Um artigo publicado em Agosto passado no
Biology of Sex Differences conclui que os olhos dos homens são mais sensíveis a pequenos detalhes e a objectos que se movem a grande velocidade, e que os das mulheres são mais sensíveis a cores. "Uma explicação possível é que no cérebro encontram-se receptores da hormona masculina, a testosterona, e a maior concentração desta hormona está na parte superior do cérebro – o córtex cerebral - que é a principal zona visual", explica Isaac Abramov, um dos autores do estudo, em entrevista à BBC. “Os homens, no seu papel de caçadores, evoluíram as capacidades que permitiam avistar à distância uma presa ou um animal que pudesse representar uma ameaça com maior precisão, enquanto as mulheres aperfeiçoaram as capacidades para melhorar desempenho como colectoras”, acrescenta a jornalista Laura Plitt. “Descobrir” que os homens são mais “sensíveis” à velocidade e as mulheres às cores não parece grande feito. Mas, pela primeira vez, propor que o complexo olho é um produto da evolução, já é algo assinalável. E assustador!“Supor-se que o olho, com todas as suas peças engenhosas e inimitáveis para ajustar o foco a diferentes distâncias, para admitir diferentes quantidades de luz e corrigir aberrações esféricas e cromáticas, possa ter sido formado através de selecção natural parece, confesso-o espontaneamente, absurdo no mais alto grau possível”, escreveu Charles Darwin em
A Origem das Espécies. Quinze anos antes da publicação do livro, Darwin pediu a opinião da esposa sobre um ensaio que escrevera e onde sugeria que o olho humano fora “possivelmente adquirido por selecção gradual de pequenos desvios, mas sempre úteis”. “Uma grande pressuposição”, anotou ela. De facto, anos após a publicação da obra, Darwin escreveu a um colega. “O olho ainda hoje provoca-me calafrios, mas, quando penso nas belas gradações que são conhecidas, a razão diz-me que devo superar estes calafrios”.
Estes episódios sobre o trabalho do Pai da Evolução encontram-se no livro
A Escalada do Monte Improvável, onde o autor, o biólogo Richard Dawkins,
, entre outras matérias, narra a evolução da preciosa estrutura que é o olho. Diz ele: “Eu não ficaria surpreendido se o ancestral comum a todos os animais sobreviventes, que talvez tenha vivido há 1000 milhões de anos, possuísse olhos. Talvez ele tivesse apenas algum tipo de mancha rudimentar de pigmento fotossensível e só conseguisse distinguir o dia da noite”.
Nautilus. Foto: J. Baecker
Olhando para as “belas gradações que são conhecidas” vemos que alguns animais unicelulares, medusas e estrelas-do-mar não formam imagens, nem percebem de que direcção vem a luz: apenas detectam a presença dela. Dawkins aponta a especialização na captura de fotões como o próximo upgrade no desenvolvimento do olho, que passa por aumentar o número de camadas de pigmento. Mas ainda estamos longe do olho que “provoca calafrios”: “É preciso alguma sensibilidade, ainda que rudimentar, à direcção de onde vem a luz e à direcção, por exemplo, de sombras ameaçadoras. O modo mais fácil de se conseguir isso é forrar uma fotocélula, apenas de um dos lados, com uma tela escura”. Com várias destas fotocélulas forradas, o passo seguinte é curvar a tela, para que estejam voltadas para direcções diferentes. “Uma superfície curva convexa pode dar origem, eventualmente, ao tipo de olho composto que os insectos possuem”, avança Dawkins, que logo alerta para um problema: este olho vê de mais – há muitos raios de luz a entrar em todas as direcções, o que não permite focar uma imagem. Solução? Tornar a taça resultante da superfície curva mais funda e estreitá-la progressivamente. “Olhos com orifício de vários graus de aperfeiçoamento são frequentes no reino animal. O mais extremo dos olhos com orifício é o do enigmático molusco
Nautilus, aparentado com as extintas amonites”, conta o autor. A “evolução”, não fica por aqui - há outros “melhoramentos”, como ampliar a imagem que passa pelo orifício -, mas esta “estória” já afasta os calafrios, à semelhança
deste vídeo protagonizado por Sir David Attenborough.