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Arca de Darwin

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

"Look deep into nature, and then you will understand everything better", Albert Einstein

Arca de Darwin

22
Mai13

Dia Internacional da Biodiversidade

Arca de Darwin
“Mas por muitas que sejam as maneiras de estar vivo, há certamente muito mais maneiras de estar morto, ou melhor, de não estar vivo”.

Richard Dawkins, em O Relojoeiro cego (1986).

As espécies que hoje existem são o resultado de milhões de anos de evolução. Os seus antepassados sobreviveram a alterações ambientais, como as provocadas pela queda de meteoritos ou pelas glaciações, e também por isso merecem a nossa admiração. Pelo caminho ficaram inúmeras espécies que não conseguiram adaptar-se e deixar descendência.

Garça-real, Silves

Desde que a vida se formou na Terra, a Natureza experimentou ao acaso incontáveis combinações de genes, mas só algumas resultaram em organismos viáveis. Mais do que uma melhor ou pior herança genética, os principais desafios que a biodiversidade actual enfrenta são-lhe colocados pelo Homo sapiens: a destruição de habitat; a caça; a introdução de espécies exóticas.

Este ano o Dia Internacional da Biodiversidade alerta para a importância da relação entre a água e a biodiversidade, lembrando a importância da primeira para a sobrevivência da humanidade, e o papel da segunda na regulação dos ecossistemas.
14
Dez12

A evolução do olho

Arca de Darwin
Um artigo publicado em Agosto passado no Biology of Sex Differences conclui que os olhos dos homens são mais sensíveis a pequenos detalhes e a objectos que se movem a grande velocidade, e que os das mulheres são mais sensíveis a cores. "Uma explicação possível é que no cérebro encontram-se receptores da hormona masculina, a testosterona, e a maior concentração desta hormona está na parte superior do cérebro – o córtex cerebral - que é a principal zona visual", explica Isaac Abramov, um dos autores do estudo, em entrevista à BBC. “Os homens, no seu papel de caçadores, evoluíram as capacidades que permitiam avistar à distância uma presa ou um animal que pudesse representar uma ameaça com maior precisão, enquanto as mulheres aperfeiçoaram as capacidades para melhorar desempenho como colectoras”, acrescenta a jornalista Laura Plitt. “Descobrir” que os homens são mais “sensíveis” à velocidade e as mulheres às cores não parece grande feito. Mas, pela primeira vez, propor que o complexo olho é um produto da evolução, já é algo assinalável. E assustador!“Supor-se que o olho, com todas as suas peças engenhosas e inimitáveis para ajustar o foco a diferentes distâncias, para admitir diferentes quantidades de luz e corrigir aberrações esféricas e cromáticas, possa ter sido formado através de selecção natural parece, confesso-o espontaneamente, absurdo no mais alto grau possível”, escreveu Charles Darwin em A Origem das Espécies. Quinze anos antes da publicação do livro, Darwin pediu a opinião da esposa sobre um ensaio que escrevera e onde sugeria que o olho humano fora “possivelmente adquirido por selecção gradual de pequenos desvios, mas sempre úteis”. “Uma grande pressuposição”, anotou ela. De facto, anos após a publicação da obra, Darwin escreveu a um colega. “O olho ainda hoje provoca-me calafrios, mas, quando penso nas belas gradações que são conhecidas, a razão diz-me que devo superar estes calafrios”.

Estes episódios sobre o trabalho do Pai da Evolução encontram-se no livro A Escalada do Monte Improvável, onde o autor, o biólogo Richard Dawkins, , entre outras matérias, narra a evolução da preciosa estrutura que é o olho. Diz ele: “Eu não ficaria surpreendido se o ancestral comum a todos os animais sobreviventes, que talvez tenha vivido há 1000 milhões de anos, possuísse olhos. Talvez ele tivesse apenas algum tipo de mancha rudimentar de pigmento fotossensível e só conseguisse distinguir o dia da noite”.

Nautilus. Foto: J. Baecker

Olhando para as “belas gradações que são conhecidas” vemos que alguns animais unicelulares, medusas e estrelas-do-mar não formam imagens, nem percebem de que direcção vem a luz: apenas detectam a presença dela. Dawkins aponta a especialização na captura de fotões como o próximo upgrade no desenvolvimento do olho, que passa por aumentar o número de camadas de pigmento. Mas ainda estamos longe do olho que “provoca calafrios”: “É preciso alguma sensibilidade, ainda que rudimentar, à direcção de onde vem a luz e à direcção, por exemplo, de sombras ameaçadoras. O modo mais fácil de se conseguir isso é forrar uma fotocélula, apenas de um dos lados, com uma tela escura”. Com várias destas fotocélulas forradas, o passo seguinte é curvar a tela, para que estejam voltadas para direcções diferentes. “Uma superfície curva convexa pode dar origem, eventualmente, ao tipo de olho composto que os insectos possuem”, avança Dawkins, que logo alerta para um problema: este olho vê de mais – há muitos raios de luz a entrar em todas as direcções, o que não permite focar uma imagem. Solução? Tornar a taça resultante da superfície curva mais funda e estreitá-la progressivamente. “Olhos com orifício de vários graus de aperfeiçoamento são frequentes no reino animal. O mais extremo dos olhos com orifício é o do enigmático molusco Nautilus, aparentado com as extintas amonites”, conta o autor. A “evolução”, não fica por aqui - há outros “melhoramentos”, como ampliar a imagem que passa pelo orifício -, mas esta “estória” já afasta os calafrios, à semelhança deste vídeo protagonizado por Sir David Attenborough.
03
Nov12

Memes e Fábrica Simões

Arca de Darwin
“A maior parte daquilo que o homem tem de pouco usual pode ser resumido numa palavra: «cultura»”. É assim que o biólogo Richard Dawkins justifica a singularidade do Homo sapiens, no livro O gene egoísta (1976). E acrescenta: “A transmissão cultural é análoga à transmissão genética, no sentido de que (...) pode dar origem a uma forma de evolução”. O alvo desta evolução não são os genes, mas sim os memes, definidos por Dawkins como “unidades de transmissão cultural”. Os memes replicam-se e evoluem a velocidade muito superior à da evolução genética. Uns perduram, outros extinguem-se rapidamente. Exemplos: “Melodias, ideias, lemas, modas de vestuário, maneiras de fazer potes ou de construir arcos”, enumera Dawkins.

A singularidade do homem passa também por intervir, bem ou mal, na sobrevivência de certos memes – que, tal como os genes, são “replicadores inconscientes e cegos” –, como os que formam o património nacional (edifícios, espécies, paisagens, ideias...).

Esta introdução vem a propósito da recente visita que fiz ao que resta da Fábrica Simões, em Benfica, e de uma nova página na Arca - Memes -, onde encontra uma galeria sobre a Fábrica Simões.

Os moradores da freguesia lisboeta lutaram pela preservação da memória desta empresa têxtil – fundada em 1907 e encerrada em 1987 –, um dos últimos exemplares de arquitectura industrial na capital. A Fábrica chegou a empregar 1.500 trabalhadores, alguns dos quais crianças, mas também inovou na protecção social e cuidados de saúde. Encontra “réplicas” dessas memórias aqui, aqui, e aqui.

O futuro passa pela construção no local da “Villa Simões”, loteamento de 48.000 metros quadrados. Além de centenas, o projecto contempla “uma vertente de preservação da memória da antiga Fábrica Simões, por via da criação de uma valência museológica de arqueologia industrial, lê-se no Boletim Municipal de Lisboa (nº. 834, 2º. suplemento, Fevereiro de 2010). 
17
Ago12

A canibal

Arca de Darwin
O louva-a-deus (Mantis religiosa) é um predador voraz de várias espécies de insectos que captura de emboscada, prendendo-os com as fortes patas anteriores transformadas em garras (e que lembram a pose de alguém a rezar, facto que está na origem do seu nome). A refeição começa pela cabeça. No caso das fêmeas de louva-a-deus, este hábito alimentar e decapitador ocorre também durante a cópula.

“Durante”, porque perder a cabeça não limita a performance sexual do macho. Pelo contrário. “Como a cabeça do insecto é sede de alguns centros nervosos inibitórios, é possível que a fêmea melhore o desempenho sexual do macho ao comer-lhe a cabeça. Se assim for, este é um ganho secundário. O benefício primário é que ela obtém uma boa refeição”, lê-se em O gene egoísta, de Richard Dawkins. Mas que genes são estes que transformam o pobre macho em “boa refeição”? Ao que parece, são os que o levam a investir – e muito! – na descendência. Segundo Dawkins: “(Os machos) são usados como comida para ajudar a produzir os ovos que depois serão fertilizados, postumamente, pelos seus próprios espermatozóides armazenados”.

Note-se que cada fêmea põe até 400 ovos, o que implica que os genes do macho perduram em muitos louvadeuzinhos. Além disso, a sua ingestão pela fêmea não é certa, não só porque ele ter muito cuidado durante a cópula, mas também porque este comportamento de canibalismo ser mais comum em animais criados em cativeiro, ainda que também ocorra na natureza.

O louva-a-deus mede 5 a 7,5 centímetros e tem o corpo verde ou castanho.