Tinha alguma curiosidade em ver como ficou o Jardim do Campo Grande, em Lisboa, entretanto rebaptizado Jardim Mário Soares. Estudei ali ao lado, na Faculdade de Ciências, e as únicas vezes que atravessei a rua até ao jardim foi para a ir à livraria do Caleidoscópio, que tinha livros sobre ciência que dificilmente se encontravam em outro local. O Jardim propriamente dito, nunca me atraiu.
Daí que, como disse, estava curioso. A verdade é que depois da renovação que começou em 2013 e terminou (?) no ano passado, o jardim está mais limpo, mais arranjado, e tem mais gente a usufruir dele. O lago do extremo Sul não tem água... Há campos de padel, um ginásio, um parque para cães, um parque infantil, ecopista para bicicletas e trotinetes, esculturas, esplanadas, e os «mesmos» barcos a remos (actividade que ali se estreou em 1869).
Mas continua pouco atractivo enquanto jardim. Porquê? O Campo Grande nunca foi pensado para ser de facto um Jardim. Se recuarmos ao século XIV vemos ali o rei de Castela a montar o cerco a Lisboa. Dois séculos mais tarde, D. Sebastião usa o Campo para passar revista às tropas antes de ir para a fatídica batalha de Alcácer Quibir. No final do século XVIII, Dona Maria começa a planear construir ali uma zona arborizada com um circuito para corridas de cavalos, as quais começaram em 1816 (a Sociedade Hípica Portuguesa tem ainda um espaço do outro lado da estrada, por trás da Faculdade de Ciências). Depois Pina Manique mandou projetar um Passeio Público que viria a receber várias feiras. De então para cá ganhou uma amálgama de «equipamentos»: ringue de patinagem e campos de ténis (1945), piscina (1964), Centro Comercial Caleidoscópio (1974), Café Concerto (2002), parque infantil (2005 - renovação).
O entretenimento e o espírito de Passeio Público persistem enquanto alma do Jardim do Campo Grande: um espaço para as pessoas se entreterem, para se verem e serem vistas. É mais uma «zona de serviços» e não tanto uma «zona verde». Nunca foi um jardim pensado para se desfrutar propriamente da natureza, como o Jardim Botânico ou o Jardim Gulbenkian, com os seus recantos tranquilos.
Além disto, e de se ter que atravessar uma estrada com 6 faixas de rodagem para passar da parte Sul para a parte Norte, falta também alguma harmonia para tornar o jardim mais atractivo: a arquitectura do Caleidoscópio não combina com a do ginásio; as estátuas dos reis não combinam com a da Luísa Todi; o som do padel não combina com um descanso ou leitura tranquilos; até os pombos não combinam com os gaios que não combinam com os periquitos-de-colar, mas este é um problema comum a quase todos os jardins de Lisboa.