Uma das coisas que salta à vista na Irlanda é a vibrante, colorida e cuidada presença de flores nas ruas das cidades e aldeias, quer seja em jardins, canteiros ou cestos suspensos, tanto públicos como privados.

 

 

No último mês encontrei lagartas pertencentes a cinco espécies diferentes de borboletas. Resolvi juntá-las no mesmo post para destacar a variedade entre elas. E fico sempre fascinado com quão diferentes são das borboletas adultas.

Das cinco espécies, duas são de borboletas nocturnas — a Hyles euphorbiae e a Psilogaster loti. Nestes casos é difícil observar os adultos, mas as lagartas permitem saber que a espécie está presente naquela área.

 

Hyles euphorbiae

A borboleta deposita os ovos em eufórbias e a lagarta, assim que eclode, alimenta-se das cascas. Em seguida consome as folhas destas plantas, que são tóxicas, e (à semelhança desta) vai "reutilizar" os componentes tóxicos.

Pertence à família Sphingidae.

(Fui buscar a foto do adulto à Wikipedia.)

Imagem: Didier Descouens, CC BY-CA 4.0

 

Psilogaster loti

Como se o padrão colorido vermelho, laranja, amarelo preto e branco não fosse suficiente para dissuadir qualquer predador, a lagarta exibe ainda uns longos pêlos brancos.

Pertence à família Lasiocampidae.

 

Tenthredo scrophulariae

Tratando-se de uma vespa-serra, ordem Hymenoptera, é mais correcto falar de larva do que de lagarta.

O nome do género (Tenthredo) talvez lhe seja familiar: é dele que deriva o nome da orquídea erva-vespa-rosada, Ophrys tenthredinifera, que é polinizada por esta vespinha.

Pertence à família Tenthredinidae e à subordem Symphyta.

(Fui buscar a foto do adulto à Wikipedia.)

Imagem: Richard Avery, CC BY-SA 3.0

 

Melitaea deione

Já aqui falei da borboleta fritilária-comum (Melitaea deione), mas ainda não tinha encontrado a lagarta desta espécie.

 

Papilio machaon

Da borboleta cauda-de-andorinha (Papilio machaon) já tinha mostrado a lagarta, mas estas fotos talvez sejam um bocadinho melhores.

 

 

 

Esta enorme e lindíssima lagarta da borboleta-caveira (Acherontia atropos) estava hoje a passear no jardim Rio da Costa, em Odivelas.Por mais memorável que a lagarta seja – com os seus 12 a 13 centímetros de comprimento, espigão posterior, e vibrantes tons de verde, azul e amarelo – é a traça adulta que há muito faz parte do nosso imaginário: primeiro, pelo seu papel no filme O Silêncio dos Inocentes, de Jonathan Demme (1991), depois por colorir a capa do livro As Intermitências da Morte, de José Saramago (2005).

 

Qual a razão para estas associações tão tenebrosas? A resposta está no nome: a Acherontia atropos tem uma caveira desenhada no tórax.

Acherontia atropos, ilustração. Autor: Dr. F. Nemos

O adulto tem mais duas características bastante interessantes. A primeira é que emite um som bastante peculiar quando se sente ameaçado. A segunda é que gosta de mel! E costuma entrar nas colmeias para o roubar. O tamanho do adulto também é considerável: 9 a 13 centímetros de envergadura. A lagarta alimenta-se da rama de plantas da família Solanaceae, como a batateira e o tomateiro.Esta borboleta da família Sphingidae voa entre Maio e Outubro, e tem duas gerações. Migradora, existe na Europa, África e Ásia. Gravei um vídeo da lagarta: https://youtu.be/fIs_IRT2HFA

 

O padrão amarelo e preto da lagarta da mariposa Tyria jacobaeae anuncia a sua perigosidade aos potenciais predadores. O sabor amargo e os componentes tóxicos (alcalóides) adquire-os através da planta de que se alimenta – a tasneira (Senecio jacobea), também conhecida por tasna ou erva-de-São-Tiago –, também ela tóxica e perigosa para o gado.

Lagarta da mariposa Tyria jacobaeae, Santa Clara-a-Velha, Odemira

Daí que esta mariposa, originária da Europa e da Ásia, foi introduzida nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Austrália para controlar a tasneira (na Austrália e  Nova Zelândia a legislação obriga os agricultores a eliminar esta planta). O apetite das lagartitas é tão voraz que no caso de não terem mais plantas disponíveis viram-se para o canibalismo.

Na fase adulta a Tyria jacobaeae apresenta as asas coloridas de vermelho e cinzento. Tem hábitos essencialmente nocturnos, mas por vezes também está activa durante o dia.

Foto: Sander van der Molen

À medida que o Outono se aproxima os ovos das borboletas dão lugar às lagartas e estas, por sua vez, às pupas. Na fase adulta são fáceis de observar – fotografei a maioria das espécies aqui apresentadas em jardins urbanos –, mas as lagartas e as pupas confundem-se com folhas e ramos. Daí que fui até ao Borboletário do Museu Nacional de História Natural, no Jardim Botânico de Lisboa, onde, com a preciosa ajuda de quem lá trabalha, encontrei as duas lagartas e a pupa (ou crisálida) em baixo.

Cauda-de-andorinha (Papilio machaon)

Lagarta

Adulto

Borboleta-zebra (Iphiclides podalirius)

Lagarta

Crisálida

Adulto

Borboletário