A 3.ª edição do Festival MURO, organizado pela Galeria de Arte Urbana (GAU) assentou arraiais na freguesia do Lumiar entre 23 e 26 de Maio. Desta feita o tema foi a música, escolha que se deveu à toponímia da área e à aposta em intervenções multidisciplinares.
Assim, além da arte urbana que ocupou outros suportes para lá das empenas, o festival contou com workshops, conferências, animação de rua, concertos, teatro e visitas guiadas. No conjunto, as várias vertentes contribuem para diversificar a oferta cultural de certas zonas da capital ― agora o Lumiar, antes o Bairro Padre Cruz (2016) e Marvila (2017) — e para valorizar e revitalizar o espaço público.
O festival já acabou, mas há muito para ver. E entre as novas peças de arte urbana encontram-se algumas mais antigas, como a altíssima empena de Francisco Vidal, pintada no âmbito da Lisbon Week 2017 (iniciativa que, no Lumiar, também incluiu esta obra).
Outras precisaram de muito mais do que 3 dias. O destaque vai para o talude megalómano de RAF (Rui Ferreira), e que foi inspirado em Gaudí e Zaha Adid. A obra de RAF, a convite da Sociedade Gestora da Alta de Lisboa, quebrou a fronteira que existia entre dois bairros.
https://youtu.be/mZcTow_cFZE
Voltando ao início da visita guiada, a primeira peça pertence ao italiano Fulviet (Fulvio Capurso), arquitecto, ilustrador, pintor, investigador e professor de desenho. Fica numa espécie de tapume, junto à entrada do Metro e colado ao Centro Universitário Padre António Vieira, espaço que o artista visitou e onde se inspirou no trompete que ouviu ser tocado e nos pássaros que cantavam.
Do outro lado da rua surge a primeira de 24 caixas de electricidade pintadas pelo venezuelano Flix.
Mais à frente, Regg (Tiago Salgado) reinterpreta "Mãos em Oração", gravura do século XVI, de Albrecht Durer.
Chegados à rotunda, no final desta Estrada da Torre, há muito para ver. O fado chega pelas mãos de Catarina Glam com "A Fadista", onde se lê "De quem eu gosto, nem às paredes confesso", e que também teve uma versão esculpida em madeira (que não cheguei a ver). O português El Tvfer One traz-nos a natureza e as memórias de ouvir fado na casa da avó. Costah homenageia a cantora Dina com uma obra onde se lê "Há sempre música no ar".
Na próxima rotunda encontramos as cores fortes e os traços simples da brasileira Muzai nas paredes de uma escola.
Ainda em ambiente escolar, o colectivo italiano NSN997 (Nuovo Stile Napoletano) promove o seu "Padrão Positivo" e a prática de boas maneiras. Ao lado, um mural pintado por crianças alerta para a necessidade de proteger o planeta.
O projecto "Feli-Cidade", de Carolina Caldeira, começou dias antes, quando quem quisesse podia passar pelo Largo das 6 Marias e responder à pergunta "O que te faz feliz?". A resposta escrita era colocada numa caixa de correio e, mais tarde, transformada em póster e afixada na parede.
Ao virar da esquina, na R. Maria do Carmo Torres (fadista), mais um projecto original, desta feita a cargo do colectivo de fotógrafos Agência Calipo, que espalhou pela área retratos do bairro e dos seus moradores.
Como se descessem dos céus, as fantásticas andorinhas de Pantónio envolvem quem passa num remoinho formado pelas empenas de quatro edifícios.
Ali ao lado, junto à Escola de Boxe, encontrámos o simpático San Spiga, que veio da Argentina e que trouxe consigo alguns cartazes...
Oze Arv e Tamara Alves também estiveram presente.
O português Third, acompanhado pelas instalações acústicas de Tó Trips, conta-nos em vários painéis a história de Maria Alice, que nasceu Glória Mendes em 1904 em Paião, e que aos 14 anos veio para Lisboa. Esta fadista tornou-se a primeira "Menina da Rádio", e também cantou em África e no Brasil. Morreu com 92 anos, no Lumiar, onde tem uma rua com o seu nome no Bairro da Cruz.
Junto às cores tropicais do português mynameisnotSEM encontramos o preto-e-branco da ilusão escultórica do italiano Peeta (o local de onde fotografei é a posição ideal para observar esta obra).
E terminamos como começámos: a homenagem de João Samina a Carlos Paredes.