O caimão (Porphyrio porphyrio) é uma das aves mais bonitas, imponentes e ameaçadas da nossa fauna. A primeira vez que ouvi falar deste bicho foi durante o curso de biologia, no início dos anos noventa. Numa visita de estudo à Ria Formosa, no Algarve, o professor informou-nos que se tratava de uma das espécies mais raras do país, e que apenas existiam cerca de vinte indivíduos. “Vamos ali ao campo de golfe ver se encontramos algum”, disse-nos. Por mais estranho que pareça, a verdade é que ao fim de dois ou três minutos lá encontrámos um, a passear descontraidamente pelo green, por certo confiando na perícia dos golfistas.
Décadas antes o caimão habitava uma vasta área da costa portuguesa, do Algarve até ao Baixo Mondego. A caça e a transformação das zonas húmidas que habitava em terrenos agrícolas quase dizimaram a sua população. O declínio da agricultura a partir dos anos 80 devolveu-lhe o habitat e, aos poucos, com a chegada de indivíduos vindos do estrangeiro, a população algarvia recuperou. Na Reserva Natural do Paúl de Arzila, iniciou-se em 1998 um projecto de conservação que incluiu reprodução em cativeiro, reintrodução e melhoria do habitat. Actualmente a espécie já reocupou a área histórica de distribuição.