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Arca de Darwin

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

Arca de Darwin

25
Jul13

Evolução, invasoras e a publicação anteriormente conhecida por “jornal de referência”

Arca de Darwin
aqui falei da relação difícil entre o jornalismo e a natureza. Essa dificuldade estende-se a outras secções dos media e tende a agravar-se à medida que cada vez mais bons jornalistas são despedidos, e depois substituídos por estagiários não remunerados, que ficam apenas três meses nas redacções. As duas “gafes” seguintes ocorreram no jornal Público – supostamente o diário nacional de referência –, uma no final de Junho e outra em meados deste mês.

Chorão-das-praias, Ericeira

A mais recente não é da autoria de um jornalista – é de uma engenheira hortofrutícola e arquitecta paisagista –, mas passou o crivo da edição. Com o título Vamos cultivar suculentas e ilustrado com a foto de um chorão-das-praias, o artigo começa assim: “Erva-pinheira, arroz-dos-telhados ou chorões-das-praias são apenas alguns exemplos destas plantas, que, por serem fáceis de cuidar, são ideais para novatos. Podem ser implantadas em vasos, floreiras ou jardins”. Na verdade, o chorão-das-praias (Carpobrotus edulis) não pode. Porquê? É ilegal, visto tratar-se de uma espécie exótica e invasora. (mais informação sobre este artigo, aqui)

Melro, Parque das Conchas, Lisboa

A mais antiga é um atropelo ao evolucionismo (e não só). Com o título Melros da cidade evoluem e ficam mais tímidos, começa assim: “A revolução industrial teve o condão de acelerar o crescimento das cidades, com um impacto incontornável no mundo natural. Um dos primeiros efeitos observados, que hoje é um exemplo clássico da adaptação de uma espécie ao ambiente, aconteceu quando uma população de borboletas, em poucas gerações, passou a ter asas pretas em vez de brancas graças à fuligem produzida pelas fábricas”. Não percebo bem o que o autor quer dizer, mas o que aconteceu foi que a população de borboletas já tinha variantes com asas pretas e outras com asas brancas (as predominantes antes da revolução industrial). A poluição que depois surgiu escureceu os locais onde as borboletas pousavam. Nestas condições, a cor preta das asas servia de camuflagem, aumentando a probabilidade de sobrevivência desta variante. As brancas destacavam-se no preto e estavam mais vulneráveis aos predadores.Então, e os melros? A escolha do adjectivo “tímido” contraria o que qualquer pessoa facilmente constata quando compara o comportamento desta ave na cidade com o comportamento dela no campo: nos jardins da cidade quase que vêm comer à mão dos humanos; no campo fogem assim que detectam a presença humana. O estudo que serve de base ao artigo do Público refere que os melros da cidade evitam objectos novos no seu habitat, enquanto que os do campo aproximam-se destes elementos estranhos.E assim vai o jornalismo de referência.
23
Dez12

Primatas, racismo e homofobia

Arca de Darwin

Diz o jornal Expresso (22/12/2012): “Adeptos recusam negros e gays. FUTEBOL. Estamos no século XXI e qualquer informação chega num ápice a todo o mundo, mas nem por isso estão extintas as reações primatas: o maior grupo de adeptos do Zenit de São Petersburgo – equipa de Bruno Alves, Witsel e Hulk –, o Landscrona, emitiu um manifesto onde pede ao clube que não contratar atletas negros e homossexuais (...)”.Ora, nós, humanos, somos primatas. Logo, é impossível não nos comportarmos como... primatas. O comunicado é racista e homofóbico, e é louvável criticar essas estúpidas atitudes. Mas não havia necessidade de fazê-lo usando o termo “primata” de forma pejorativa (e com erros gramaticais). Até porque entre as mais de 400 espécies desta ordem, apenas uma é “racista” e/ou “homofóbica”: a Homo sapiens.

07
Dez12

Jornalismo irresponsável

Arca de Darwin

Em Portugal, jornalismo e Natureza têm relação difícil. É certo que já lá vai o tempo em que os meios de comunicação, sobre este tema, pouco mais noticiavam do que efemérides (extinção e descoberta de espécies) e efeitos das forças naturais, mas a maioria das reportagens sobre o património natural assenta em faits divers (nascimento de uma cria; animal que “saiu” do seu habitat e invadiu o espaço humano; etc..). A falta de treino em abordar o tema não justifica que, ao fazê-lo de forma mais “séria”, ponham-se de lado princípios éticos do jornalismo, como aconteceu numa recente reportagem da SIC Notícias (27 de Outubro)  intitulada "Aldeia em S. Pedro do Sul "aterrorizada" com ataques de lobos".Diz o jornalista na peça: “Há cerca de seis anos foi feito um repovoamento dos lobos na serra de São Macário”. Não foi. Nem na serra de São Macário nem em qualquer outro local de Portugal, nem há seis anos, nem noutra data qualquer. Aliás, em toda a Europa a expansão do lobo acontece de forma natural, sem repovoamentos.

Além dos factos errados – evitáveis se o jornalista, como lhe compete, recolhesse informação de outras fontes, por exemplo, biólogos -, a reportagem cria temor e insegurança nas populações que partilham o espaço com os lobos. Sem a participação e colaboração destas pessoas não é possível conservar esta e outras espécies, principalmente quando se trata de grandes predadores. Daí que os biólogos invistam, e muito, na sensibilização ambiental das gentes do campo. Esse trabalho é posto em causa pelo jornalismo sensacionalista, como refere Sara Roque, numa outra reportagem sobre os lobos e os pastores de Covas do Monte, publicada no fim-de-semana passado na revista Notícias Magazine, intitulada "Na guerra aos lobos não há vencedores". Sara “trabalha com o Grupo Lobo e, durante mais de uma década, monitorizou a vida deste grupo de predadores”, escreve o autor. E acrescenta: “Não dá a cara, mas fala: «Eu hei de continuar a trabalhar com estes animais e hei de continuar a ir para o terreno. Se os pastores reconhecerem o meu rosto numa revista, vão ver-me à partida como um inimigo e isso vai condicionar o meu trabalho.»”.

A directora executiva da revista, Catarina Carvalho, alheia a esta declaração, apela à leitura da peça num artigo cujo despropositado título é “Uma guerra civilizacional”. Segundo ela, esta “guerra civilizacional” opõe “o Portugal moderno das leis de protecção animal que esbarra no Portugal decadente e pobre, das aldeias abandonadas do interior”. No artigo que promove, este “Portugal moderno” que protege os animais é assim retratado: “Um incêndio em 2010 destruiu a maior parte da serra, reduzindo ainda mais as escassas zonas de conforto do Canis lupus signatus, nome científico da vertente ibérica. Entre 2007 e 2009, cinco parques eólicos foram construídos nas cumeadas que o lobo costumava ocupar. Abriram-se novas estradas, limparam-se os matos, os trilhos que poucos se aventuravam a fazer a pé são agora acessíveis aos automóveis. E o lobo cada vez mais acossado, empurrado para um canto”.

A forma como os lobos e os prejuízos que os seus ataques a rebanhos provocam às gentes de Covas do Monte são tratados nestes dois meios de comunicação mostra como ainda há muito a fazer na relação entre investigadores e jornalistas. Os primeiros têm de interiorizar que comunicar é parte importante do seu trabalho. Os segundos têm, pelo menos, de respeitar as regras base do jornalismo.

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