“Meu país desgraçado!... E no entanto há Sol a cada canto e não há Mar tão lindo noutro lado. Nem há Céu mais alegre do que o nosso, nem pássaros, nem águas ...”
Seria apenas mais uma relação entre um poeta e a sua musa, mas produziu algo mais: a paixão de Sebastião da Gama (1924-1952) pela Serra da Arrábida “fundou” a Liga para a Protecção da Natureza (LPN), em 1948.Um ano antes, confrontado com a destruição da Mata do Solitário, Gama escreveu a Miguel Neves, entomólogo da Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas. A carta, em papel timbrado da “Pousada do Portinho da Arrábida – Telefone 607”, dizia:“
Senhor Engenheiro Miguel NevesSocorro! Socorro! Socorro! O José Júlio da Costa começou (e já vai adiantada) a destruição de metade da Mata do Solitário que lhe pertence. Peço-lhe que o trave imediatamente. Se for necessário, restaure-se a pena de morte. SOCORRO!”Miguel Neves reencaminhou a carta para Baeta Neves, engenheiro silvicultor e assistente do ISA. “Este, aproveitando a realização do Congresso de Botânica Peninsular, noutra pérola do nosso património, a Serra do Gerês, desencadeou a luta apoiado pela fina flor dos cientistas e técnicos da altura – agrónomos, silvicultores, biólogos (botânicos e zoólogos) das Universidades e dos Serviços do Estado – e oficializou, em Junho de 1948, a associação Liga para a Protecção da Natureza”, conta Eugénio Sequeira, ex-presidente e actual vogal desta ONGA, no livro
60 Anos Pela Conservação da Natureza (2008).
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Gama, professor licenciado em Filologia Românica, ficou conhecido como o “poeta da Arrábida”. À sua musa dedicou o poema
Serra Mãe. Eis um excerto:“
O agoiro do bufo, nos penhascos, foi o sinal da paz. O Silêncio baixou do Céu, Mesclou as cores todas o negrume, O folhado calou o seu perfume, E a Serra adormeceu”.
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