comparações entre espécies referem-se às porções de ADN com genes que codificam proteínas. Estima-se que tanto os humanos como os chimpanzés tenham entre 20 000 e 25 000 genes. Ora, os genes que codificam proteínas representam apenas 1 a 2% do nosso ADN! É certo que esta é a parte mais "importante", mas o restante ADN não é só "lixo" (como foi cientificamente apelidado) e tem, por exemplo, funções de regulação.

A parte codificante nos humanos conta com 3.2 mil milhões de pares de bases (aqueles quatro nucleotídeos com nomes engraçados: adenina (A), timina (T), guanina (G) e citosina (C)). No que toca à nossa partilha com os chimpanzés, apenas 2.4 mil milhões de bases estão perfeitamente alinhadas – e assim se chega ao valor de 75%.

Seja qual for a fórmula para medir a proximidade, a verdade é que partilhamos inúmeros genes com muitos outros seres do planeta. Afinal, temos todos um antepassado comum. E é graças a essa partilha que animais como o nemátodo, a mosca-da-fruta e a ratazana são tão bons modelos para estudar o Homo sapiens. E nesse contexto, os genes individuais são mais importantes do que qualquer percentagem. Por exemplo, o mesmo gene pode funcionar de maneira diferente em espécies diferentes (e até em indivíduos diferentes). Em 2015, cientistas anunciaram que teriam encontrado um único gene que explicaria a diferença de tamanho entre o nosso cérebro e o do chimpanzé (convém lembrar que temos o triplo dos neurónios no cérebro).

Mas o mesmo gene também pode ter um funcionamento semelhante. A mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster), já "venceu" seis prémios Nobel da Medicina e Fisiologia (em 1933, 1946, 1995, 2004, 2011 e 2017). Dizem que partilhamos 60% do nosso ADN com este insecto, mas a "percentagem" que realmente interessa aos cientistas que a usam como modelo é que estima-se que cerca de 75% das doenças genéticas humanas tenham um equivalente na mosca-da-fruta – incluindo Alzheimer, síndrome de Down, diabetes, autismo e vários tipos de cancro.

Outro exemplo da importância de cada gene vem da investigação em transplantes. O tamanho dos órgãos dos porcos (com quem, dizem, partilhamos 98% do ADN) é muito semelhante aos dos humanos. No entanto, um único gene é responsável pelo insucesso dos transplantes de órgãos de porco em humanos: o "galactose-alpha-1,3,galactotransferase". Como explicou o geneticista Chris Moran à ABC, "tirando nós e os outros grandes símios, todos os mamíferos têm uma versão activa deste gene, que faz com que as células fiquem revestidas com um antigénio (uma molécula à qual o nosso sistema imunitário reage). Isto significa que se um tecido de porco for transplantado para um humano, o nosso sistema imunitário irá atacá-lo e rejeitá-lo. Para que isso não aconteça os cientistas estão a modificar a genética dos porcos, eliminando o gene galactose-alpha-1,3,galactotransferase." Certo é que os primeiros embriões híbridos porco-humano já foram criados.

09
Abr12

Madonna, beijos e bonobos

Arca de Darwin
Este fim-de-semana, via twitter, Madonna pediu a Britney Spears que a beijasse outra vez. A primeira vez que o fizeram foi há nove anos e causou forte impacto nos media. Hoje, os beijos na boca entre raparigas estão na moda.Uma das explicações para esta tendência é o desejo de imitar ídolos da música e cinema, como as duas já mencionadas, mas também como Sandra Bullock e Scarlett Johansson, ou Kate Perry e as raparigas da fila da frente nos seus concertos durante a música I kissed a girl. Verta Taylor e Leila Rupp apontam outras razões no artigo Raparigas heterossexuais a beijarem-se (Straight girls kissing), publicado na revista Contexts, da American Sociological Association, em 2010. Uma dessas razões, porventura a mais determinante, é a intenção de captar a atenção dos rapazes que, neste cenário, têm papel dominante.O uso de comportamentos homossexuais como ferramenta social entre fêmeas primatas não é exclusivo do Homo sapiens. As fêmeas de bonobo (Pan paniscus), principalmente as que ocupam os degraus mais baixos da hierarquia social, também o fazem. E fazem-no para subir na hierarquia através do reforço de alianças com fêmeas mais “populares”, aumentando as hipóteses de se conseguirem reproduzir. Esta é a conclusão de um estudo publicado em Março deste ano no site da revista Nature, da autoria de  Zanna Clay e Klaus Zuberbulher. Os dois cientistas ainda observaram que, durante os contactos genitais, os chamados gritos de cópula também eram usados para subir na escada social, e subiam de tom se a fêmea alfa estivesse a assistir.

Foto: Kabir Bakie

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